Tegram: movimentação de 8 milhões de toneladas de grãos ao ano e perspectiva de duplicação da capacidade até fim de 2020 (Divulgação/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 18 de junho de 2020 às 18h23.
Última atualização em 18 de junho de 2020 às 19h53.
A gestora IG4 Capital acaba de assinar um acordo para comprar 100% do capital da CLI (Corredor Logística e Infraestrutura), sócia-operadora do Terminal de Grãos do Maranhão, um consórcio que inclui ainda três tradings do mercado agrícola. O Tegram, como é conhecido, é fruto de investimentos de 600 milhões de reais e movimenta 8 milhões de toneladas de grãos para exportação ao ano. Até o fim de 2020, serão concluídas as obras para duplicação dessa capacidade.
A transação, como é praxe no modelo de negócios da IG4, envolve aquisição e reestruturação de dívida, com conversão em capital, conforme apurou o EXAME In com fontes próximas ao acordo. Os compromissos reestruturados pertenciam à Cantagalo General Grains (CGG) Trading, antes dona da CLI, e tinham um valor de face de 236,6 milhões de dólares — perto de 1,2 bilhão de reais ao câmbio atual. A negociação vem ocorrendo há cerca de oito meses.
A CGG Trading é controlada pelo Grupo Coteminas, de Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar. A Cantagalo sai totalmente desalavancada do negócio, feito pela IG4 em parceria com os bancos credores da empresa — Bradesco, Votorantim, Santander, Banco do Brasil, ABN Amro, Rabobank, MetLife e Bank of China.
A gestora assumiu o controle da CLI e as instituições credoras receberam o terminal como garantia pela parcela da dívida que foi reorganizada e que ficará na CLI — cerca de 100 milhões de dólares. O plano do Tegram é transformar o Porto de Itaqui, no Maranhão, no principal ponto de exportação de grãos das regiões Norte e Nordeste do Brasil. A CLI opera ainda projetos em infraestrutura e logística de grãos, com armazenagem e transporte pelos modais ferroviário e rodoviário. Além da empresa, são sócios, com 25% do capital cada um, a Glencore, a Nova Agri e mais LDC (Dreyfus), Amaggi e Zen-Noh.
Trata-se da terceira transação Fundo II de private equity da IG4, fruto da captação de 400 milhões de dólares, em duas tranches, no ano passado. A gestora é comandada por Paulo Mattos, que montou o negócio com mais três sócios após deixar a GP Investimentos, onde era o responsável pelo segmento de infraestrutura e foi o criador da BR Towers, empresa que consolidou o mercado de torres de telefonia celular a partir da aquisição de ativos da Telefônica Vivo.
O primeiro fundo da casa é de 2017, exclusivamente dedicado ao controle da Iguá, antiga CAB Ambiental e hoje terceira maior companhia de saneamento básico privada do país. A empresa está preparada, desde o ano passado, para fazer uma oferta pública inicial (IPO) na B3, depois que a questão do marco regulatório setorial do Brasil estiver superada.
A IG4 é hoje uma gestora de ativos de infraestrutura que administra cerca de 2,5 bilhões de reais — 500 milhões de dólares. Desse total, a maior parte é do segundo fundo, que já investiu na compra de dois hospitais para formação da Opy Health — um na Amazônia e outro em Belo Horizonte, que, juntos, somam 800 leitos. O modelo de negócios da empresa é adquirir infraestrutura hospitalar e laboratorial para uso pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O Tegram é o segundo investimento na prática, mas o terceiro, de fato. Isso porque a gestora já se comprometeu a comprar, em parceria com mais dois investidores (em formato de club deal), o maior conglomerado de infraestrutura do Peru, o Graña y Montero, que também atua no Chile e na Colômbia, dentro de um processo de reestruturação de dívidas da ordem de 900 milhões de dólares. A ideia é transformar a empresa na CCR dos Andes, focada em concessões de transporte e logística.
Com foco em ativos de infraestrutura adquiridos a partir de operações de reestruturação de dívida, a IG4 tem hoje atuação na América Latina, mais escritório em Londres. O próximo movimento, para um terceiro fundo, é captar para aplicar sem fronteiras, segundo apurou o EXAME In.
O modelo de negócios é reestruturar companhias e dar ritmo de crescimento a operações que, em sua maioria, possuem demanda reprimida e não dependem da expansão da economia brasileira.