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Grendene: as fundações para o plano internacional com a 3G avançam

Formação de time e mudanças na plataforma digital dos EUA foram feitas no primeiro trimestre

Grendene: Melissa é marca com maior aderência ao canal digital (Grendene/Divulgação)

Grendene: Melissa é marca com maior aderência ao canal digital (Grendene/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 18 de abril de 2022 às 09h52.

Última atualização em 18 de abril de 2022 às 10h52.

A Grendene está, ao lado da 3G Radar, construindo as fundações para o plano de expansão internacional das marcas Melissa, Rider e Ipanema. O primeiro trimestre foi marcado pela contratação dos profissionais que vão tocar a Grendene Global Brandes (GGB), nome da joint-venture entre a fabricante de calçados e a gestora, pela mudança tecnológica da plataforma de e-commerce — saiu a Oracle e entrou a Shopify — e ainda a contratação do parceiro logístico, a Ceva Logistics, uma gigante nesse tipo de serviço.

“Esse primeiro trimestre foi de afundar canos”, explicou Alceu Albuquerque, em entrevista ao EXAME IN, realizada antes do início do período de silêncio da companhia — o balanço de janeiro a março de 2022 está previsto para dia 28, após o fechamento do mercado. O executivo deixa claro que os benefícios dessa parceria serão sentidos especialmente a partir de 2023, pois as vendas desse ano foram em sua maioria contratadas no meio de 2021. Além disso, devido às burocracias, os ativos da Grendene USA e Grende Xangai ainda estão em fase de transferência para a GGB. A Melissa, por exemplo, terminou o ano passado com cinco lojas nos Estados Unidos.

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A Grendene teve receita líquida de R$ 2,34 bilhões no ano passado — 23,5% mais do que em 2020 e 13% acima de 2019. O Ebitda recorrente somou R$ 506 milhões, com uma expansão de 10% sobre o ano anterior e de 22,5% em relação ao ano pré-pandemia.

A operação internacional tem conquistado grande relevância na empresa, mesmo antes da criação da estrutura da GGB, transformando-se em protagonista do crescimento do negócio. Na comparação anual, a receita bruta de exportação avançou quase 29% sobre 2019 e 59% frente a 2020. Do faturamento bruto de R$ 2,85 bilhões em 2021, quase R$ 690 milhões vieram das vendas internacionais — a fatia sobre o total subiu de 20% para quase 25% na comparação entre 2019 e 2021.

Vale registrar que o preço internacional de venda do par, em dólares, recuou. Contudo, em reais subiu e mais do que isso: o ágio praticado em relação ao preço de venda do par vendido no Brasil subiu de 5% para quase 17%, na comparação entre 2019 e 2021.

A GGB é para ser uma operação toda “asset light”, explicou Albuquerque. Gestão de recursos humanos, logística e tudo que puder ser feito por terceiros, será. A expectativa é que a equipe da sociedade tenha perto de 30 pessoas entre Estados Unidos e China e, de acordo com o executivo, cerca de 90% do time já foi recrutado. “O foco do time vai ser 100% fortalecer marca e desenvolver canais.”

Na primeira fase, a GGB cuidará dos mercados americano e canadense e também China e Hong Kong. Mais á frente, na Fase 2, outros mercados para os quais a Grendene exporta poderão ser acrescentados ao escopo da sociedade. Nos Estados Unidos, a parceria vai explorar os canais online e atacadista e também deverá fazer a abertura de lojas próprias, daqui para frente.

A parceria com a 3G Radar foi assinada em outubro do ano passado. Na ocasião, o mercado soube que Gustavo Assumpção, que possui 20 anos de experiência como executivo, sendo 16 deles na Ambev, AB Inbev e Modelo (México), foi escolhido para ser presidente da joint-venture. André Rossler, que começou sua carreira na cervejaria brasileira Brahma ainda em 1998, assumiu a diretoria financeira e de operações. A GGB recebeu um aporte de US$ 100 milhões para estruturar suas operações.

De lá para cá, os talentos foram recrutados no setor. Adidas, Crocs, Nike, New Balance foram as fontes de experiência que agora se dedicará à GGB. A expectativa é que o break-even da sociedade já venha em 2023 e, daí para frente, o plano é buscar cada vez mais relevância nos mercados internacionais.

Albuquerque ressalta que, nos Estados Unidos, as vendas online de calçados (B2C) representam cerca de 30% a 40% do mercado, cujo volume total é da ordem de US$ 80 bilhões. “A dinâmica é totalmente diferente do Brasil e o consumidor está muito habituado a comprar pela Internet. A devolução lá é muito simples”. A ideia é que entre 3 a 5 anos, a GGB consiga ter uma divisão de vendas internacionais semelhante à média do mercado, daí a preocupação em deixar a plataforma online azeitada logo na largada.

Por enquanto, apenas a Melissa tem venda online nos Estados Unidos, mas o plano é que as demais marcas com potencial também tenham seus próprios canais, além da presença marketplace. “Ainda não está certo, por exemplo, se serão todas as marcas, porque algumas não tem expressão lá fora. Mas Rider e Ipanema, certamente terão.”

No Brasil, as estimativas mais otimistas para o e-commerce são de uma fatia de 15% a 20% no mercado total. Entretanto, especialmente no mercado local, Albuquerque lembra que nem todas as marcas da Grendene têm o mesmo potencial. O canal eletrônico, devido ao custo do frete, faz mais sentido para marcas com tíquete médio maior, como a Melissa e, no caso da Ipanema, quando for uma aquisição com mais de um par.

Em toda a Grendene o canal digital ainda está em fase de construção e expansão. No quarto trimestre, 2% das vendas domésticas — de um total R$ 690 milhões — vieram do ecommerce. “Mas há uma grande disparidade entre as marcas, pela questão do tíquete. Na Melissa, por exemplo, esse percentual foi de 8%.” A marca de sandálias representa entre 60% e 70% de toda venda online da companhia. “Ela tem um perfil mais aderente ao canal, por ser um produto de maior valor agregado”, completa Albuquerque.

O objetivo de médio e longo prazo (2 a 5 anos) é que 10% a 12% das vendas sejam digitais, quando o canal estiver maduro. “Achamos que esse é um patamar saudável. Na Melissa, a expectativa é que esse percentual seja superior a 20% e na Ipanema, de 3% a 4%, pela questão do preço.” O executivo lembra que a operação digital, sob cuidados da companhia (com gestão interna e não mais terceirizada), tem apenas um ano e dois meses de operação. "Nosso online ainda é um bebezinho. Tem muito a crescer."

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