Exame IN

Grupo lança as bases para uma bolsa de energia no Brasil

Em meio à abertura do mercado livre, fundo apoiado pela B3 e Grupo EEX querem criar plataforma para negociação de ativos de eletricidade

Energia: novo projeto encontra entraves antigos para ser colocado em prática (Leandro Fonseca/Exame)

Energia: novo projeto encontra entraves antigos para ser colocado em prática (Leandro Fonseca/Exame)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 3 de outubro de 2023 às 09h00.

Última atualização em 3 de outubro de 2023 às 09h40.

Criar uma bolsa de energia no país. Essa é a ambição da joint-venture formada pela L4 Venture Builder, fundo apoiado pela B3, e a Nodal Brasil, subsidiária do Grupo EEX, responsável por mais de 20 bolsas de energia no mundo. O projeto, chamado N5X, está sendo lançado oficialmente nesta terça-feira – ainda numa etapa inicial, de conversas com o setor para entender as demandas do mercado. O plano é começar a operar efetivamente a partir do ano que vem. 

Por enquanto, o tom é o de entender as demandas do mercado e de montar a equipe, com especialistas em energia, mercado financeiro e regulatório. 

Em meio à abertura do mercado, que deve trazer mais de 100 mil novos consumidores (ainda de alta tensão) para o mercado livre a partir do ano que vem, e às discussões sobre energia limpa, o foco da empresa é trazer uma nova plataforma capaz de impulsionar as negociações desse ativo com características tão peculiares -- e com tanta volatilidade.

“Queremos ser um intermediador de transações. Vamos, agora, conversar com os participantes de mercado para entender qual é a oferta de produto mais adequada”, diz Dri Barbosa, CEO da N5X. O primeiro produto tende a ser o que já existe, uma negociação bilateral com formalização na plataforma – para o qual não há necessidade de autorizações regulatórias. Mas a ideia da companhia é ter, em médio prazo, uma parte para derivativos e contraparte central. 

O objetivo final é aproximar o Brasil do que acontece em mercados como a Europa em volume de negociações. No Brasil, cada megawatt-hora troca 4,27 vezes de mão, em média. Fora do Brasil, esse giro é de dez vezes, diz Barbosa. 

Hoje, 35% da energia consumida no país está fora do mercado cativo e, desse total, 30% passa por algum tipo de plataforma para ser negociada – grosso modo, um ente que permita aos participantes negociar e formalizar o 'match' entre oferta e demanda. Hoje, o Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE) cumpre essa função, com foco no ponto financeiro da transação. As comercializadoras cuidam da liquidação física.

Mas não há uma contraparte central capaz de garantir os termos ali acordados. Se há um preço travado para a compra e venda de energia e este sobe até à data da entrega, o contrato pode ser desfeito -- não há garantia de que a energia será entregue naqueles termos como há quando uma clearing está envolvida no processo.

A ambição não é nova. Outros projetos já tentaram construir algo similar ao longo do tempo. Uma das iniciativas mais importantes foi a criação da Brex, bolsa criada por Eike Batista e outros quatro sócios, Roberto Teixeira da Costa, primeiro presidente da CVM, o empresário Josué Gomes da Silva (Coteminas) e Marcelo Parodi (presidente da Compass). 

Assim como a iniciativa atual, esta visava atender aos participantes do mercado livre de energia, na esteira do crescimento no país. Na época, esse grupo somava 25% da energia consumida. A plataforma não tinha contraparte central, mas previa a liquidação física por meio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). No fim das contas, o projeto não deu certo por falta de liquidez. 

O destino de um projeto não significa o mesmo do atual. Mas alguns fatores permanecem inalterados: a matriz com muitas hidrelétricas traz grande volatilidade aos preços por conta das chuvas, o que somado ao histórico de ingerência política no setor traz um grau de risco diferente de outros países.  

"Quando você vai negociar uma commodity em bolsa, mês a mês, ele segue a mesma lógica. Energia elétrica em janeiro é banana, em fevereiro é maçã e por aí vai", diz um executivo do setor.

Barbosa é uma outsider no setor e se juntou ao projeto depois de traçar uma trajetória empreendedora. Ela foi uma das fundadoras da startup de RH Vaipe, e, antes disso, fundou a Payleven, de maquininhas, vendida posteriormente à SumUp. 

Há cerca de seis meses, está envolvida no projeto atual. Desde o ano passado, quando as conversas entre L4 e Grupo EEX surgiram, a atual CEO vem trabalhando lado a lado com dois especialistas do mercado de energia. "Estou aprendendo muito para cocriar esse produto junto com o mercado", diz.

Acompanhe tudo sobre:Energia

Mais de Exame IN

Mais Porto, menos Seguro: Diversificação leva companhia a novo patamar na bolsa

Na Natura &Co, leilão garantido e uma semana decisiva para o futuro da Avon

UBS vai contra o consenso e dá "venda" em Embraer; ações lideram queda do Ibovespa

O "excesso de contexto" que enfraquece a esquerda