Loja da Oi no Iguatemi: disputa por ativos da tele aumenta (Germano Lüders/Exame)
Graziella Valenti
Publicado em 29 de julho de 2020 às 08h01.
Última atualização em 29 de julho de 2020 às 18h45.
O mercado comemorou que o trio Telefônica Vivo, TIM e Claro elevou a oferta pela Oi Móvel do preço mínimo de 15 bilhões de reais para 16,5 bilhões de reais. As ações da companhia viraram meme musical depois de subirem quase 16% e terminarem o pregão acima de 2 reais. Correu entre os investidores um áudio com o refrão sertanejo de Léo Magalhães: E toda vez que você me disser "oi"/Eu vou responder só "oi"/Com o meu peito gritando "te amo”.
Mas os investidores pouco sabem que a concorrência entre o trio de teles e a Highline, empresa de rede do fundo Digital Colony, é quase nada perto da disputa que haverá pelo controle da companhia fibra e transporte, a Infra Co. — o negócio de redes do qual a Oi será sócia minoritária e cliente, para continuar como prestadora de serviços no varejo e no mercado empresarial. E que os processos de vendas, mesmo separados, estão relacionados: a briga pela celular pode trazer para a rede de fibra.
O EXAME IN apurou que mais de dez propostas foram entregues à tele pelo ativo, o segundo maior, incluindo a Highline e fundos de infraestrutura do BTG Pactual. O processo de venda da rede começou depois e ainda não está na fase de ofertas vinculantes (com obrigação de serem honradas). Os interessados são essencialmente grandes fundos de infraestrutura e companhias de rede e venda de capacidade no atacado.
Enquanto a venda da Oi Móvel, da companhia de torres e do data center devem ocorrer ainda neste ano, a venda da fatia na Infra Co. é esperada apenas para o primeiro trimestre de 2021. Tudo vendido pelos preços mínimos — Oi Móvel, Infra Co, torres de celular e data center — podem fazer a tele arrecadar 22,8 bilhões de reais.
A Infra Co. trará à Oi, no mínimo, 6,5 bilhões de reais pelo controle da empresa e mais a redução de 2,4 bilhões de reais em dívidas. Mas o compradora, além de adquirir o controle, precisa aportar um máximo de 5 bilhões de reais no negócio, de onde deve vir a fonte para pagamento dos compromissos.
O modelo de separação de infraestrutura, para venda de capacidade no atacado (para outras teles), e serviços adotado pela Oi é novo no Brasil, mas uma tendência global no setor. Nesta quarta-feira pela manhã, a Telefônica Vivo anunciou a decisão de adotar esse mesmo desenho e informou que deve buscar parceiros e investidores para a companhia de rede neutra que vai criar — ou melhor, separar da área de venda de serviços.
Embora a Oi esteja vendendo os ativos separadamente, seu interesse é pela maior valorização possível para o conjunto. Telefônica Vivo, TIM e Claro mandaram o recado de que entenderam isso. Além do aumento do preço oferecido pela Oi Móvel, afirmaram em fato relevante que a oferta pode contemplar “a possibilidade de assinatura de contratos de longo prazo para uso de infraestrutura”. Na prática, significa garantia de receita para a Infra Co e, portanto, maior valor para esse ativo.
Por que as teles estão tão preocupadas? Porque o futuro do setor está na capacidade de transmissão, o que para as móveis significa “espectro”, as faixas de frequência que cada qual detém. Atualmente, a Claro tem uma evidente vantagem no tema e a TIM é quem tem a vida mais apertada.
Mas, para sentarem à mesa, terão de esperar, no mínimo, vencer a exclusividade de negociação obtida pela Highline em 3 de agosto. Como mais uma carta na manga, o trio ainda tem a perspectiva de oferecer à Oi uma receita antecipada pelo uso do espectro da Oi Móvel até que os órgão reguladores aprovem uma possível transação, que não promete ser das mais fáceis.
Assim, além do preço da Oi Móvel, o trio pode ampliar indiretamente o valor da Infra Co. por meio de contratos de longo prazo para uso da insfraestrutura e ainda garantir à vista uma receita antecipada para a Oi até a assinatura do negócio, com uso do espectro.
Highline e o trio brigam pela posição de “stalking horse” no processo. Quem conquistar a posição de tal figura, terá direito ao último lance, o de preferência no momento de venda efetiva no leilão de envelopes fechados. A venda só pode ser feita após aprovação do plano atualizado de recuperação judicial da Oi.
A companhia do fundo Digital Colony, a Highline, também pode oferecer um contrato com a Infra Co.. No entanto, como tem interesse na Oi Móvel e na infraestrutura faria um contrato consigo mesma, só que na que na Infra Co. terá a Oi como sócia.
O plano da Oi, segundo o EXAME IN apurou, é ter definido quem serão os “stalking horses” para a Oi Móvel, as torres e o data center até a publicação do edital da assembleia de credores (AGC). Sem aprovação do plano atualizado, as vendas não podem prosseguir. A expectativa é que o encontro ocorra até o fim de agosto. Para tanto, precisa ser convocado dentro dos dez primeiros dias do mês. A venda da Infra Co. terá as condições pré-estabelecidas, mas não usará o modelo de “stalking horse” — o resultado prático, contudo, será semelhante, com um interessado garantidor e com direito a repique na oferta final.