Joel Machado comendará operação no Brasil: um mar com 250 assets independentes de R$ 1 bilhão sob gestão (Everysk/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 7 de dezembro de 2021 às 09h00.
Última atualização em 8 de dezembro de 2021 às 10h27.
A era em que um único relatório de risco era feito por gestoras e entregue pela manhã, em PDF, está no passado. Essa é a opinião de Allan Brik, co-fundador e CEO da Everysk Technologies, startup fundada nos Estados Unidos para automatizar análise de risco para fundos de investimento. A empresa, fundada em 2016, tem como missão lapidar e democratizar a análise de risco das gestoras, com um software que reduz em até 90% o tempo de análise de carteiras. “O foco é tirar o trabalho repetitivo e economizar tempo dos analistas”, diz Allan. Com a explosão do número de gestoras independentes e uma indúsria com R$ 6,8 trilhões em ativos sob gestão, o Brasil fez brilhar os olhos da Everysk e a companhia vai abrir o primeiro escritório fora dos EUA aqui — e já tem, inclusive, até clientes por aqui.
Para entender como a Everysk chegou até aqui, é necessário lembrar como a companhia foi fundada. A história começa com a trajetória de Allan, que se mudou para os EUA ainda bastante jovem e foi fazer um doutorado em Boston nos anos 2000. Pouco tempo depois, se tornou sócio de um fundo de fundos, cujos principais clientes eram fundos de pensão. “Como sócio e chefe de risco, eu analisava muitos hedge funds para investir. Invariavelmente, eu ia visitar vários e percebia que alguns tinham teses de investimento ótimas, mas infraestrutura precária. O desequilíbrio entre essas pequenas gestoras e as grandes e consolidadas no mercado era muito grande, o que fazia com que profissionais de locais menores gastassem muito tempo organizando tabelas e pouco tempo, de fato, analisando. Daí surgiu a ideia de fundar a Everysk, uma tentativa de democratizar a gestão de risco nos Estados Unidos para todos os players”, diz Allan, ao EXAME IN.
A partir desse insight, Allan saiu da empresa em que atuava e buscou a expertise em tecnologia de que necessitava para fazer o negócio acontecer. Dessa procura, surgiu a parceria com outro brasileiro, Denison Linus (hoje CTO da Everysk), e, em 2016, a empresa estava de pé, começando com gerenciamento de portfólio e risco até se tornar uma empresa de automação. Hoje, a Everysk tem clientes em todo o mundo e capacidade de fornecer testes de estresse e de risco para diferentes ativos e moedas. A startup cobre atualmente 90 bolsas em todo o mundo, 200 mil ações, 40 moedas, além de títulos de governo e corporativos, derivativos e ativos privados.
Entrando nos detalhes do que a Everysk faz, a companhia tem um software altamente customizável, feito 100% dentro de casa e utilizando como base a tecnologia low-code (que permite às pessoas que não são da área de TI conseguirem utilizar a ferramenta e expandir a quantidade de processos que ela é capaz de fazer com apenas alguns cliques). Conseguir “clicar e arrastar” menus permite que a solução se torne altamente escalável, atendendo tanto à demanda por risco quanto por aspectos regulatórios dentro dos clientes — e colaborando para a estratégia de upsell da companhia. Globalmente, a meta é triplicar a receita para o próximo ano, principalmente apoiada na venda de novos serviços de automação para os clientes já existentes.
A chave para entender a importância do que a startup faz está no impacto que consegue gerar. Hoje, no Brasil, apesar de existirem agregadores de dados como a Economatica — utilizada em análises de renda fixa, por exemplo — o que define a capacidade de uma gestora conseguir crescer no país está atrelado à quantidade de mão de obra que tem, especificamente de analistas. Isso porque é necessário consolidar as análises de agências de rating, saúde do balanço e análises de negócio. Depois de tudo isso decidido, os ativos "vencedores" vão para um comitê, que vai decidir onde será feita a alocação.
Com mais tecnologia nesse processo, é possível acelerar a velocidade de aprovação de nomes — o que ainda é muito lento no Brasil. "Ter a necessidade de grande quantidade de analistas ainda é um dos principais entraves para gestoras independentes conseguirem crescer no Brasil. Especialmente pelo perfil do país, com uma indústria muito gande de fundos de renda fixa. Soluções inovadoras certamente têm espaço para crescer", diz Renato Ojima, fundador da fintech Open.
Nos Estados Unidos, país que não tem a predominância tão forte de fundos de renda fixa, a oferta se faz atrativa pelo tamanho do mercado local e, é claro, a necessidade de reduzir custos presente em praticamente qualquer empresa atualmente.
Para garantir que o processo seja de fato democrático, a precificação dos serviços é modulada de acordo com a necessidade de análise exigida. Gestoras com 500 fundos têm uma complexidade maior do que aquelas com dois, três ou quatro fundos — e é nessa análise que a companhia estabelece quanto vai cobrar para cada um.
A empresa não divulga quantos clientes tem hoje, mas, no próprio site, é possível encontrar nomes como Thomson Reuters e XP Investimentos como parceiros, além de menções a fundos de crédito, fundos de fundos, hedge funds com mais de US$ 1 bilhão e fundos de índice. Para aprimorar o software ainda mais, a companhia também passou por uma rodada de investimento seed de US$ 1,3 milhão, finalizada em abril de 2020.
De olho em aumentar a carteira de clientes ao longo dos próximos anos, a startup terá um olhar com mais foco na operação latinoamericana. Apesar de já ter um escritório no Brasil desde 2019, só agora foi escolhido um executivo para comandar a operação na região: Joel Machado, que tem experiência em fintechs.
“No Brasil, temos mais de 250 gestoras independentes com valor administrado acima de R$ 1 bilhão cada. Têm teses de investimento muito boas, mas para se manter independentes, elas também precisam investir em tecnologia em várias frentes. Nossa proposta é: vamos eliminar esse trabalho manual para que esses profissionais tenham mais tempo de ser um gestor independente e entregar recursos interessantes pros seus cotistas”, diz Joel.
Espaço para crescer por aqui, existe. Não custa lembrar que, hoje, existem mais de 25,9 mil fundos de investimento no país, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) — valor que representa crescimento em relação ao mesmo período do ano passado.
Diante das incertezas enfrentadas no âmbito político no país, acompanhadas de alta na Selic, a renda fixa tem ganhado força — sendo responsável por R$ 54,9 bilhões da captação de R$ 62,8 bilhões em outubro deste ano. A captação dos FIDCs também teve bom desempenho no mês, com captação de R$ 17,6 bilhões até dia 22 de outubro. Fundos de ações e multimercado ficaram no negativo no período.
Em um cenário tão aquecido, a Everysk acredita que é possível crescer. A startup quer dobrar o número de clientes que tem no Brasil e crescer em 50% a operação local já em 2022. Posteriormente, a ideia é entrar nos demais países da região, permanecendo com o mesmo DNA: o de trazer mais eficiência e tecnologia para o mercado de capitais.
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