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GetNinjas: receita 43% maior no trimestre e projeto 'Mercado Pago'

Receita do terceiro trimestre supera R$ 16 milhões e companhia tira projetos pré-IPO represados do papel

GetNinjas: fintech para fortalecer market-place, a exemplo do Mercado Pago (Leandro Fonseca/Exame)

GetNinjas: fintech para fortalecer market-place, a exemplo do Mercado Pago (Leandro Fonseca/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 8 de novembro de 2021 às 21h34.

Última atualização em 10 de novembro de 2021 às 23h06.

A GetNinjas, market-place entre profissionais prestadores de serviços e clientes, trouxe um balanço de terceiro trimestre no qual mostra estar entregando exatamente o que prometeu durante o processo de abertura de capital: crescimento e desenvolvimento do seu produto. Se o ritmo está adequado, cabe aos investidores decidir. A receita líquida da companhia avançou 43% na comparação anual, para R$ 16,34 milhões. Além disso, tem no forno, novidades que vão colocá-la na rota de ter sua própria fintech, a exemplo do Mercado Pago, que nasceu dentro do Mercado Livre.

A companhia fez sua oferta pública inicial em maio (IPO), quando captou perto de R$ 320 milhões, em uma operação ancorada pelas gestoras Verde, Miles e Indie. O dinheiro está sendo gasto com parcimônia, pois o caixa saiu de R$ 326 milhões, em junho, para R$ 308 milhões, ao fim de setembro. Embora esteja atento a oportunidades de aquisições, o fundador e presidente da empresa, Eduardo L’Hotetellier, reforça sua crença de que a principal geração de valor para o seu negócio “virá do nosso time e do nosso próprio produto.”

A companhia está usando o dinheiro levantado para fazer o que havia de mais represado na sua vida como startup digital, que é investir na contratação de profissionais mais seniores e em marketing — algo essencial no seu tipo de atuação. O número de colaboradores alcançou 222, ante 120 na fase pré-listagem na bolsa.

“Queremos melhorar nosso algoritmo de matching entre os profissionais e os clientes e o tempo de resposta na contratação de serviços”, enfatiza em entrevista ao EXAME IN. Nesse sentido, o crescimento só ajuda nessa evolução, pois é a velha máxima do mundo digital: quanto mais dados, mais eficiência; quanto mais eficiente, mais clientes. Até a abertura de capital, o foco esteve concentrado em revisão de processos e preparo para expansão e a partir da segunda metade do ano, o foco passou a ser tirar do papel os planos acumulados por anos.

Dessa forma, a companhia que durante o pré-IPO havia demonstrado ter encontrado o caminho da lucratividade com sua operação, voltou a ter Ebitda negativo e prejuízo, pois está investindo na aceleração do crescimento. Quando faz o esforço de expansão, a GetNinjas afeta menos sua base de custos e mais suas despesas operacionais.

O lucro bruto cresceu 35% na comparação anual do terceiro trimestre, para R$ 15 milhões. A margem bruta do negócio histórica é de 92%, de acordo com L’Hotellier. No ano passado chegou a 97% porque a base de custos ficou deprimida — e distorcida — por programas de redução de custos promovido por fornecedores dentro do esforço de sustentação da economia durante a pandemia. Além disso, a empresa cadastrou 463 mil novos profissionais só nesse trimestre (142% a mais do que há um ano), e essa largada exige algum gasto da empresa.

Já o Ebitda saiu de R$ 1,5 milhão positivo para R$ 13,86 milhões negativos no terceiro trimestre, com impacto do aumento de 205% nas despesas comerciais (onde fica o marketing) e de 86% nos gastos administrativos (linha da folha de pagamento). A última linha do balanço ficou negativa em R$ 10,68 milhões no terceiro trimestre — a companhia teve receita financeira líquida superior a R$ 4 milhões —, ante um lucro líquido de R$ 1,35 milhão em 2020.

Transações

A base de profissionais cadastrados está atualmente em 3,7 milhões, com mais de 500 categorias. Ainda que a variedade de ofertas tenha aumentado, com serviços como professores de piano, de skate, entre outros, a categoria reformas e reparos ainda predomina.

Hoje, a empresa cobre mais de 60% dos municípios do país e acima de 90% da geração de riqueza (Produto Interno Bruto – PIB). O número de pedidos feitos de julho a setembro totalizou 1,4 milhão, uma alta de 17% na comparação anual.

 Fintech

Como parte da estratégia de melhorar o seu market-place, L’Hotellier conta que a GetNinjas começou a testar a “Proteção Ninja”, nos três estados da região Sul do país. Trata-se de um sistema que visa dar mais segurança ao cliente. Se o consumidor não ficar satisfeito, tem direito a um novo prestador do mesmo serviço ou um valor teto de reparação.

A solução deve estar disponível para a maior parte da base no começo de 2022. Questionado se isso pode desembocar numa fintech, como ocorreu com o Mercado Pago, comparação usada pelo próprio empreendedor, L’Hotellier confirmou. “É um caminho natural, mas não porque queremos ter essa plataforma. Isso não é um objetivo, é uma consequência do esforço de melhoria do market-place.” O executivo e acionista também preferiu não se comprometer com um prazo específico, justamente porque a questão central é a melhoria da plataforma como um todo.

Ele falou, após ser questionado, a respeito da dificuldade cultural ainda existente  no uso da plataforma, pois os prestadores de serviço vão entrar na casa dos clientes. “Mas é uma questão de hábito. Há poucos anos, também não alugávamos o quarto na casa de uma outra família ou entrávamos no carro de estranhos”, comparou ele, destacando serviços de plataformas como AirB&B e Uber. A ferramenta vem justamente para ajudar no desenvolvimento da confiança e dessa cultura.

A perspectiva é que, assim como ocorreu com o Mercado Pago, com o passar do tempo, o benefício esteja disponível apenas para quem usar as soluções de pagamento da própria GetNinjas, o que vai dar mais segurança também para os profissionais.

A queda na bolsa

Para o IPO, a GetNinjas foi avaliada em R$ 1,04 bilhão. “Disso, R$ 700 milhões eram o valor da empresa e o restante, era o caixa”, diz o fundador referindo-se principalmente ao valor captado no mercado. Antes disso, a companhia só havia levantado R$ 40 milhões em seus dez anos de operação — completados em outubro.

Agora, na bolsa, vale cerca de R$ 420 milhões. A queda poderia ser considerada de aproximadamente 60%, sobre a avaliação de estreia. Mas L’Hotellier é ainda mais rigoroso em sua análise: “nosso valor mesmo saiu de R$ 700 milhões para R$ 120 milhões, porque R$ 300 milhões estão no caixa”. Essa conta leva a um tombo superior a 80%.

Na visão do executivo, há um exagero do mercado na correção. “Nem o aumento na taxa de juros e o impacto disso na taxa de desconto justifica. Estamos valendo menos do que a avaliação que recebemos na rodada série B, em 2015. E eu cresci 50 vezes nesse intervalo.”

Quando o valor das companhias na bolsa fica próximo da quantia que têm em caixa, elas ficam teoricamente atrativas para se tornarem alvo de ofertas hostis. Questionado a respeito disso, L’Hotellier preferiu não comentar. Apenas afirmou que a empresa está melhor hoje, por ter os recursos em caixa, que não teria sem o IPO.

O sócio-fundador tem hoje 15% do negócio. A GetNinjas não tem controlador, mas tem uma cláusula no estatuto social pela qual quem adquirir mais de 25% das ações fica obrigado a lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) para 100% da base de acionistas.

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