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Estapar compra app Zul por R$ 75 milhões para virar autotech

Objetivo é montar super app para quem dirige, com venda de serviços, produtos, wallet e até vaga para carregar carro elétrico

André Iasi, o Dega, presidente da Estapar: "Sempre preparei a companhia para ser digital e, com a Zul, vamos dar um salto nessa direção." (Estapar/Divulgação)

André Iasi, o Dega, presidente da Estapar: "Sempre preparei a companhia para ser digital e, com a Zul, vamos dar um salto nessa direção." (Estapar/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 10 de novembro de 2021 às 21h38.

Última atualização em 11 de novembro de 2021 às 10h14.

A Estapar deu um passo definitivo na sua transformação digital. De agora em diante, não se vê mais como uma companhia de estacionamentos, é uma autotech. A empresa anunciou há pouco a compra da Zul Digital, um market-place dedicado a quem dirige. A aquisição será paga com a emissão de até 12,963 milhões de ações, o que equivale a cerca de R$ 66 milhões a preços de mercado. Além disso, haverá uma parcela em dinheiro de R$ 8,4 milhões — o que eleva o total a aproximadamente R$ 75 milhões.

Na mira? Virar uma solução única para tudo que o motorista precisa, de lojas, com serviços de manutenção, concessionárias, a pagamento de tributos, compra de seguros, alerta de rodízio. O céu é o limite. O objetivo de André Iasi, ou simplesmente Dega, como é conhecido, é ser o super app de quem tem carro, o one stop shopp digital. Boa parte disso a Zul já fornece, mas a ideia é ampliar o leque, a variedade, a funcionalidade, agora com a marca Estapar.

Dega sempre foi fissurado em tecnologia e em como aplicá-la para um dos negócios mais tradicionais do mercado. Na sua agenda de CEO da maior empresa de estacionamento da América Latina, com mais de 390 mil vagas, sempre tem espaço para conhecer as inovações em teste mundo afora. Não por acaso, o primeiro aplicativo lançado pela companhia é de 2012, quando empresas pioneiras da internet estavam partindo ainda para o e-commerce via site. Aplicativo ainda era raridade. "Foi muito inovador na época", relembra.

O acordo com a Zul prevê que, na largada, a Estapar entregará 40% do total de papéis que podem ser emitidos. Então, em um período de 24 a 36 meses, conforme a performance da operação, o pagamento pode alcançar o total previsto, o que seria equivalente a pouco menos de 7% da empresa. A Estapar é controlada pelo Fundo Maranello, de André Esteves, fundador e principal acionista do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame).

Ao longo dos 12 meses posteriores à conclusão da transação, os aplicativos da Zul e o Estapar Vaga Inteligente serão unificados. Mas, mesmo antes da integração completa do front end para o cliente, muitas funcionalidades já serão adicionadas às plataformas.

O Vaga Inteligente da Estapar fechou setembro com mais de 2,7 milhões de usuários cadastrados — a companhia tem também outro aplicativo, dedicado à Zona Azul de São Paulo. Juntos, os dois responderam por 12,3% da receita da companhia no terceiro trimestre, de R$ 228,7 milhões. É um tremendo salto, considerando que esse percentual era de 3,4% há um ano. O nível de atividade no período estava equivalente a 72% do movimento pré-pandemia e, com isso, teve alta de 40,7% sobre igual intervalo do ano passado. Mas a empresa afirma que em outubro esse percentual já subiu para 81% da 'normalidade'.

O total de operações digitais somou 6,7 milhões no intervalo de julho a setembro, comparado a 2 milhões no primeiro trimestre de 2020, pré-covid. Na parte de zona azul, foram 4,7 milhões, ante a 300 mil, do começo do ano passado.

A Zul atua em oito diferentes praças, soma 2 milhões de clientes cadastrados, que são donos de 3 milhões de veículos. Só de estacionamento (sem ser Estapar), processou o pagamento de 35 milhões de tíquetes neste ano. Até a Estapar vencer a licitação pela Zona Azul paulista, a Zul era a principal vendedora dos cartões digitais.

“Eu sempre guiei a companhia para essa transição digital e esse movimento vai nos trazer um grande salto. Não estamos buscando a receita da Zul, não é isso. A questão é a solução e seu potencial. Eu vou poder resolver absolutamente tudo para o motorista”, destaca Dega. O executivo explica que do ponto de vista de tecnologia e suporte interno, a Estapar já está pronta. "Eu fiz toda a lição de casa de sistema ao longo desses anos, porque sempre mirei o mundo eletrônico."

Ele explicou ainda que o time de sócios e executivos que hoje toca a Zul será o responsável por toda a frente digital da Estapar. A lista tem André Menezes Brunetta, Robson Dantas Silvia, Marcelo Maciel Liberato, Marcio Camurati Ladeira, entre outros. A equipe se transforma em executivos da companhia, mas com autonomia para desenvolvimento de soluções e produtos.

No menu de serviços e produtos ofertados pelo aplicativo combinado das companhias, estará também o acesso às 250 ecovagas criadas pela Estapar no ano passado, para carregamento de carros elétricos. O cliente que quiser fazer a recarga não paga nada pelo abastecimento, apenas a hora do estacionamento. O serviço é oferecido em parceria com as fabricantes dos automóveis. A primeira parceira foi a Volvo, mas tem ainda o coletivo Stellantis, que abriga Fiat, Dodge, Jeep, Peugeot e Citröen, entre várias de uma lista longa.

“O foco é o cliente. Meu objetivo é tornar a vida dele, como motorista, muito mais fácil e rápida.” Pela plataforma, o usuário vai inclusive conseguir parcelar, por exemplo, o pagamento de multas, o que hoje quem paga na boca do caixa ou no banco tradicional não consegue.

“Mas não se tratar de permitir o pagamento do IPVA, do licenciamento e de multas. É lembrar o usuário de quando vence, qual prazo com desconto. Trazer a solução em poucos cliques”, reforça Dega. E como é um market-place, haverá parcerias com funilarias, serviços de balanceamento, concessionárias e tudo mais do universo automotivo.

A vantagem e a beleza da transação, que deixam Dega encantado com as perspectivas, é como tudo isso vem com baixo custo de aquisição de cliente, pois os usuárois já estão na base. “Eu já tenho o aquário”, reforça ele, lembrando dos desafios que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) vai impor às companhias.

A Estapar fez sua oferta pública inicial (IPO) em maio de 2020. Foi a partir dessa listagem que as empresas perceberam que havia espaço para o mercado de capitais retomar suas atividades mesmo em meio à pandemia. A companhia captou R$ 345 milhões. O plano, entretanto, anterior à invasão da covid-19, era levantar cerca de R$ 600 milhões em dinheiro novo para o negócio. No fim de outubro, a empresa concluiu um aumento de capital privado no valor de R$ 100 milhões, com a ação a R$ 6,54 — o preço em bolsa atualmente está em R$ 5,10.

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