Estados Unidos: Technicote é porta de entrada para mercado de US$ 4,5 bilhões (Getty Images/Getty Images)
Graziella Valenti
Publicado em 6 de setembro de 2022 às 07h30.
A Beontag, empresa de etiquetas autoadesivas e tecnologia RFID, consolidou sua posição como uma das companhias mais multinacionais do país. Ela acaba de fechar a compra da empresa americana Technicote, com 40 anos de presença no mercado e receita anual da ordem de US$ 130 milhões. Com isso, a Beontag passa a ser um negócio com faturamento anual de US$ 600 milhões, dos quais o Brasil representa 25% — e isso batendo recordes atrás de recordes de vendas.
“Para nós, é a peça no esqueleto que faltava. Ela abre as portas de um mercado que em autoadesivos movimenta US$ 3 bilhões por ano e em RFID, mais US$ 1,5 bilhão”, enfatiza Ricardo Lobo, presidente da Beontag, em entrevista exclusiva ao EXAME IN.
Agora com 15 unidades de produção, a companhia está, além do Brasil, na Argentina, Itália, Suécia, Finlândia, China (após aquisição realizada em abril), e Estados Unidos — entre tantos outros. No total, são mais de 40 mercados atendidos. “Tentamos entrar lá [EUA] com uma operação greenfield, e montamos escritório em Houston. Mas é muito difícil sem produção local. O cenário muda completamente de figura depois da compra da Technicote”, enfatiza Lobo.
O plano agora é levar todas as tecnologias que a empresa possui para o mercado americano, incluindo RFID e a Ecotag. Todas as aquisições que a Beontag fez e faz têm três objetivos principais: abrir novos mercados, agregar novas tecnologias e adicionar novos setores ao portfólio de clientes.
Por exemplo, o negócio na China colocou a Beontag no mercado automotivo, onde não atuava. "Agora, temos no portfólio clientes como Tesla, Daimler, BMW e Volvo. Não tem um chassi da Volvo que não saia com uma etiqueta nossa”, comenta o CEO. “Quando a gente fala em etiqueta, as pessoas pensam em roupas. Mas é muito mais do que isso. É tecnologia pura. Na verdade, é um dispositivo que segue o carro em toda sua linha de montagem e embarca todas as informações do que aquele automóvel precisa ter. Acompanha toda linha de montagem e resiste, inclusive, ao calor da pintura”, completa Thiago Horta, o COO da companhia.
A Technicote, portanto, também expande, além das fronteiras geográficas, as setoriais. Além de rótulos de vinhos, algo no qual a brasileira até então não atuava (nada mal para quem está em mercados como Itália e Argentina), a companhia americana tem a tecnologia de produtos autoadesivos siliconados de alta precisão. “Não sei o quanto as pessoas percebem, mas os produtos hoje, como geladeiras e carros, entre muitos outros, não usam mais rebite. Todas as partes são coladas a partir dessa tecnologia”, detalha Lobo.
O valor da transação não foi divulgado. A Beontag informa apenas que está tudo pago, 100% do capital adquirido e que não há despesas com earn outs previstas. E o dinheiro usado já estava no caixa, ou seja, nada de dívidas. Daqui para frente é só sinergia. Aliás, quando o tema é esse, Lobo conta empolgado que o longo tempo de negociação — cerca de um ano e meio — aproximou demais os dois negócios e os times de gestão. “No mês passado, já exportamos US$ 1,5 milhão daqui do Brasil para lá. A operação já nasce voando.”
“Do nosso portfólio, é o ativo com mais valor a ser destravado entre todos”, reforça Horta. Na prática, isso significa que a Beontag, que opera unidades hoje no estado da arte, como a planta de Campo Mourão (PR) e na Suécia, tem capacidade para aumentar a rentabilidade da Technicote, a partir da modernização de processos que já utiliza em outras unidades fabris. O que é isso na vida real? Margem extra para o futuro. Quanto? Por enquanto, a Beontag prefere não exercitar publicamente.
O momento, por enquanto, é de assimilar o negócio. “Sem Estados Unidos, ficaria uma peça importante faltando, dado o tamanho daquele mercado. Agora, embora não sejamos a maior, somos uma das multinacionais mais diversificadas em geografia. Desse ponto de vista, somos mais multinacionais que a Weg (WEGE3)”, diz Lobo, sem disfarçar a satisfação com o movimento, ao se comparar com uma das maiores indústrias do país, avaliada em nada menos do que R$ 130 bilhões na B3, e com uma das bases de acionistas mais populares do país (cerca de 1 milhão de CPFs).
A Technicote tem uma fatia de mercado pequena, comparada ao tamanho dos Estados Unidos, da ordem de 3% de share. “Mas olha que maravilha: podemos passar para 7% sem ninguém perceber, sem incomodar ninguém. E isso vai mais do que dobrar o faturamento lá”, ressalta o CEO.
Quem vê a Beontag de 2022 pode até esquecer que, em silêncio, durante a pandemia, a empresa viveu uma verdadeira revolução interna. Claro que ela não ocorreu do dia para a noite, mas os últimos anos concretizaram um preparo de anos. A companhia adotou o novo nome em 2021, resultado do renascimento da antiga CCRR, produto da fusão da Colacril com a RR Etiquetas pouco mais de uma década atrás.
O suporte financeiro para toda essa transformação veio do controlador, o fundo FIP Economia Real, fundo de private equity gerido pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame). Aliás, o mesmo que é hoje dono da V.tal, que nasceu a partir da aquisição da rede de fibra da Oi (OIBR3). Nos últimos dois anos, os aportes no negócio acumulam R$ 1,2 bilhão.
Toda essa transformação fez com que a Beontag se tornasse líder dispara no Brasil. Tem 90% do mercado de RFID e 35% do mercado total de etiquetas e rótulos — de todos os tipos que se possa imaginar, incluindo uma presença cada vez maior em pagamentos automáticos e serviços financeiros. Uma curiosidade: mesmo tendo entrado em RFID apenas em 2018, a companhia já é a segunda maior do mundo, atrás apenas da Avery Dennison.
E por que tanta empolgação com a Technicote? Horta responde: “Os 3% de market-share nos Estados Unidos correspondem, em valor, à liderança da companhia na América Latina, com 33% do mercado.” Esse é, basicamente, o resumo da ópera.
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