Hapvida: 706 novos leitos para a região metropolitana de São Paulo até 2026 (Leandro Fonseca/Exame)
Editora do EXAME IN
Publicado em 3 de dezembro de 2024 às 13h14.
A Hapvida anunciou hoje o investimento de R$ 2 bilhões para construção de 10 hospitais entre 2025 e 2026, com a maior parte dos investimentos, mais de R$ 1 bilhão, voltados para a praça da cidade de São Paulo e região metropolitana.
O valor total de investimentos está dentro do patamar de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão sinalizado pela companhia ao mercado, mas o detalhamento das unidades mostra uma estratégia de ganhar mais presença em planos de tíquetes maiores no mercado paulistano, um dos mais competitivos do país.
Serão quatro novos hospitais em São Paulo, somando ao todo 706 leitos. Dois deles serão de mais alta complexidade e terão um padrão de hotelaria mais elevado.
Eles visam reforçar o posicionamento da Hapvida em planos mais caros, em que não há atendimento exclusivo, apenas dentro da própria rede.
“Diferentemente de outras praças, temos uma gama aqui de mais de 10 linhas de produtos e esses dois hospitais vão estar mais dedicados aos produtos do meio para o topo do nosso portfólio de produtos”, afirmou o CEO da Hapvida, Jorge Pinheiro.
Segundo ele, a companhia deve lançar novos planos de saúde para a região se apropriando da nova rede – inclusive no mercado de convênios individuais. A Hapvida é uma das poucas operadoras a oferecer esse tipo de plano, além dos coletivos, que tem reajustes menos amarrados por parte da Agência Nacional de Saúde (ANS).
Os dois flagships na região são um hospital para atendimento adulto na Vila Clementino, na Zona Sul de São Paulo, com 250 leitos, e que deve consumir R$ 410 milhões em investimentos.
Na mesma linha, está previsto também um hospital de mesma capacidade voltado a maternidade e atendimento infantil na Brigadeiro Luis Antonio, conhecida região hospitalar da capital e próximo ao Ibirapuera. O aporte previsto é de R$ 405 milhões.
Ainda na região metropolitana, a Hapvida prevê a inauguração de mais dois hospitais de menor porte, para urgência e emergência. Um deles, de 76 leitos, ficará no Jardim Anália Franco, na Zona Leste, com 76 leitos e R$ 16 milhões de investimentos. Outro é em Santo André, no ABC Paulista, de 70 leitos e que deve consumir R$ 39 milhões em aportes.
Serão investidos ainda R$ 31 milhões para modernização e ampliação do Hospital Cruzeiro do Sul, em Osasco, adicionando outros 60 leitos.
Com as novas unidades, a expectativa da companhia é trazer a praça de São Paulo para um patamar de verticalização mais próximo do registrado pela Hapvida em todo o país. Em regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, cerca de 80% dos exames e atendimentos 90% das internações são feitos em rede própria.
Já em São Paulo, esse patamar é de sete pontos percentuais abaixo da média nacional.
“Essa rede própria vai fazer com que a subamos mais os níveis de verticalização, não ao mesmos níveis de Hapvida como um todo, mas algo no meio do caminho. Vamos acompanhar como essa taxa vai se comportar”, disse Pinheiro.
Apesar de ter dado menos cor para a expansão fora de São Paulo, a Hapvida sinalizou que, nestas praças, está mais focada em planos totalmente verticalizados, com atendimento quase que integral feito dentro da rede.
Os R$ 1 bilhão restantes em investimentos incluem:
Outra informação relevante no anúncio de hoje é como a Hapvida pretende financiar o crescimento para os próximos dois anos. Dos R$ 2 bilhões em crescimento, apenas R$ 630 milhões devem vir de capital próprio.
A companhia já havia anunciado neste semestre um contrato de built-to-suit de R$ 600 milhões com a Riza Capital para o hospital da Vila Clementino em São Paulo e a unidade do Rio de Janeiro.
O restante deve vir por meio de contratos similares, que estão em fase de negociação, afirmou o CFO Luccas Adib.
“Temos o corolário de ser uma empresa leve do ponto de ativos fixos. Já temos um contrato de built-to-suit fechado para a expansão em Recife e estamos concluindo um para a outra unidade hospitalar de São Paulo”, afirmou o executivo.
De acordo com ele, a retomada das margens tem permitido uma boa geração de caixa, que será suficiente para fazer frente à parcela dos investimentos que cabem à Hapvida. Hoje, a empresa opera com uma relação entre dívida líquida e EBITDA abaixo de 1 vez.
“Não esperamos realavancar ou impactar negativamente nossa alavancagem com os investimentos que mencionamos aqui.”
Apesar da deterioração no cenário macro, com os juros longos apontando para mais de 14% após a frustração com o fiscal, Pinheiro reforçou o compromisso de longo prazo da companhia.
"Nossa empresa tem uma característica diferente, que nos conforta em apresentar um plano audacioso como esse. Em tempos de crescimento econômico, em que o mercado expande, é natural que sejamos beneficiados como todos", afirmou.
"Mas em tempos de dificuldade, em que todo mundo precisa rever suas despesas e seus custos, nós, por sermos a empresa mais acessível, somos a mais beneficiada de todas. Costumo dizer que nosso modelo de negócio é cíclico e contracíclico."
Por ora, o cenário de baixo desemprego e atividade econômica em alta tem sido um vento de cauda para o número de beneficiários da Hapvida, mas a principal questão que aflige o mercado diz respeito aos custos de judicialização para atendimento, que machucaram bastante os resultados do terceiro trimestre.
No mês passado, a companhia já sinalizou que um reajuste 1,5 ponto percentual acima do que estaria previsto para acomodar as ações judiciais que pleteiam atendimento fora do que a Hapvida entende estar na cobertura dos planos – com destaque para atendimentos em caso de autismo, que vem pressionando os custos.
Em relação a essa questão, apesar de não descartar novos aumentos acima do potencial por conta dessa questão, Pinheiro ressaltou a importãncia de ferramentas de combate à fraude para conseguir trazer os níveis de provisões e contingenciamento a patamares mais saudáveis. Como companhia de tíquete menor, a adesão a Hapvida é bastante sensível a variações no preço.
"Essa questão não é particular nossa, é do setor, atinge todas as empresas com a mesma intensidade. Nosso compromisso maior, muito mais do que repassar preços é sempre encontar alternativas para que isso não pese para o usuário na forma de reajustes mais altos."
"Um dado objetivo: nosso reajuste para planos coletivos, que é a parte não regulada, ficou de 30 a 40% menor do que todo o restante do mercado."