(Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)
Repórter Exame IN
Publicado em 21 de agosto de 2023 às 15h00.
Última atualização em 21 de agosto de 2023 às 16h05.
Depois de uma freada brusca no começo do ano, o mercado de crédito privado está aquecido neste início de segundo semestre. O cenário já vem melhorando desde meados de maio, mas ofertas que entraram nas últimas semanas trazem sinais mais claros de otimismo.
Uma emissão de R$ 5,5 bilhões de Aegea teve uma demanda de quase o dobro da oferta-base, na casa dos R$ 9 bilhões, no começo de agosto. Um pouco antes, a TIM emplacou uma operação de pouco mais de R$ 5 bilhões, aumentando a ambição de levantar cerca de R$ 4,2 bilhões por conta da boa recepção do mercado. Operações da Iguá, de saneamento, bem como uma emissão de FIDCS da PraValer, de financiamento estudantil – esta última na seara dos produtos estruturados – também tiveram boa procura.
Um levantamento feito pela gestora JGP mostra que em agosto (considerando os dados acumulados até hoje, dia 21) já foram distribuídos mais de R$ 9,4 bilhões em debêntures no mercado doméstico, o maior volume mensal desde o início do ano. É praticamente o dobro do mês anterior (R$ 5,6 bilhões) e mais que o triplo registrado em abril (R$ 2,9 bilhões).
A queda na taxa básica de juro, associada a uma maior clareza no cenário macro, vem atraindo empresas a acessarem o mercado e formou o combo para os investidores voltarem a alocar, depois dos sustos com a quebra de Americanas e Light. "Além disso, várias empresas que estavam com dificuldades, balanços bem endividados, fizeram aumento de capital na bolsa ou venderam ativos, o que trouxe mais segurança de que não iriam quebrar", diz Leonardo Ono, gestor de renda fixa na Legacy.
Esse comportamento fica claro na correlação entre IDA-DI e CDI. Em janeiro e fevereiro, o índice de títulos privados mostrou um desempenho abaixo do indicador de referência — um resultado característico de momentos de mercado em turbulência. A partir de maio, no entanto, a recuperação já começou a tomar forma. Tomando como base os dados mais recentes, o IDA-DI acumula um prêmio de 0,37 ponto percentual em julho.
Como reflexo dessa retomada, as taxas de retorno seguem altas em comparação ao padrão histórico, ainda que tenham recuado em relação ao pico registrado pós Americanas. O prêmio de crédito de debêntures convencionais, que era de 1,8% sobre o CDI em dezembro, passou para 2,9% em fevereiro — no auge da crise com a varejista quando houve uma série de saques — e, em junho, estava em CDI+2,6%.
Nas debêntures isentas, o prêmio era de 101 pontos percentuais sobre títulos públicos comparáveis atrelados ao IPCA no fim do ano. Em abril, ele passou para 165 pontos e, em julho, tinha recuado para 140 p.p.. Os dados são do JGP-Idex, compilados pela Solutions Wealth Management (SWM).
"No restante do ano, devemos ver essa compressão acontecendo cada vez mais. Mas a mensagem aqui é de que o ambiente de mercado, hoje, está bem melhor do que no início de 2023”, diz Odilon Costa, head de renda fixa da SWM. “São poucos os momentos em que encontramos um título público longo acima de IPCA+5%, especialmente em um contexto de trajetória de curto prazo favorável para a economia.”
O reaquecimento do mercado, entretanto, não significa um otimismo desenfreado. Títulos em setores mais defensivos — com uma receita menos atrelada ao PIB —, com grau de investimento, bem como as debêntures isentas de tributação, são os mais cobiçados nesse processo de retomada.
Daqui para a frente, a expectativa é de aumento de ofertas lançadas ao mercado, em um patamar consideravelmente maior do que o do primeiro semestre — mas sem ultrapassar o segundo semestre de 2022, um ponto fora da curva em meio à antecipação das eleições e à alta dos juros. Para referência, o ano passado somou mais de R$ 400 bilhões em captações de títulos de dívida, o patamar mais alto dos últimos cinco anos.
"Desde que não venha nenhuma ruptura, em recessão nos Estados Unidos ou em ambiente político, o Brasil tem espaço para continuar reduzindo juros, o que colabora para melhorar a liquidez do mercado em geral”, diz Fernando Marinho, sócio da Valora Investimentos. “Não é um céu de brigadeiro, mas há espaço para continuar o processo de redução dos juros e melhorar a atratividade para captações.”