Albert Morales, diretor da Belvo no Brasil: a empresa, fundada em 2019, tem operações no Brasil, México e Colômbia (Belvo/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 1 de junho de 2021 às 09h30.
Última atualização em 1 de junho de 2021 às 12h15.
Dois anos atrás, quando a América Latina dava seus primeiros passos em direção ao open banking, dois espanhóis com experiência no mercado financeiro decidiram empreender na região. Pablo Viguera e Oriol Tintoré, que se conheceram na operação da Verse, uma espécie de PicPay espanhola, fundaram a fintech Belvo em meados de 2019. O negócio começou a operar no México ainda em 2019, depois rumou para a Colômbia e, em outubro do ano passado, desembarcou no Brasil — sua principal aposta hoje.
No Brasil, o open banking é uma das iniciativas do Banco Central para gerar mais competição no mercado financeiro. O modelo parte do pressuposto de que o dono de dados e de informações disponíveis em contas, inclusive bancárias, é o cliente, não a instituição. O open finance, então, permite que o usuário compartilhe essas informações com outras entidades: aplicativos de organização e gestão financeira, bancos, corretoras, cooperativas de crédito, fintechs.
Para que esse compartilhamento de informações funcione, empresas como a Belvo existem. Ela construiu ao longo dos últimos dois anos infraestruturas que permitem a conexão entre bancos e fintechs. Mas seu grande diferencial é ter desenvolvido tecnologias que ajudam as instituições financeiras clientes a navegar pelo mar de dados e interpretá-los.
Com os planos do Banco Central do Brasil para o open banking caminhando — a primeira fase foi iniciada em fevereiro e a segunda, em que clientes poderão solicitar o compartilhamento de seus dados, está prestes a começar agora em julho — a Belvo foi buscar um investimento no mercado para acelerar o desenvolvimento do seu produto.
A empresa anuncia nesta terça-feira, 1º, ter captado um aporte de US$ 43 milhões (cerca de R$ 225 milhões) em sua rodada série A, que trouxe os investidores institucionais Future Positive (Pinterest, Square), Kibo Ventures (Flywire, Coverwallet) e FJLabs (Checkr e Recargapay), além de anjos como Sebastián Mejía, cofundador e presidente da Rappi, e Harsh Sinha, diretor de tecnologia da Transferwise.
Investidores anteriores, como Kaszek Ventures, Maya Capital, Venture Friends e David Vélez (fundador e presidente do Nubank) também participaram da rodada. Até então, a fintech havia levantado US$ 13 milhões em aportes.
“A Maya Capital fez seu primeiro investimento na Belvo no final de 2019 e, desde então, o time fez avanços significativos em sua solução, expansão internacional e carteira de clientes, já estando integrados com clientes relevantes como Mobills, Onze, Celero, Divibank e Clara. Sempre buscamos os times mais preparados para cada tese e temos convicção de que a Belvo é esse time, e que continuará a se solidificar como o principal player na América Latina”, diz Mônica Saggioro, cofundadora da gestora.
Em entrevista ao EXAME IN sobre o aporte, Albert Morales, diretor da Belvo no Brasil, disse que cerca de 50% do capital recebido na série A será investido na operação brasileira. Apesar de ter começado a operar no país há seis meses, cerca de 30 dos seus 60 clientes já são daqui — e isso é só o começo. A projeção da empresa é que o open finance movimentará 9,8 bilhões de dólares no Brasil em 2022.
"Nosso principal desafio hoje são as contratações. Temos uma equipe de 70 pessoas com zero saídas, mas a captação de talentos no México e no Brasil tem sido complicada, há muita demanda por parte das empresas de tecnologia. Nosso objetivo é pelo menos dobrar o tamanho da equipe até o final do ano", diz Morales.
A busca por novos funcionários tem como objetivo acelerar o desenvolvimento do produto. Hoje, a empresa tem cerca de 40 conectores que a permitem coletar dados financeiros. No jargão dos programadores, tratam-se de APIs (sigla em inglês para Interface de Programação de Aplicação). Segundo Morales, boa parte dessa infraestrutura é voltada para pessoas físicas, mas agora a fintech precisa desenvolver o mesmo para as pessoas jurídicas. "A meta é duplicar o número de conectores", afirma o diretor.
Outro desafio do time de tecnologia será a construção do serviço de iniciação de pagamentos no Brasil e no México. Por aqui, esses novos serviços devem começar a operar em 30 de agosto, segundo o Banco Central, e a Belvo quer estar pronta para oferecer essa operação a seus clientes. A ideia é que mesmo empresas não sejam "donas" das contas possam comandar transferências de dinheiro mediante autorização do cliente, o que facilitaria, por exemplo, o envio de Pix por aplicativos de mensagens.
As metas ambiciosas da fintech devem mantê-la ocupada até o final do ano. De acordo com Morales, pelo menos até dezembro, a empresa não planeja entrar em outros mercados da América Latina. Em 2022, caso a regulação avance, a fintech considera expandir para Argentina, Chile e Peru.
Além da Belvo, outras fintechs disputam espaço no open banking brasileiro. As pioneiras são o Guiabolso, que desde 2014 oferece um aplicativo de gestão financeira, e o Gorila, que consolida carteiras de investimentos em bancos e corretoras, mas outras devem surgir. A era sem fronteiras financeiras está só no começo no país.
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