Tela Os Operários, de Tarsila do Amaral: Fundação Itaú quer mostrar, com números, que economia criativa representa crescimento e desenvolvimento para país (Jorge Bastos Acervo Artístico-Cultural do Palácio do Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)
Editora Exame IN
Publicado em 10 de abril de 2023 às 15h33.
Última atualização em 10 de abril de 2023 às 15h55.
A Fundação Itaú quis e conseguiu colocar em números a percepção de que a Cultura é transformacional. Dentro do que é possível medir, a organização fez esse trabalho por meio do Observatório Itaú Cultural. O resultado do estudo surpreende: a chamada Economia Criativa respondeu por 3,11% do PIB em 2020, ou uma geração de riqueza superior a R$ 230 bilhões. No ano marcado pela pandemia, superou até mesmo a indústria automotiva. É o primeiro levantamento do tipo que se propõe a um trabalho contínuo de medição.
A metodologia foi desenvolvida, ao longo de um ano e meio, por um grupo de pesquisadores, liderado por Leandro Valiati, professor e pesquisador da University of Manchester, no Reino Unido, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foram mais de 30 especialistas nacionais e 4 internacionais envolvidos na criação do método de cálculo, comparando com medições realizadas no Reino Unido, na França, na Colômbia e na União Europeia.
“O motivo maior é porque a sociedade, governos e as próprias empresas precisam reconhecer e perceber que a economia da Cultura e as indústrias criativas são um eixo profundamente estratégico para o desenvolvimento econômico e social”, explica Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, em entrevista ao EXAME IN, sobre as razões que levaram .
O levantamento refere-se a 2020 porque é o último ano para o qual existem disponíveis os diversos dados usados para os cálculos. Mas a pesquisa retrocedeu até 2012 para avaliar como foi a evolução. O que se encontrou é que a participação da Economia Criativa sobre o PIB evoluiu de 2,72% para 3,11% nesse período. Na prática, isso significa que esse campo da atividade teve uma expansão superior à média do PIB.
De acordo com a pesquisa coordenada por Valiati, enquanto o PIB brasileiro teve expansão de 55% entre 2012 e 2020, o PIB da Economia Criativa avançou 78%. "Junto com o tamanho da riqueza produzida, esse foi um dos números mais surpreendentes", comenta Saron. Os setores criativos reúnem moda, atividades artesanais, indústria editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.
Cada vez mais, a soma dessas atividades está mais próxima de um setor que historicamente sempre respondeu por grande parcela do PIB: o de construção. Em 2012, esse segmento equivalia a 6,5% do PIB, percentual que recuou para algo entre 3,8% e 4,%, a partir de 2018.
Existem mais de 130 mil empresas que podem ser classificadas dentro desse ramo e o segmento de moda ocupa destaque especial. Desse total, mais de 50 mil companhias são da indústria de moda. "O setor da moda, para mim, é o que mais perfeitamente expressa a relação entre o industrial e o criativo", destaca Valiati. Ele explicou que a composição do setor enquadrado como economia criativa não vai nem até o agronegócio, com a produção de algodão, nem até serviços, com os varejos de fast fashion. Estão concentradas aí atividades que envolvem a produção, estamparia e testurização, por exemplo.
Com dados mais recentes, é possível ver que essa economia envolveu 7,4 milhões de empregos formais e informais no país, o equivalente a 7% da massa de trabalhadores do país. O número é 4% maior que o verificado em 2021. Só no ano passado, a cultura e a economia criativa geraram 308,7 mil novos postos de trabalho no país.
“Todo esse processo de construção e mensuração envolve quase uma conscientização sobre relevância desse setor não só para o crescimento, mas para o desenvolvimento da sociedade”, afirma Valiati na entrevista. "A Economia Criativa envolve atividades econômicas que têm elementos e impactos que vão além do PIB e é também uma conexão entre tecnologia, valor simbólico e uma nova economia que emerge."
Saron completa a análise lembrando como o setor de tecnologia precisa das indústrias culturais tradicionalmente conhecidas para desenvolver novos serviços e produtos. "O Spotify só existe porque existe a música. A Netflix, porque existe a produção audiovisual."
A partir dessa primeira publicação, os dados ficarão disponíveis no Observatório Itaú Cultural. "Nosso desejo é que sejam consultados e usados por governos, para desenvolver políticas públicas melhores, e até por empresas, que querem entender o impacto de suas ações", destaca o executivo da Fundação Itaú. A partir de agora não há mais desculpas, a relevância está provada e medida.