Jeane Tsutsui, CEO: “Eficiência e uso adequado de recursos são fundamentais para o Fleury e para todo o sistema de saúde” (Leandro Fonseca/Exame)
Editora do EXAME IN
Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 15h42.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2025 às 08h44.
Num momento em que a pauta ESG vem sendo colocada sob escrutínio, em meio à polarização política e à vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, o Fleury está anunciando progressos – e mostrando como os títulos de dívida atrelados a metas socioambientais podem ser um bom motor para atingir resultados.
A rede de medicina diagnóstico atingiu o objetivo de chegar a mais de 1 milhão de usuários das classes C, D e E sem acesso a plano de saúde, constante em uma emissão de R$ 1 bilhão em debêntures feita em julho de 2021.
A meta era atingir esse número até junho de 2026, com uma medição intermediária no meio do ano passado de 250 mil.
Uma avaliação feita no fim do ano passado mostra que a empresa a atingiu com folga, chegando a 1,8 milhão de usuários com esse recorte de classe no período.
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“Trabalhamos arduamente para entregar essa meta, via uma oferta de serviços que contemplasse essa população e, no meio do caminho, fizemos aquisições que ajudaram a ampliar o acesso a saúde dentro do nosso modelo de negócio”, afirma a CEO do Fleury, Jeane Tsutsui.
Na época da emissão, o foco era principalmente na plataforma de serviços batizada de Saúde ID, que inclui serviços de telemedicina, exames e procedimentos a valores mais acessíveis
A plataforma vem avançando, mas o grupo fez também uma aposta na acessibilidade via as suas marcas de medicina diagnóstica. A fusão transformacional com o Hermes Pardini ajudou no processo.
A empresa é dona da Pardini Express, que realiza exames de análises clínicas, com exames simples que começam na faixa dos R$ 10. O Lafe, no Rio de Janeiro, adquirido em 2018, também uma ampla oferta voltada para a população de mais baixa renda.
“Para nós esse é um caso muito relevante de como o ESG é poderoso quando integrada ao modelo de negócio”, ressalta Tsutsui. “É uma forma de dar acesso a saúde e, ao mesmo tempo que aumenta nosso mercado endereçável”.
O Fleury atende desde a classe média alta, nos laboratórios que levam o nome do grupo, até a classe média baixa em outras bandeiras, mas atinge principalmente a população que tem acesso a planos de saúde.
Em meio às dificuldades estruturais do setor no Brasil, a quantidade de brasileiros com acesso a plano está estagnada em cerca das 50 milhões de pessoas – um indicador muito ligado à taxa de emprego no país.
No caso do Fleury, a maior parte da ampliação do acesso veio por meio de telemedicina e exames de análises clínicas, de tíquete médio mais baixo. Quando as debêntures foram lançadas, havia a expectativa de ampliar o acesso também a cirurgias eletivas mais simples a valores mais acessíveis e em parcelas. Mas, nesse quesito, a prática se mostrou mais desafiadora que a teoria.
“Por mais que a gente consiga preços acessíveis, o tíquete médio de cirurgias é mais alto e muito dependente de renda e acesso a crédito”, pondera Tsutsui.
Não entram na meta das debêntures as iniciativas de filantropia, como multirões de exames e parcerias com instituições, como a Gerando Falcões, que inclui oferta de telemedicina e exames para a população carente de Paraisópolis.
Por enquanto, não há uma nova meta pública de acesso – mas a ideia é seguir ampliando a oferta para esse tipo de público, diz Tsutsui.
Nos títulos lançados em 2021 em três séries – totalmente encarteiradas à época por um único investidor –, os juros subiam caso o Fleury não atingisse as metas estipuladas. Essa modalidade de emissão é diferente das debêntures verdes ou sociais, em que os recursos precisam ser carimbados para ações que fomentem essas agendas. No caso dos títulos com metas atreladas a ESG, o uso dos recursos é livre.
As debêntures do Fleury incluem ainda uma meta ambiental, de redução de resíduos biológicos gerados durante os procedimentos. O objetivo era reduzir em 20,5% os resíduos até o fim de 2025. Uma medição no fim de 2023 mostrou uma queda de 14%. “Estamos no caminho para atingir a meta”, diz a CEO.
Depois de uma explosão de títulos de dívida socioambientais entre os anos de 2020 e 2021, esse mercado teve uma retração. O Fleury afirma que não se tratou de “moda” – e defende a adoção e os resultados da iniciativa. “É uma boa forma de alinhar toda a organização, do operacional ao financeiro, numa agenda em comum”, resume a executiva.