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Futebol, IA e a maldição do combustível fóssil: a visão do gestor do fundo saudita de US$ 1 trilhão

Yasir Al-Rumayyan está à frente do PIF e da Saudi Aramco, e alertou para o enorme avanço no uso de energia provocado pelas ferramentas de inteligência artificial

Al-Rumayyan: estratégia da Arábia Saudita é 50% de produção de energia renovável até 2030 (FII Priority/Divulgação)

Al-Rumayyan: estratégia da Arábia Saudita é 50% de produção de energia renovável até 2030 (FII Priority/Divulgação)

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 12 de junho de 2024 às 15h29.

Última atualização em 12 de junho de 2024 às 17h17.

Quando Yasir Al-Rumayyan fala, convém escutar. O saudita está à frente do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (o PIF), com US$ 925 bilhões sob gestão. Também é presidente do conselho de administração da Saudi Aramco, a maior petroleira do mundo, além de outros cargos relevantes no reino saudita. Nesta quarta-feira ele subiu ao palco do FII Priority, evento organizado por um braço não lucrativo do PIF, no Rio de Janeiro.

Estavam na plateia do abarrotado salão do Copacabana Palace o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do BNDES, Aluízio Mercadante, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, entre outros tantos políticos e empresários. Al-Rumayyan foi entrevistado pelo diretor do BNDES Nelson Barbosa, e começou exaltando o Brasil de uma maneira curiosa.

"O Brasil é muito grande. É um país que já tem 16 unicórnios", afirmou, referindo-se às startups que chegam à marca de 1 bilhão de dólares de valuation. Era uma mostra de que seu foco vai além das commodities, mesmo na cadeira de comando de uma petroleira.

“Cerca de 80% de nossos investimentos são domésticos. Temos 1 trilhão de dólares investidos e acordos para de 2 a 3 trilhões de dólares para implementar até 2030", afirmou. "Nossos investimentos internacionais são 20% dos ativos, mas ainda assim são 200 bilhões de dólares".

O PIF começou a investir no Brasil em 2016, por meio da Salic (Saudi Agricultural and Livestock Investment Company), sócio das produtoras de carne Minerva e BRF. Segundo Al-Rumayyan, o foco continua em alimentos, tecnologia, energias renováveis e mineração -- além de futebol.

"Setenta por cento da população saudita tem menos de 35 anos, então queremos recriar a indústria de entretenimento pelo esporte e penso que aqui é o melhor lugar para falar sobre futebol", afirmou. O país se transformou nos últimos anos ativo investidor em jogadores de futebol, como Neymar, além de ter criado uma liga de golfe e uma nova cidade dedicada aos e-sports, tem que tem um painel dedicado no evento do Rio.

Para além do petróleo

Al-Rumayyan reiterou a aposta saudita de ir além do petróleo, apesar de o país produzir 10 milhões de barris por dia. Os combustíveis fósseis, afirmou, são "amaldiçoados", e por isso recebem cada vez menos investimentos. "A estratégia da Arábia Saudita é 50% de produção de energia renovável até 2030", disse. "Por isso o PIF é um dos principais investidores em novas energias".

Entre os investimentos estão a Acwa Power, uma companhia com investimentos em fontes renováveis como a energia solar, e a Neom, uma companhia que já investiu mais de 8 bilhões de dólares em hidrogênio verde. "Temos reduzido o custo de produção solar para um centavo por quilowatt-hora. Não investimos só porque é bom para o mundo, mas porque esse tipo de energia tem o melhor custo benefício. Esta é a forma como ampliamos os investimentos", disse. "O problema é que há muito desequilíbrio entre norte e sul. Só 5% do investimento global em energia renovável está no Sul".

A demanda por energia, destacou o saudita, só vai crescer com o avanço da inteligência artificial. "Não sabemos para onde a IA vai, mas podemos concordar que vai demandar uma enorme infraestrutura", disse. Al-Rumayyan calcula que as ferramentas de IA, sozinhas, ampliarão a demanda global por energia em 3% a 6% ao ano. Segundo ele, em um único dia o ChatGPT consome a mesma energia que 280 mil casas na Califórnia consomem em um ano.

"Esse é o maior desafio para o mundo, já que haverá mais emissões se continuarmos usando combustíveis fósseis. Precisamos empoderar a IA através da energia renovável", disse. "O Brasil está bem posicionado para ser um dos principais players", disse. O que o país precisa, completou, é de boa regulação  e de apoio do governo para atração de investimentos.

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