(Germano Lüders/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 16 de agosto de 2023 às 16h06.
Uma pesquisa realizada pelo Bank of America Merrill Lynch (BofA) mostra um cenário de otimismo ainda cauteloso com a bolsa brasileira. Entre os 32 profissionais ouvidos de casas que gerem ao todo US$ 112,5 bilhões, 38% planejam aumentar a alocação em ações, ante 50% no mês anterior.
Esses fundos, no entanto, permanecem com nível de caixa elevado. Segundo o BoFA, o patamar está em 8% em agosto, próximo do maior patamar histórico, de 8,4%. A média histórica é de 5,1%.
"Nós vemos uma alocação em ativos de risco no setor financeiro e de consumo discricionário, e menos propensos a investir em setores com um beta menor, como comunicação e bens essenciais", diz o relatório. Entre as teses, mais de 30% dos entrevistados respondeu que prefere ativos de alta qualidade, seguidos de perto por Crescimento e Valor (ambos perto dos 30%).
A maior parte dos gestores acredita que a Selic precisa chegar a pelo menos 10% para que haja de fato movimento de rotação de ativos em direção a ações. Metade dos participantes acredita que a procura por esses ativos deve ganhar impulso com a taxa básica de juros nesse patamar, enquanto outros 32% acreditam que é necessário chegar a uma Selic ainda menor, entre 9% e 7%.
As expectativas não devem se materializar neste ano, com os gestores esperando um ritmo de cortes da taxa de juros de 0,50 ponto percentual daqui até o final do ano. Mais da metade dos participantes acredita que a Selic deve fechar o ano entre 11% e 12%.
Mesmo com o horizonte de um prazo mais longo para chegar ao patamar considerado ‘ideal’ por metade dos entrevistados, o otimismo já começou a se materializar nos fundos de investimento locais. Os saques de fundos de ações ficaram em um patamar consideravelmente menor em julho, bem próximo do zero a zero em relação às captações. Segundo os dados do boletim de fundos da Anbima, os saques ficaram em R$ 0,3 bilhão em julho, ante R$ 6,1 bilhões negativos no mês anterior. Nos últimos doze meses, os saques somam R$ 16,4 bilhões.
Além disso, a reabertura do mercado já é visível para ofertas subsequentes. No último mês, players como Oncoclínicas, MRV e Hidrovias fizeram follow-ons demandados -- e já começa a se especular, no mercado, quanto tempo vai levar para que as ofertas primárias saiam do papel.
Esse impulso, na visão dos entrevistados, deve ajudar o Ibovespa daqui até o fim do ano. De acordo com a pesquisa, 88% dos gestores acreditam que o Ibovespa deve fechar o ano em mais de 120 mil pontos (ante 76% na edição anterior). Outros 41% esperam uma atividade ainda maior, com o Ibovespa acima de 130 mil pontos (quase o dobro do mês anterior, em que o percentual era de 23%). O maior risco observado pelos executivos, hoje, é o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos.
As atenções estão voltadas para entender melhor como o cenário externo deve se comportar — e como devem afetar o Brasil daqui para frente. Não há um consenso a respeito do papel dos estímulos da China em relação ao preço de commodities, bem como sobre o comportamento do dólar daqui até o fim do ano.
Em relação ao país asiático, houve uma reversão de percepção em relação à edição de julho. Enquanto no mês passado a maior parte dos entrevistados (60%) acreditava que os estímulos levariam a um aumento de preços de commodities, neste mês, esse é o percentual dos que acreditam que não haverá inflação no setor.
Os entrevistados na LatamFund Manager Survey se dividem da seguinte forma: 53% trabalham em hedge funds, outros 28% em fundos mútuos e outros 14% em fundos institucionais. Mais da metade (56%) está envolvida com alocação direta de patrimônio.
Um quarto dos entrevistados gere um montante de US$ 1 bilhão, 28% declararam responder por mais de US$ 250 milhões e outros 22% respondem por US$ 500 milhões.
Em relação ao prazo, 39% investe em um horizonte de tempo de seis meses e outros 36% têm um prazo mais longo, de 12 meses ou mais.