Eduardo L'Hotellier, ao centro, no IPO da GetNinjas: foco é reduzir queima de caixa (Cauê Diniz/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 25 de agosto de 2022 às 12h12.
Última atualização em 26 de agosto de 2022 às 22h02.
Eduardo L’Hotellier, fundador e CEO do GetNinjas (NINJ3), está determinado a fazer a empresa crescer. Mas, nesse momento, o foco é “melhorar a máquina” e aumentar rentabilidade. É essa estratégia, na visão do empreendedor, que fará a companhia sobreviver ao caminho para romper a barreira cultural para o mundo digital no mercado de serviços — como o e-commerce já rompeu.
Uma decisão corajosa no mundo das startups em que o mantra é crescimento. A companhia teve uma queda de 13% na receita no segundo trimestre de 2021, para R$ 13,4 milhões. Contudo, ele não está insatisfeito com o número, considerando o cenário. “Reduzimos o investimento em marketing em 50% e a retração da receita foi significativamente menor, o que mostra a evolução da recorrência da plataforma”, afirma ele em entrevista ao EXAME IN. A recorrência dos usuários está em 55%, ante 54% no primeiro trimestre deste ano e 48% em igual período do ano passado. “Estamos controlando a principal linha, quando o assunto é queima de caixa.” O total de solicitações na plataforma ficou em 1,1 milhão de abril a junho, ante 1,3 milhão nos três primeiros meses de 2022 e no segundo trimestre do ano passado.
Mas, mesmo o esforço de azeitar o funcionamento, tem seu custo. Por isso, o lucro bruto recuou um pouco mais que a receita, 16%, para R$ 11,8 milhões. Além disso, houve reclassificação dos custos com transações de cartão e boletos, que antes eram lançados como despesas. Já no Ebitda, há melhora na comparação anual: a perda caiu de R$ 19 milhões para R$ 12 milhões. As despesas comerciais e de marketing passaram de R$ 21 milhões para R$ 10 milhões, na comparação anual. Mesmo assim, ante o primeiro trimestre, há uma piora no Ebitda.
L’Hotellier explica que a GetNinjas está trabalhando com uma consultoria, o que aumentou as despesas. No primeiro trimestre, o trabalho não ocorreu em todo o período, pois a contratação ocorreu durante o intervalo. Já entre abril e julho, o serviço foi lançado integralmente. É por isso que as despesas totais crescem 50% na comparação anual, mas quando observadas apenas as recorrentes a alta é bem menor, da ordem de 30%, refletindo especialmente o crescimento do quadro de pessoal pós-oferta pública inicial (IPO).
O empreendedor explica que o cenário macroeconômico atual, com inflação alta, juros elevados e queda na renda, também prejudicam. “As pessoas estão postergando reformas e melhorias”, afirma. Para ele, esse fator pesa até mais do que uma espécie de ressaca pós-pandemia, período em que muitas pessoas investiram em suas casas. “Há um represamento. O mesmo que vimos no auge da pandemia.” A categoria de reformas e reparos é a maior da plataforma, com 36% das solicitações do segundo trimestre — ante 38% no primeiro trimestre.
Quando questionado sobre como buscar crescimento em um ambiente tão desafiador — e L’Hotellier destaca que o segundo semestre do ano, com eleições e Copa será também difícil — , ele conta que estão em estudo novidades para plataforma, como implementação de garantia para serviços e também mecanismos para que o match entre a solicitação do cliente e do profissional seja melhor e mais rápido. Todos movimentos que ajudam na corrida contra os hábitos do brasileiro de viver de indicações para serviços.
Essa combinação de esforços tem como objetivo sustentar a liquidez do negócio. A GetNinjas terminou junho com cerca de R$ 285 milhões em caixa. O dinheiro aplicado, sem dívidas financeiras, trouxe mais receita financeira líquida: R$ 8,8 milhões ante R$ 1,4 milhão um ano antes. O motivo é alta dos juros, que faz o caixa render mais. Essa linha ajuda a reduzir o prejuízo líquido, que saiu de R$ 17,8 milhões para R$ 8,8 milhões.
Sobre aquisições, um dos objetivos da plataforma quando decidiu fazer seu IPO e captar recursos, L’Hotellier segue cauteloso e disse que ainda não é o momento, apesar do ajuste nos preços dos ativos. A razão para isso é que a companhia segue avaliada na B3 abaixo do que possui em caixa e, ao mesmo tempo, o custo do dinheiro está muito elevado. Dessa forma, não há como pensar nem em pagamento com ações, nem em dinheiro, as eventuais compras.
Além disso, o executivo aponta que qualquer transação está praticamente inviável do ponto de vista técnico. Isso porque aquisições, conforme a Lei das Sociedades por Ações, poderiam disparar o direito de recesso da base acionária (quando a empresa é obrigada a comprar os papéis em mercado pelo seu valor patrimonial, caso o investidor não concorde com o movimento). A questão técnica é que, por estar depreciada em bolsa, a opção se torna muito atrativa para o mercado, que escolhe o pagamento e torna a transação cara demais ou até impraticável. O Enjoei, por exemplo, teve de cancelar a compra da Gringa, uma plataforma de venda de artigos de luxo second hand, por esse motivo.
O momento, enfatiza o fundador da GetNinjas, é de "arrumar a casa, melhorar a rentabilidade e recuperar a precificação na bolsa". Quando fez o IPO, a companhia foi avaliada em R$ 1 bilhão e agora vale R$ 155 milhões na B3.
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