Vicenza: nova aquisição da Arezzo &Co, marca de calçados faturou R$ 80 milhões em 2022 (Divulgação/Site Exame)
O caso Americanas tomou o mercado de assalto e concentrou as discussões em torno dos R$ 20 bilhões de inconsistências contábeis e as práticas que levaram a elas, mas o ano no varejo deve chamar atenção pelos mais diversos rearranjos, especialmente no segmento de moda. Na Guararapes, dona da Riachuelo, notícias dão conta de que a família Rocha, sua controladora, busca um sócio. Nos últimos dias, Renner e C&A entraram no radar com rumores de que as duas estariam em negociação, o que foi negado por Paulo Correa, CEO da varejista holandesa no Brasil. A primeira transação do ano, porém, é da Arezzo &Co, que nesta terça-feira, 17, anuncia a compra da marca de calçados Vicenza, por R$ 173 milhões.
A aquisição da dona da Arezzo, Schutz e Reserva não é a maior em cifras no segmento, mas mostra que a empresa comandada por Alexandre Birman segue com ritmo intenso de aquisições. Desde outubro de 2020, quando comprou a Reserva e colocou o primeiro pé para além do mundo dos calçados, a companhia pisou no acelerador para crescer também inorganicamente. Já são oito aquisições desde então - uma ambição que ganhou estímulo desde que levantou R$ 830 milhões em follow-on no começo de 2022.
"Trabalhamos com duas a três aquisições por ano. Tem empresa que tem capacidade limitada de aquisição. Aqui não é assim. A integração de tudo que compramos foi perfeita e a empresa não parou um minuto", diz Alexandre Birman em entrevista exclusiva ao Exame IN. A próxima aquisição, aliás, deve vir em breve. Com processo de auditoria já avançado, a expectativa do executivo é de anunciar o novo negócio ainda em fevereiro.
A compra da Vicenza, uma marca de calçados do Rio Grande do Sul e com operação apenas no varejo on-line e no canal multimarcas, não é uma operação óbvia. Na missão de se tornar uma "house of brands", como gosta de repetir Birman, a Arezzo mirou parte relevante de seus esforços no crescimento do negócio de vestuário, o que agregou o &Co ao nome da companhia. Mas a marca era uma de suas "invejas", diz Birman. "Os clientes são muito fãs e fiéis à marca."
A história da Vicenza e de sua diretora criativa, Rafaela Furlanetto, guarda semelhanças com a própria Arezzo e com a trajetória do executivo. A empresa, que assim como a mineira leva o nome de uma comuna italiana, foi criada pelo pai da estilista, que entre os 16 e 17 anos começou a desenvolver criações próprias. Em Belo Horizonte, Birman também seguiu os passos do pai, Anderson Birman, desde cedo e aos 18 já tinha criado sua marca, a Schutz.
A justificativa principal e que deve fazer com que o mercado receba a aquisição positivamente está nos números. Em 2022, a companhia registrou R$ 80 milhões em vendas e conseguiu uma margem Ebitda (sigla em inglês, para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) maior do que a da Arezzo &Co, destaca Birman. "Isso sem ter benefício fiscal", reforça. Ao fim do terceiro trimestre, encerrado em setembro, a margem Ebitda da Arezzo &Co foi de 14,9%, 1,2 ponto percentual menor do que um ano antes.
"O valor da aquisição seja de 8,7 vezes do Ebitda projetado para a Vicenza em 2023", acrescenta o diretor financeiro Rafael Sachete, que está à frente da equipe de fusões e aquisições do grupo. Joga a favor, também, o balanço da Arezzo &Co, cuja posição de caixa era de R$ 546 milhões no terceiro trimestre e a alavancagem não passava de 0,2 vez, embora quase 98% da dívida da empresa seja de curto prazo. O pagamento será feito parte em dinheiro e parte em ações da Arezzo &Co, com um lock up de quatro anos. Ontem, a ação fechou negociada a R$77,43.
"A Vicenza é a Miu Miu e a Schutz a Prada", diz Birman pedindo licença para a comparação com as marcas de luxo italianas. Com uma faixa de preço muito próxima à Schutz, a Vicenza se propõe ser "mais jovem" e a Schutz "mais moderna", na avaliação de Furlanetto e Birman.
A estratégia é ganhar complementariedade especialmente entre essas duas marcas no canal multimarca e dar ainda mais "dominância" do grupo no segmento calçadista. Hoje, a Schutz tem 1400 clientes multimarca e a Vicenza, 700. Mas as duas compartilham apenas 115 pontos de venda. Enquanto isso, diz Birman, uma concorrente, que ele prefere não nomear e é a terceira marca com relevância, está em 400 pontos iguais aos da Schutz. "Então a gente sabe exatamente qual vai ser o CEP que a gente vai procurar bater na porta para crescer Vicenza", explica ele, calculando que o crescimento de 30% ao ano registrado nos últimos três anos pela marca gaúcha tem potencial de ser maior.
No e-commerce, a integração com a estrutura da Arezzo &Co deve dar mais força à Vicenza, acredita Birman. "Já estamos no processo de desenho da plataforma mais estruturada, usando nosso centro de distribuição e nossa capacidade logística de entrega".
Apesar do foco no on-line, assim como fez com outras aquisições como a marca de street wear BAW Clothing, a Arezzo &Co deve colocar a Vicenza no varejo físico com lojas próprias, para ir além do multimarca. Nesse caso, porém, a escolha será bastante certeira, em pontos "incônicos" do varejo, de olho no público AB, que consome mais informação de moda. Por isso, os endereços devem ser concentrados em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte em pontos como o Shopping Iguatemi, que fica em um dos metros quadrados mais caros da capital paulista. "Nesses pontos, serão lojas próprias da Vicenza, que não vai crescer por franquias. Será muito específica a abertura de lojas da Vicenza.