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IMC: Faro assume gestão e traz ex-Burguer King e Popeyes para CEO

Ex-presidente da ALL, Alexandre Santoro volta ao Brasil após temporada de sete anos nos Estados Unidos em negócios da 3G

Frango Assado: IMC, também dona de operações nos EUA, mais Viena, e representações de KFC e Pizza Hut, deve focar expansão no Brasil (IMC/Divulgação)

Frango Assado: IMC, também dona de operações nos EUA, mais Viena, e representações de KFC e Pizza Hut, deve focar expansão no Brasil (IMC/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 15 de março de 2021 às 13h52.

Última atualização em 15 de março de 2021 às 16h08.

Se havia alguma dúvida, terminou cedinho nesta segunda-feira, 15. A International Meal Company (IMC), que tem as marcas Frango Assado, Viena, além das operações de Pizza Hut e KFC no Brasil, tem novo dono: Faro Capital. A prevalência sobre a empresa, avaliada hoje em R$ 1 bilhão na B3, ficou clara com o anúncio da chegada de Alexandre Santoro, que aqui no Brasil foi presidente da ALL, para conduzir o negócio no lugar de Newton Maia, que encerra seu ciclo na empresa.

Santoro vai somar ao negócio sua experiência no setor, pois vem da Popeyes Louisiana Kitchen, rede de frango frito americana fundada em 1972 nos Estados Unidos e que hoje tem nada menos do que 2.700 unidades (5 vezes mais que a IMC), onde era presidente global. O executivo brasileiro assumiu a frente da Popeyes depois que foi adquirida pela RBI, a holding que já controlava as marcas Burguer King e Tim Hortons, onde atuou por cinco anos na gestão de toda cadeia de suprimentos (praticamente a alma da rentabilidade do negócio).

Chega em meio à pandemia, que machucou todo o setor de food service e, como não poderia deixar de ser, a própria IMC. Veio a convite dos acionistas e assume efetivamente em 1º de abril. Maia fica até o fim do próximo mês para garantir uma transição tranquila.

Além de revisar a execução do negócio para seguir a trilha de melhoria da eficiência que já estava em marcha, Santoro deve acelerar todos os processos de digitalização. “Ser o mais conveniente possível para o cliente”, nas palavras de uma pessoa próxima à empresa, é o mote do momento, usando a tecnologia nessa direção.

A companhia ainda não publicou o balanço fechado de 2020, mas os números acumulados até setembro apontavam para uma queda de 31% na receita líquida, para R$ 816 milhões. Nesse intervalo, o Ebitda ficou negativo — ou seja, houve consumo de caixa e não acúmulo — em R$ 372 milhões, comparado a R$ 170 milhões dos nove primeiros meses de 2019.

A Faro Capital é um escritório de investimento familiar e que se posiciona com foco em “criação de valor de longo prazo”. Os recursos originais vieram do agronegócio, mas houve uma importante diversificação ao longo da última década com operações nos setores imobiliário, químico e investimentos, de forma geral. A UV cuida da gestão de fundos da Faro e de outros investimentos proprietários na IMC. Sob seu chapéu está atualmente quase 25% da companhia.

Embora já tivesse sido acionista da IMC anteriormente, na época da Advent ainda, agora é diferente. Quem toca a Faro é sócio-diretor Lucas Rodas, ex-executivo do mercado financeiro e um dos fundadores da Sagatiba, junto com Marcos Moraes (herdeiro do rei da soja Olacyr de Moraes),  é também genro do mais do que bem conectado Carlos Alberto Sicupira. Um dos homens do trio da 3G Capital, Sicupira está no conselho da holding RBI. E a  3G, é dona de quem, além da AB InBev e da Kraft-Heinz? Do Burguer King, via RBI. Bingo! Tudo explicado.

Santoro foi presidente da ALL, que pertencia à GP Investimentos, começo do trio Sicupira, Marcel Telles e Jorge Paulo Lemann na vida pós-Banco Garantia (comprado pelo Credit Suisse na década de 1990).

Daí porque também concluir que a Faro assumiu as rédeas do negócio, mesmo sem ser sócia majoritária. A gestora havia deixado a companhia praticamente junto com a Advent. Surfou um dos melhores períodos do negócio e agora volta não para se associar à estratégia de alguém, mas para imprimir sua própria. Quando Newton Maia assumiu a IMC, em 2017, a ação estava em R$ 3,15, descontados os dividendos pagos.

O papel — agora em R$ 3,60 — está longe de suas máximas, em 2018, quando chegou a ultrapassar R$ 11. A pandemia acertou a IMC bem no meio de um plano de expansão, com a consolidação do portfólio, e uma estratégia que já mirava a simplificação do portfólio de marcas, com potencial venda de bandeiras fora do Brasil. Projeto que, aliás, segue valendo após a troca de comando.

A operação brasileira deve continuar alvo de um projeto de expansão para um cenário de reabertura da economia. No começo deste ano, foi anunciada uma parceria com a Raízen, dona das bandeiras Shell no país, para prospecção de oportunidades em novas lojas. A bandeira responde por cerca de 70% do Ebitda do grupo.

Ao fim de setembro, a IMC estava com 490 unidades, sendo 229 próprias e 42 delas unidades inauguradas entre setembro de 2019 e de 2020. Nesse período, a companhia também agregou 249 lojas franqueadas de Pizza Hut e KFC no país.

Além da correria para colocar as marcas nos sitemas de delivery, incluindo o Frango Assado, Maia conduziu, no ano passado, a renegociação dos limites para dívidas de R$ 400 milhões, em debêntures, e levantou R$ 385 milhões por meio de uma oferta de ações.

A operação foi, inclusive, a porta de retorno da Faro, que participou da capitalização e depois comprou parte relevante do que o Itaú tinha na IMC. A gestora do bancão chegou a ter quase 25%. Só que, como tem foco apenas financeiro, e não de conduzir a gestão das empresas em que investe, a Itaú Asset tinha parte importante do capital, mas não tinha “o olho do dono”. Egresso da Advent, que foi a idealizadora do projeto multimarcas em food service da IMC, Maia, como presidente, era quem dava o norte à operação. Mas na base acionária, a companhia estava sem um dono. Tudo indica que ele chegou.

Antes de mexer na diretoria executiva, a Faro sentou de volta ao conselho, e já era um prenúncio do que viria. Junto com Rodas, veio Luiz Fernando Ziegler de Saint Edmond, ex-presidente da Ambev e da Anheuser-Busch e líder de vendas da AB InBev.

Extra

Além de experiência na operação do ramo, Santoro traz na bagagem o sangue-frio para arbitragens. Antes da fusão entre ALL e Rumo, as empresas tinham uma disputa bilionária fruto de um contrato comercial que desandou por entraves regulatórios, mas que era um buraco enorme para os negócios. A IMC tem duas importantes discussões arbitrais em curso, uma com a holding americana da KFC, a respeito das condições do contrato no Brasil pós-pandemia, e outra com a holding Sforza, da família de Carlos Wizard, para cobrar uma divergência de R$ 85 milhões que encontrou no negócio entre seu anúncio e fechamento — a Sforza tinha as lojas próprias de KFC e da Pizza Hut no Brasil. Wizard e família têm cerca de 9% da IMC.

 

 

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