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Ex-PagSeguro sobre o WhatsApp: “Quem não se preparou, comeu bola”

Para Davi Holanda, um dos maiores especialistas em pagamentos móveis do país, não havia hora melhor para a chegada do serviço do app de mensagens

Davi Holanda: "banco vai continuar com a conta do cliente, só que um outro vai entregar a transação" (Divulgação/Divulgação)

Davi Holanda: "banco vai continuar com a conta do cliente, só que um outro vai entregar a transação" (Divulgação/Divulgação)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 16 de junho de 2020 às 08h06.

Última atualização em 17 de junho de 2020 às 10h45.

Todos os serviços de pagamentos digitais esperavam a chegada do WhatsApp ao seu nicho de negócios — mas era difícil prever que o gigantesco concorrente escolhesse um momento tão propício. A pandemia do coronavírus fez o uso de pagamentos digitais, e do WhatsApp, disparar nas últimas semanas no Brasil. Não havia, portanto, hora melhor para unir as duas pontas.

A visão é do cearense Davi Holanda, um dos maiores especialistas em pagamentos digitais no Brasil. Aos 37 anos, ele tem 15 anos de experiência no setor e ajudou a pautar a evolução recente da tecnologia no país — foi executivo na Cielo, diretor responsável pela explosão da PagSeguro e hoje comanda a plataforma Bankly, um "supermercado de soluções e serviços financeiros que qualquer companhia pode oferecer a seus clientes".

Nesta segunda-feira, o aplicativo de mensagens, que pertence ao Facebook, anunciou uma opção de pagamentos direto pelo app no Brasil, após dois anos de testes na Índia. Foi como uma anunciada bomba atômica que finalmente caiu no mercado de pagamentos.

A estreia contou com parceria da empresa de pagamentos Cielo, dos bancos Nubank e Banco do Brasil, da cooperativa Sicredi e das bandeiras de cartão Mastercard e Visa. Outros parceiros podem vir no futuro. Ao fazer parte da festa, a Cielo viu suas ações subirem mais de 30% nesta segunda-feira. As concorrentes PagSeguro e Stone, por sua vez, fecharam em queda. É uma mostra do valor que os investidores dão em se associar ao WhatsApp — e do risco de ter o aplicativo como concorrente.

Para Holanda, porém, a chegada do WhatsApp tende a acrescentar uma camada ao mercado de pagamentos. "O Facebook não vai acabar com todos, mas vai mudar definitivamente um mercado de pagamentos concentrado nos bancos. A última milha agora vai ficar com o WhatsApp, sem dúvida. Eles têm uma vantagem competitiva insuperável, que é uma hora e meia por dia de contato direto com o usuário. Ninguém tem isso", afirma.

Para ele, a pandemia é propícia para o novo serviço porque forçou em semanas a adoção definitiva dos pagamentos digitais, que existem desde a popularização da internet, há 25 anos. "O Brasil é o segundo país do planeta com mais downloads de Facebook e WhatsApp, e agora todo mundo está definitivamente digitalizado", diz. "O maior impactado vai ser o dinheiro em papel, ainda muito usado no cafezinho. A digitalização é boa para toda a cadeia, inclusive para o governo que reduz custo com impressão de papel, e para a própria indústria de pagamentos, que vai ver a pizza crescer".

A pizza pode até estar maior, mas não será para todos, explica Holanda. "No médio prazo alguns players vão ter que se reinventar, sobretudo aqueles com a proposta de se tornar um superaplicativo de ponta a ponta", diz. Os grandes bancos também terão que se integrar à plataforma, e mudar os serviços. "O banco vai continuar com a conta do cliente, vai consolidar empréstimos e serviços financeiros, só que um outro vai entregar a transação".

A saída para os serviços de pagamentos ligados a varejistas e para as empresas de "maquininhas", na visão de Holanda, é oferecer mais soluções aos clientes. "As empresas de maquininha vão ter que pegar na mão dos estabelecimentos e oferecer om soluções para facilitar seus negócios, como empréstimos e antecipação de recebíveis", diz o executivo.

O Brasil deve ver nos próximos anos, segundo Holanda, movimento semelhante ao visto na China, onde duas plataformas de pagamentos digitais, WechatPay e AliPay, têm mais de 1 bilhão de usuários, e ao da Índia, onde o pagamento via WhatsApp foi testado. Nesses países, os pagamentos digitais se popularizaram primeiro entre os microcomerciantes, para só depois chegar às grandes redes. "Esse negócio foi da base da pirâmide para cima. No Brasil, num intervalo de cinco a dez anos, vai dominar o varejo tradicional, acabando com as maquininhas", diz. A experiência indiana, diz Holanda, mostra que facilidade de uso e distribuição, duas fortalezas do WhatsApp, tendem a ganhar dos cashbacks (as agressivas promoções em dinheiro oferecidas por alguns aplicativos).

E o risco de o WhatsApp dizimar a concorrência e dominar toda a cadeia de pagamentos? É pequeno, na visão de Holanda. "As bigtechs podem até dominar a última milha, mas há uma cadeia grande pulverizada por trás. E o regulador terá que agir, para evitar um monopólio", diz.

Uma coisa é certa, o mercado de pagamentos digitais não será mais o mesmo.

 

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