Light: esforço de melhoria nos indicadores de qualidade para garantir renovação da concessão (Light/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 31 de março de 2021 às 19h52.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 14h37.
A emissão de R$ 850 milhões em debêntures simples, com prazo de dez anos, planejada pela distribuidora de energia Light não é apenas um marco para contribuir com o alongamento dos compromissos da companhia. É bem mais do que isso. O vencimento pretendido para o papel está causando o maior “zum-zum” no mercado.
Nos últimos anos, as operações da empresa carioca tinham um teto: 2025, um ano antes de quando termina o contrato de concessão. O motivo é intuitivo e não demanda muita ciência. Para ter recursos para honrar os vencimentos, a empresa precisa ter receita operacional.
A próxima captação, portanto, pressupõe a renovação desse contrato. A expectativa é que a operação se torne pública e também suas condições na próxima semana. Por enquanto, a empresa apenas informou que solicitaria à Anbima o registro da emissão, no valor de R$ 850 milhões, com possível acréscimo de 20% do total — o que levaria o total a R$ 1 bilhão. O prazo de dez anos, portanto, ainda não é oficial, mas é dado como certo pelos investidores.
De acordo com pessoas próximas à operação, não se trata de uma grande questão, o descasamento com a concessão, pois a expectativa sempre foi que a companhia pedisse a renovação do contrato. E não há temor significativo de que existam problemas nisso. Além disso, o papel terá uma cláusula de antecipação do vencimento, caso 12 meses antes do prazo final a renovação não tenha sido assinada.
Para validar a renovação, a Aneel coloca os holofotes em dois principais indicadores: Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora — a DEC — e Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora — a FEC. Depois de passar diversos anos operando acima dos limites regulatórios, a companhia fez a lição de casa e vem melhorando seus números. Desde 2018, a empresa trabalha abaixo do teto dado pela agência do setor.
As perdas não operacionais de energia — os famosos "gatos", eterno calcanhar de aquiles da Light — afetam a receita da companhia, mas não estão entre as questões que a Aneel considera para decidir pela renovação.
A Light está em um processo de reorganização da dívida, para melhoria do perfil — o que significa mais prazo e menos custo. Só neste começo de ano, amortizou antecipadamente uma dívida de R$ 300 milhões com BNDES e emitiu uma debênture — com vencimento em 2025! e custo de CDI mais 2,6% ao ano — para recomprar outra, emitida em 2013 e que pagava IPCA + 5,74%. No ano passado, a empresa levantou R$ 1,4 bilhão por meio de uma oferta de ações para reforçar o caixa e melhorar a alavancagem.
A distribuidora tem novos acionistas à frente do negócio, o que contribui para uma melhor percepção. O ex-banqueiro Ronaldo Cézar Coelho e Beto Sicupira, do trio da 3G Capital, detêm cerca de 30% do capital da companhia, que deixou de ter a Cemig como sócia. Na bolsa, vale hoje R$ 7,5 bilhões.
A consolidação dessas mudanças ocorreu no ano passado, após o susto do mercado com a pandemia. Em março de 2020, a Light valia menos de R$ 3 bilhões, o que abriu uma janela de oportunidade para os movimentos de Coelho e Sicupira. Na assembleia anual deste ano, a companhia vai trocar seis de seus nove conselheiros, o que dará ainda mais consistência a essa transformação societária.
Mesmo com as boas notícias, o mercado está ansioso para saber qual será a remuneração dessa debênture, mais longa e mais arriscada. O risco está na concessão e no fato de a empresa ter muitos compromissos que terão de ser pagos até 2025. Encontrar uma taxa atrativa para os investidores e que faça sentido para o negócio será o segredo para a captação alcançar a casa do bilhão. A emissão será coordenada pelo Santander e o sindicato de bancos inclui Itaú BBA, BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) e UBS.
A última emissão com prazo de dez anos feita pela Light ocorreu em 2013. Desde outubro de 2018, quando houve uma captação de sete anos, os títulos vendido sempre tinham prazos de, no máximo, cinco anos, e dentro do limite da data de concessão.
O contrato de concessão é uma das razões para a dívida da companhia estar muito concentrada no curto prazo, inclusive. Neste ano, há R$ 1,4 bilhão em abril e maio. Em 2022, há mais R$ 1,25 bilhão. O ano de 2023 é um dos mais pesados: são R$ 600 milhões e mais US$ 600 milhões, o que hoje seria perto de R$ 4 bilhões. Para 2024, há compromissos que somam menos de R$ 550 milhões, e existem mais R$ 2,2 bilhões para 2025.