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GetNinjas: “Tenho caixa para 25 anos de empresa”, diz fundador

Companhia reduziu em quase 80% queima de caixa ao cortar investimentos em marketing

Eduardo L'Hotellier, fundador e CEO da GetNInjas: consciência na temporada em que o caixa é rei (Germano Lüders/Exame)

Eduardo L'Hotellier, fundador e CEO da GetNInjas: consciência na temporada em que o caixa é rei (Germano Lüders/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 17 de maio de 2022 às 08h25.

Última atualização em 17 de maio de 2022 às 09h33.

Eduardo L’Hotellier, fundador e CEO da GetNinjas, fez o que prometeu no primeiro trimestre: reduziu o crescimento da companhia para preservar recursos. Colocou mesmo o pé no freio em marketing. A queima de caixa da companhia ficou em R$ 3,1 milhões de janeiro a março, comparado a R$ 14,5 milhões no último trimestre de 2021.

O outro lado dessa moeda: a receita líquida teve crescimento pequeno. O faturamento líquido somou R$ 15,8 milhões, uma expansão da ordem de 3,5% tanto na comparação anual como trimestral. Com gastos mais contidos, as perdas na linha do Ebitda diminuíram: de R$ 10,4 milhões para R$ 6,3 milhões na comparação com o trimestre anterior. No ápice da aceleração, no segundo trimestre de 2021, o Ebitda ficou negativo em mais de R$ 19 milhões.

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Com o caixa elevado e rendimentos idem — o que gerou receita financeira —, o prejuízo líquido da GetNinjas ficou em R$ 3,7 milhões, comparado a R$ 7 milhões de outubro a dezembro.

A postura de L’Hotellier mostra que a velha máxima “o caixa é rei” não é exclusividade da velha economia. No atual cenário, vale para todo mundo, inclusive para as startups – ou principalmente para elas. “Tenho caixa para 25 anos de empresa, no atual ritmo”, enfatizou ele, com a ressalva de que esse está distante de ser o ambiente ideal tanto para a GetNinjas como para qualquer negócio. O saldo bancário que era de R$ 293 milhões em dezembro, fechou março em R$ 290 milhões.

A companhia estreou na B3 avaliada em R$ 1 bilhão. A oferta inicial movimentou R$ 550 milhões e, desse total, R$ 330 milhões foram recursos novos, ou seja, caixa. Agora, a empresa vale menos que o dinheiro que tem aplicado no banco: fechou ontem em R$ 215 milhões, após uma alta superior a 16%.  “Meu caixa vai ter o meu valor de mercado daqui 12 anos”, disse L’Hotellier, com ironia, para tornar a distorção evidente — não como previsão.

Quando decidiu listar os papéis na bolsa, a GetNinjas tinha como principal plano colocar o dinheiro em marketing: cerca de 60% do volume captado tinha essa destinação planejada. E a diferença seria alocada em time e tecnologia, o que deixaria a companhia mais robusta inclusive para aquisições e fusões.

O marketing é relevante para todas as startups, mas há um componente extra que torna um elemento estratégico para a GetNinjas. Na visão de L’Hotellier, o maior desafio do seu negócio ainda é cultural. “A maioria das pessoas contrata serviço por indicação. Essa é uma solução muito poderosa para desafiar”, ressalta ele. Mas ele aposta que, com o tempo e a digitalização, esse tipo de solução vai ganhar ainda mais relevância. “As pessoas já aprenderam a ficar na casa de estranhos, com Airbnb, a entrar no carro de estranhos e até aceitar bala e água”, compara o empreendedor, em referência ao Uber.

A expectativa é que, no atual ritmo de despesas, a margem vai continuar avançando em direção ao break-even da empresa, mesmo que em um compasso mais lento. O executivo explicou que o momento, apesar de desafiador pelo lado do custo de capital, permite a desaceleração nos gastos com marketing porque também a competição no seu modelo não avançou como tudo indicava que aconteceria. No passado, havia expectativa que os marketplaces de produtos também agregariam soluções de serviços, mas a tendência acabou não se verificando. Os grandes marketplaces, como Mercado Livre, Magazine Luiza, Via, ainda estão todos voltados ao esforço de ampliar a variedade de bens oferecidos aos consumidores.

Mas, L’Hotellier é bastante consciente do momento e da posição da empresa, por ter captado recursos. “Existem dores muito maiores do que reduzir o investimento em marketing, com certeza.” Na perspectiva do empreendedor, o momento pode, ainda que não seja o mais desejável, favorecer a empresa, inclusive na contratação de talentos.

“Tem muitos bons profissionais que estavam presos a planos de opções que, nesse momento, vão virar pó.” O momento, além disso, pode começar a abrir espaço para a empresa retomar conversas sobre aquisições e fusões, que estão congeladas desde o fim do ano passado. Por enquanto, não há nada no front e esse não é o objetivo: o foco é deixar o negócio mais forte, agora que a companhia amadureceu processos e até mesmo soluções. Hoje, a GetNinjas tem um aplicativo diferente para profissionais e para clientes, cada um com foco em facilidades de cada público.

A companhia terminou março com 207 mil profissionais ativos (aqueles que efetivamente compram os leads gerados pela empresa), uma expansão superior a 47% na comparação anual – e com uma recorrência superior a 78%. O número total de solicitações de clientes terminou o intervalo de janeiro a março em 1,4 milhão, um aumento de 8% sobre o primeiro trimestre de 2021.

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