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"Fusão não resolve problema de dívida", diz CEO da Latam sobre Gol e Azul

Expectativa de executivo é de que o Cade imponha medidas de mitigação para preservar a concorrência no setor aéreo brasileiro

Cadier: "O ativo em si é saudável, mas o desafio é como financiá-lo em um cenário de juros elevados" (Arquivo Pessoal)

Cadier: "O ativo em si é saudável, mas o desafio é como financiá-lo em um cenário de juros elevados" (Arquivo Pessoal)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 13h49.

Uma das três maiores companhias aéreas do país, a Latam está acompanhando de perto a possibilidade de fusão entre as concorrentes Gol e Azul.

O CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, afirmou que ainda é cedo para avaliar os impactos da combinação, mas destacou que fusões menores já foram barradas por regulações antitruste em outros países. "O MoU é muito genérico e não vinculante, e muitas questões precisam ser esclarecidas, como as medidas de mitigação que serão exigidas", explicou.

Cadier ressaltou que a Latam espera que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) conduza uma análise rigorosa para garantir que o mercado brasileiro continue competitivo. "Uma combinação de negócios desse porte poderia representar 60% do mercado brasileiro, o quarto maior do mundo. Temos certeza de que o Cade fará uma avaliação profunda e proporá medidas de mitigação para evitar impactos negativos ao consumidor", disse Cadier.

A Latam também defende que seja ouvida no processo de avaliação, dada a relevância da operação para o setor. "Vamos participar desse processo sem dúvida nenhuma", afirmou o executivo.

Mas Cadier é cético quanto ao sucesso do negócio. "O ativo em si é saudável, mas o desafio é como financiá-lo em um cenário de juros elevados. Tenho minhas dúvidas se a associação de duas empresas é o melhor caminho para resolver um problema de dívida", afirma.

Resultados de 2024 e perspectivas para 2025

A Latam Brasil encerrou 2024 com resultados históricos em diversas frentes, incluindo engajamento dos colaboradores, satisfação dos clientes e desempenho financeiro sustentável. "Nossa preocupação com custos é constante, praticamente paranoica", destacou Cadier.

A companhia encerrou o quarto trimestre com alta de 1,8% no lucro líquido ajustado, a US$ 174,5 milhões. As receitas ajustadas avançaram 4,4%, para US$ 3,39 bilhões, impulsionadas pelo aumento de 0,7% nas receitas de passageiros e um aumento de 29,1% nas receitas de carga.

A companhia se beneficia de uma estrutura de custos competitiva e de uma parte significativa da receita proveniente de passageiros frequentes e do mercado corporativo, além de uma exposição relevante a receitas em moeda forte.

Para 2025, apesar das incertezas econômicas, a empresa prevê continuidade do crescimento, mantendo sua oferta no Brasil entre 7% e 9%. Cadier reforça que, mesmo com a volatilidade do câmbio e os desafios fiscais, não há, por ora, necessidade de revisar o guidance para o ano.

De acordo com um relatório do Goldman Sachs, a Latam se destaca pelo desempenho financeiro sólido e por sua capacidade de adaptação a cenários adversos. A análise aponta que a companhia conseguiu expandir sua margem EBIT para 13,6% no quarto trimestre de 2024, um avanço de 2,8 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Além disso, a empresa encerrou o ano com cerca de US$ 2 bilhões em liquidez imediata e um índice de alavancagem de 1,7x, demonstrando uma estrutura financeira equilibrada.

Expansão da frota e alternativas para o futuro

Outro ponto de atenção para a Latam é a expansão da frota. Devido às restrições de motores e à disponibilidade limitada de aeronaves no mercado, a companhia está estudando alternativas para compor sua malha aérea, incluindo novas aeronaves da Embraer e da Boeing, além da família Airbus A320 que já opera.

Programa de recompra de ações e retorno ao acionista

A Latam também está avaliando formas de retorno de capital aos acionistas. A companhia estuda a implementação de um programa de recompra de ações no valor de até US$ 150 milhões, o que representa aproximadamente 2% de seu valor de mercado atual. A administração da empresa avalia se essa recompra pode ser executada sem comprometer a liquidez dos papéis, em linha com sua estratégia de alocação de capital.

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