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Gerdau desiste de planta no México e vê EUA mais aquecido – mas ainda sofre com Brasil

Possíveis impactos de tarifas no setor automotivo levaram a desistência de fábrica nova mexicana; no mercado doméstico, empresa avalia pé no freio em investimentos por causa do aço chinês

Companhia viu uma antecipação da demanda de alguns clientes nas suas operações nos Estados Unidos (Tamires Kopp/Exame)

Companhia viu uma antecipação da demanda de alguns clientes nas suas operações nos Estados Unidos (Tamires Kopp/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 29 de abril de 2025 às 13h59.

Última atualização em 29 de abril de 2025 às 16h12.

Se alguém quer entender os impactos das disputas comerciais, avaliar o balanço da Gerdau (GGBR4) é bom caminho.

A siderúrgica brasileira vem há meses lamentando o crescimento das importações do aço asiático no Brasil. Mas, com operações nos Estados Unidos, viu com bons olhos as tarifas anunciadas pelo governo de Donald Trump.

O efeito do anúncio das tarifas por Trump já se faz sentir. A companhia viu uma antecipação da demanda de alguns clientes nas suas operações nos Estados Unidos.

A venda na unidade da América do Norte, que inclui as plantas americanas e mexicanas, cresceu 8% no primeiro trimestre.

Mas isso não quer dizer que não faltem incertezas. A companhia vem acompanhando com atenção as volatilidades causadas pelo cabo de guerra comercial, afirmaram o CEO, Gustavo Werneck, e o CFO, Rafael Japur, em entrevista coletiva após a divulgação de resultados no primeiro trimestre.

Se, por um lado, clientes americanos se anteciparam e resolveram proteger estoques, por outro há também um receio de desaceleração em alguns setores. “Nosso posicionamento hoje nos EUA é muito para atender grandes obras de infraestrutura. Isso nos leva a crer que a recessão nos pega menos, já que as grandes obras continuam”, diz Werneck.

Ainda assim, a visão turva de mercados deixada pelo anúncio de tarifas levou a Gerdau a cancelar o investimento em uma nova planta que faria no México. A unidade, que seria de aços planos e bastante focada em atender o setor automotivo, teria capacidade de produzir 500 toneladas ao ano, ao que analistas de mercado atribuiam um valor de US$ 600 milhões em investimento.

“O tema da tarifa vai trazer uma transformação mais profunda para o setor automotivo. Vai haver uma reconfiguração dessas cadeias, e nossa decisão passa muito por isso, pela incerteza de como vai se reconfigurar”, disse Werneck.

A companhia já opera três plantas no México para outros produtos, como vergalhão, por exemplo.

Enquanto isso, no Brasil...

A disputa comercial também afeta o cenário para a companhia no Brasil.

Por ora, a Gerdau manteve a previsão de R$ 6 bilhões em investimentos em 2025, mesmo patamar de 2024. Capitalizada, essa seria a tendência de investimento anual da Gerdau, segundo os executivos.

Mas a disputa do mercado brasileiro com o aço importado pode levar a companhia a revisar seus planos mais à frente.

"Estamos analisando com muito detalhe a possibilidade de reduzir o capex. No Brasil, a lentidão nos mecanismos de defesa comercial aumenta a nossa preocupação, e há uma forte possibilidade de reduzir investimentos", afirma Werneck. A decisão valeria apenas para os próximos anos e os investimentos programados para 2025 não sofreriam alteração.

Uma das alternativas estudadas, segundo Japur, é usar parte dos recursos para a recompra de ações da companhia. A companhia está com programa aberto de recompra de ações. Até 11 de abril, recomprou 44% do planejado.

O aço importado, em especial o chinês, segue sendo a pedra no sapato da empresa, cujas operações brasileiras ficaram mais pressionadas de janeiro a março. As vendas no mercado interno caíram 4,6%. No primeiro trimestre de 2025, a participação do aço importado no mercado nacional chegou a 22%.

Em maio, a política de cota-tarifa de 25% para alguns produtos do setor siderúrgico se encerra e a expectativa da companhia é de que seja revista.

“Se for isonômico, todo aço que entra no Brasil deveria pagar taxa para competir de igual para igual. A tarifa atual de 25% não traz competitividade, e a China paga essa taxa para continuar produzindo”, diz Werneck.

A política de cotas, na visão da Gerdau, se mostrou ineficiente, já que, segundo o CEO, “não há limite de volume que entra no Brasil sem pagar taxa”.

Os resultados do primeiro trimestre de 2025 da Gerdau mostraram crescimento na receita líquida, que alcançou R$ 17,4 bilhões, uma alta de 7,2% em relação ao mesmo período de 2024.

No entanto, o lucro líquido ajustado da companhia caiu 39,1%, somando R$ 758 milhões. O EBITDA ajustado ficou em R$ 2,4 bilhões, 14,6% inferior ao registrado no primeiro trimestre de 2024.

Às 12h20, as ações da Gerdau caíam 0,71%, para R$ 15,44. No ano, o papel recua quase 14%.

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