Bremmer: "líder do Brasil não é mais um cético climático" (Richard Jopson/Divulgação/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 29 de janeiro de 2024 às 15h15.
Última atualização em 29 de janeiro de 2024 às 18h13.
Colocada em xeque por governos nacionalistas, a globalização não chegou ao seu fim, mas tem uma nova estrutura de liderança, afirma o CEO da Eurasia, Ian Bremmer, um dos maiores especialistas em riscos políticos voltados ao mundo dos negócios. Se antes tudo era promovido pelos Estados Unidos, agora não há mais só um líder — e na agenda de sustentabilidade são os países os países do sul global, e, sobretudo, da América Latina que têm maior vantagem, avalia.
“Países superpoderosos em biodiversidade estão na América Latina, isso ficará cada mais evidenciado e apreciado pelo mundo”, defende.
Bremmer foi um dos painelistas do lançamento dos trabalhos do B20 Brasil , que acontece nesta segunda-feira, 29, na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), no Rio de Janeiro. Desde a criação do B20, braço de negócios do G20, essa é a primeira vez que o Brasil assume a coordenação.
Em um momento em que vários países, sobretudo os desenvolvidos, estão perdendo a sua biodiversidade, o Brasil pode ocupar papel protagonista na agenda de sustentabilidade e transição energética, dois de alguns dos fatores-chave na nova costura das relações globais.
Esse posicionamento ganhou força com a saída de Jair Bolsonaro da presidência e a chegada de Lula, segundo ele, já que o atual líder do país não é mais “um cético climático”. “É uma pessoa que quer o Brasil como um protagonista nessa revolução verde e é essencial que o país aja nesse sentido”, diz.
Para ele, cabe ao governo brasileiro aproveitar o espaço de liderança que pode exercer e que eventos como G20, B20 e a COP 30 são oportunidades “incríveis e únicas”.
Bremmer destaca que, em meio aos conflitos entre Rússia e Ucrânia e Israel e países mulçumanos, o Brasil está em uma parte do mundo que está geopoliticamente estável. “É um superpoder de biodiversidade quando países estão perdendo isso muito rapidamente e tem a grande vantagem de não só ser um país diverso, mas, também, um país robusto demograficamente”, diz citando a desaceleração populacional chinesa.
No papel de protagonista, o Brasil tem o desafio, diz ele, de pressionar os países do mundo desenvolvido — que têm maior pegada de carbono e maior emissão historicamente – a financiar e facilitar a transição energética dos países mais pobres.
A criação do fundo climático para financiar perdas e danos de países vulneráveis na COP 28 foi um avanço importante, segundo ele, mas os US$ 420 milhões prometidos “não estão próximos do necessário”, de acordo com Bremmer. “Brasil vai ter que usar sua liderança e protagonismo para colocar pressão nesse sentido.”