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Farm: no aniversário de 25 anos, marca quer fazer “os próximos 25” acontecerem em três

Primeira marca global de roupas do Brasil vê um futuro com licenciamento além da moda e expansão da divisão internacional, sem perder de vista as raízes brasileiras

Farm Global: a grande aposta para empresa se tornar cada vez mais relevante (Farm/Divulgação)

Farm Global: a grande aposta para empresa se tornar cada vez mais relevante (Farm/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 14 de outubro de 2022 às 20h34.

Última atualização em 17 de outubro de 2022 às 11h25.

“Os ‘próximos 25 anos’ da Farm podem acontecer em três”, diz Marcello Bastos, co-fundador da marca, ao EXAME IN. A afirmação vem logo depois de ser questionado sobre o sentimento de a empresa comemorar um quarto de século e o que seria feito daqui para frente, de olho nas próximas duas décadas e meia. Os planos citados pelo executivo fazem jus à resposta, no fim das contas. Nos próximos três anos, a Farm, primeira marca brasileira a se tornar global, vai estender ainda mais os limites de onde chegou. Licenciamento de marca, novas regiões e um potencial ainda gigante a ser explorado no Brasil fazem o ‘combo’ do que promete ser o futuro da empresa. Ao menos até 2025. 

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Do lado brasileiro da operação, a marca tem hoje 90 lojas e deve fechar 2022 com R$ 1,2 bilhão em receita (numa conta leva em consideração a manutenção do patamar de crescimento do primeiro semestre deste ano comparado ao mesmo período do ano passado). Caso realmente chegue a essa cifra, a Farm vai superar as estimativas que tinha sobre o próprio faturamento em 2022 – de R$ 1 bilhão. Com a Farm Global nessa conta, o número pode chegar a R$ 1,7 bilhão, considerando que a estimativa dos R$ 500 milhões anunciada em 2021 de fato se confirme. Mas já vamos chegar ao lado “mundo” da marca mais adiante.

Em terras tupiniquins, a Farm planeja abrir mais 15 lojas no ano que vem, sendo sete na zona norte do Rio de Janeiro, um movimento inédito na capital carioca. É algo até de certa forma ‘atrasado’, dado o tempo em que está presente na cidade, e que deve ser replicado para outras regiões ao longo do tempo. 

“Hoje, no Brasil, a nossa percepção é a de conseguir crescer na medida em que a gente quiser. Podemos abrir 15 lojas, 20, quantas forem necessárias. Esse número de 2023 deve se tornar muito maior ao longo dos próximos três anos”, diz Bastos.

É um patamar em que a companhia chegou com muito esforço e capacidade de se adaptar às mudanças do mercado. Uma delas é o olhar para o social, principalmente desde 2016, data em que Taciana Abreu (hoje head de ESG do Grupo Soma) entrou na Farm. A preocupação, no fim das contas, sempre foi fazer algo consciente do que a empresa era capaz de entregar, um passo de cada vez. Algumas conquistas já apareceram: hoje, metade do quadro de vendas da marca é formado por colaboradores pretos, por exemplo — um cenário totalmente diferente do que era a empresa em 2006.

Da porta para fora, esses critérios também são considerados na oferta de produtos e nos movimentos de expansão da marca. A inclusão do tamanho GG, por exemplo (de novo, um passo pequeno, mas cuidadoso) é um exemplo disso. Ao realizar todos os estudos para fazer com que a modelagem permanecesse a mesma com este tamanho a mais, a empresa primeiro disponibilizou esse tamanho para 7% da coleção, percentual que rapidamente passou para 28%, depois 56%  e hoje está em 87%. Em relação à expansão geográfica da marca, esse movimento está muito mais relacionado a levar a oferta de produtos para regiões antes não consideradas prioritárias, como o interior, por exemplo. 

O plano de expansão da Farm é uma notícia já anunciada há algum tempo. Há cerca de dois anos, a empresa contratou uma consultoria (na época, tinha 70 lojas abertas no país) para estudar qual seria o melhor caminho para a expansão. Na época, ouviram dos consultores que a marca poderia ter 150 lojas no país. Foram ajustando a rota e, passo a passo, abriram 25 nos últimos 24 meses. Agora, ao revisitar o estudo (com 90 lojas), a conclusão é a de que a empresa tem a oportunidade de abrir mais 100 no futuro.

Para colocar os avanços em números: em 2019, a marca faturou R$ 630,2 milhões, cifra que teve queda com a pandemia (foi para R$ 614,4 milhões) e explodiu no ano passado, com R$ 898,4 milhões em receita anual. Isso só considerando a divisão nacional. 

Licenciamento: estampas da Farm em tudo?

Uma outra rota, já planejada para explorar a popularidade da Farm daqui para frente, foi anunciada no Investor Day do Grupo Soma neste ano e reforçada na fala do executivo durante a entrevista: a oportunidade de licenciamento. As collabs (produtos feitos em parceria com outras marcas, como a coleção com a Tok&Stok, por exemplo) foram um bom primeiro passo para a empresa chegar ao patamar almejado.

A estamparia da Farm, ao longo do tempo, se transformou em um case global. Fácil de ser identificada, mesmo ao olhar menos atento. Para manter tudo isso funcionando, a estrutura interna de profissionais que trabalham com estampas tem o mesmo número de profissionais (cerca de quarenta pessoas) do que o time de estilo. 

“A gente foi procurado por uma empresa dos Estados Unidos que tem uma filial no Rio e que nos disse ‘vocês têm muito dinheiro na mesa’. Dá para explorar a estética das estampas em todo o tipo de produto. Aliás, foi esse o principal fator do nosso sucesso quase imediato nos Estados Unidos. O que a gente quer é ir para uma indústria que pode ter a marca ou não, que vamos entender a qualidade do produto e liberar para a empresa fazer o que ela quiser. Por exemplo, imagine uma empresa de eletrodomésticos que vai usar a nossa estampa em 20 itens, isso seria só o começo. Aí, entramos em um novo modelo de remuneração, com royalties”, explica Bastos.

O objetivo é fazer de três a quatro licenciamentos anuais e que façam sentido para a Farm. A ideia é que, à medida que a marca de roupas abre mais lojas, o conhecimento de marca ajude ainda mais as outras marcas a terem sucesso nos licenciamentos.

Um primeiro passo importante já foi dado nesse sentido. A empresa, recentemente, foi convidada pela Starbucks Ásia e Oceania (região onde ainda nem está presente com as roupas) para desenvolver uma coleção de 15 itens. Hoje, os produtos não vêm para o Brasil, mas estão disponíveis em países como a Malásia, Austrália, Nova Zelândia e Japão. 

Farm Global

No último ano, a Farm Global faturou US$ 50 milhões e, em 2022, com a entrada em novas regiões, esse número deve crescer ainda mais. O primeiro país selecionado para receber a marca foi os Estados Unidos e, agora, a empresa está abrindo as portas na Europa. Daqui para frente, a expansão para outras regiões está nos planos da Farm. América Latina, Oriente Médio e cidades do leste europeu, por exemplo, estão nessa rota.

Para continuar crescendo nesses locais – especialmente nas regiões mais próximas ao Brasil –, a Farm vai passar a ter novas lojas geridas por parceiros locais, num esquema similar ao de franquias. A diferença é que os profissionais selecionados para geri-las serão selecionados com foco em experiência no mercado de atacado. 

A Ásia ainda não está nos planos, ao menos por enquanto. A sensação é que há muito trabalho a fazer antes de chegar lá. “A gente fez um estudo gigantesco com uma grande consultoria internacional e já foi possível ver que somos uma marca com alto reconhecimento nos Estados Unidos e que deve seguir o mesmo caminho na Europa. Tem todo esse plano montado, mas ainda é gigantesco para executar. A gente acabou de abrir a segunda loja na Europa. É cedo para pensar na Ásia, porque será outro projeto grande e que vai demandar esforço para saber qual é a estratégia correta para entrar lá”, diz Bastos. 

Nos Estados Unidos, operação mais “madura” fora do Brasil, os efeitos de fazer um passo de cada vez mostram os resultados. Hoje, a companhia fatura US$ 5 milhões por mês com o e-commerce local, o que a torna, em reais, a segunda maior dentro do Grupo Soma, atrás somente da operação nacional da marca. A rápida adesão dos consumidores, por um mix de esforços de comunicação e de ter as peças usadas por famosas como Sarah Jessica Parker e Anne Hathaway (com awareness espontâneo da marca), já faz com que o e-commerce funcione como um mapa de calor de regiões mais atrativas para abrir lojas físicas. A próxima a ser inaugurada nos EUA dentro dessa estratégia será aberta no Texas. 

Tudo isso para tornar a marca cada vez mais conhecida e fortalecer cada vez mais o posicionamento da Farm Global. Hoje, para lembrar, a divisão já tem um valor percebido maior do que o da operação brasileira (a diferença fica de R$ 1.100, considerando a conversão, para R$ 200 por aqui) e tem margens melhores também. 

Os fatores, somados, tornam a Farm um case global e reforçam a tese de ser uma das principais empresas responsáveis pelo crescimento do Grupo Soma ao longo dos próximos anos. No limite, em cinco anos, a divisão internacional pode se tornar maior do que a própria empresa-mãe. “Vai depender só da nossa capacidade de investimento e crescimento da estrutura”, diz Bastos. 

É uma trajetória e tanto para a marca. No aniversário de 25 anos, o que a Farm mostra é que o apetite para crescer é tão vasto quanto a quantidade de estampas que produz. As primeiras duas décadas e meia foram só o começo.

 

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