Bateria de dados locais estará no foco dos mercados, mas 13 indicadores da economia americana podem roubar a cena (Miguel A. Lopes/Reuters)
Angela Bittencourt
Publicado em 24 de maio de 2021 às 16h22.
Última atualização em 24 de maio de 2021 às 16h23.
Apanhar de 4 x 0 ou de 3 x 1 é ruim para qualquer time. Seja qual for a camisa, o placar é amargo como uma goleada. E o governo poderá experimentar esse gostinho nesta semana. O ministro da Economia, Paulo Guedes, terá chance de defesa. Porém, dificilmente conseguirá evitar a vaia da torcida para três de quatro indicadores que estão no pipeline: dois índices de inflação e dois dados do mercado de trabalho. As quatro informações não passam despercebidas porque têm encontro marcado no bolso do brasileiro, mas não é certo que vão “fazer preço” no mercado.
Nesta terça-feira sai o IPCA-15 de maio. O IGP-M, também de maio, será divulgado na sexta. A taxa de desemprego monitorada pela PNAD Contínua do IBGE, em março, será publicada na quinta. Na sexta-feira, a Aneel deve definir a próxima bandeira tarifária que pode avançar de “vermelha 1” para “vermelha 2”, dada a escassez de chuva e uso potencial de termelétricas, uma energia mais cara. A criação de empregos formais, segundo o Caged, também sai na sexta. Será um bom dia para Paulo Guedes, que tem participado do anúncio mensal do dado, defender a política econômica e atenuar o impacto da escalada dos preços que tem duas leituras e uma consequência: empobrece as famílias, eleva os custos de produção das empresas e aperta a forca no pescoço do Banco Central.
Hoje, o cenário é de inflação nas nuvens, no varejo e no atacado, e desemprego espreitando um novo recorde. A favor do governo possivelmente estará a estatística de emprego formal que, mesmo não sendo retumbante, terá como base de comparação a destruição de 960 mil postos de trabalho em abril do ano passado – quando a Covid-19 escancarou sua gravidade.
O consenso de mercado, segundo a Bloomberg, aponta leve baixa no IPCA-15 mensal, mas alta de 0,5% elevará o índice em 12 meses de 6,2% em abril para 7,4% em maio. A marca de 7% não é atingida pelo IPCA desde outubro de 2016, quando a inflação já estava na descendente, após alcançar dois dígitos entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016. Lá, os preços dispararam em meio à crise política que culminou com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Para o IGP-M de maio, o consenso Bloomberg, é de alta mensal de 3,92%, mais que o dobro de 1,51% do mês anterior, suficiente para impulsionar o índice, no acumulado em 12 meses, de 32% para quase 39%. Inflação para ninguém botar defeito e que se traduz em custo para as empresas. Arthur Mota, economista da Exame Invest Pro, pondera que o resultado dos indicadores vier em linha com o esperado, o impacto nos mercados tende a ser minimizado.
“A expectativa de inflação já está na curva de juros. Em eventual surpresa, a parte inicial da curva, a ponta curta, é a mais sensível a ajustes. A aceleração dos índices de inflação em 12 meses é esperada desde outubro do ano passado e, embora eles estejam mais pressionados que o inicialmente previsto, a aceleração se dá por efeito base. O IPCA em 12 meses pode se aproximar de 7,8% ou 8% nos próximos meses”, explica Mota.
Para o economista da Exame Invest Pro, o mercado pode voltar a discutir qual será o posicionamento do Banco Central em 2022 e eventualmente em 2023, sobretudo, se a bandeira tarifária avançar. Porém, a curva de juros já precifica taxa Selic de 6,50% ao final deste ano. “Essa indicação supera a estimativa de 5,50% sustentada na pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira, mas essa projeção Focus é mediana do mercado”, pondera.
A taxa de desemprego em março, monitorada pela PNAD Contínua, do IBGE, será divulgada na quinta-feira e, segundo o consenso da pesquisa Bloomberg, deve subir de 14,4% para 14,6%. “É um dado atrasado, referente a março e menos relevante, inclusive, porque a metodologia dessa pesquisa tem características singulares. Já a criação de vagas, mensurada pelo Caged, que sai na sexta-feira, além de ser um indicador mais contemporâneo, referente a abril, retrata o mercado de trabalho no Brasil em padrão semelhante ao ‘payroll’ nos EUA”, diz Mota.
O consenso Bloomberg aponta criação de 206 mil empregos com carteira assinada em abril, um aumento de 12% na comparação em relação a março.
Os indicadores sempre abrem espaço para reorientação de posições principalmente em taxas de juros ou apostas sobre futuras decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), já comprometido com Selic de 4,25% no encontro de junho. Hoje, a Selic está em 3,50%, após duas altas de 0,75 ponto percentual cada.
A pesquisa Focus desta segunda-feira voltou a mostrar IPCA em alta pela sétima semana seguida para 2021, com projeção mediana de 5,24%, e, na segunda elevação consecutiva para 2022, a 3,67%, ante meta de inflação de 3,50% com tolerância de 1,5 ponto para mais e para menos.
A sondagem monitorada semanalmente pelo BC traz informação positiva sobre inflação se o mercado internacional colaborar e não precipitar correções mais fortes do dólar. A projeção de taxa de câmbio para o fim desde ano permaneceu em R$ 5,30, cotação idêntica à esperada para dezembro de 2022. Nesse patamar, o dólar está 7% abaixo de R$ 5,70 de um mês atrás.
Também estarão no foco dos analistas, nesta semana, relatórios mensais do BC sobre setor externo e crédito. O Tesouro faz o balanço das contas do governo central (Previdência, BC e Tesouro Nacional) de abril. E os EUA reservam ao menos 13 indicadores, inclusive, a segunda estimativa para o PIB do primeiro trimestre e a informação que realmente conta: o PCE ou índice de gastos com consumo das famílias norte-americanas.
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