Estácio: "Ao Vivo" surgiu depois de pesquisas com alunos conduzidas desde a pandemia (Estácio/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 18 de outubro de 2022 às 06h00.
A Estácio lançou recentemente uma nova plataforma de ensino, que visa se tornar uma avenida de receita inédita para a companhia. É a “Ao Vivo”, que transmite aulas em tempo real pela internet para turmas pré-estabelecidas. Caso ainda fique alguma dúvida, a dinâmica é a do ensino presencial — um professor para cada disciplina, sempre encontrando um mesmo grupo de colegas — só que com tudo feito dentro do ambiente digital. A companhia investiu R$ 5 milhões para colocar a nova ferramenta de pé, divididos entre parceria com a Microsoft, treinamentos e na concepção de salas especificamente adaptadas para cumprirem com o novo programa.
“Fizemos uma série de pesquisas com nossos alunos e constatamos que havia um grupo interessado em continuar estudando de forma remota, mas com qualidade. Foi o que buscamos aqui. Há um segmento que quer manter uma rotina similar à da aula presencial, mas sem precisar se deslocar”, diz Adriano Pistore, vice-presidente de operações da Yduqs, ao EXAME IN.
Mas, uma coisa de cada vez. A relação entre Estácio e Microsoft começou ainda na pandemia, quando a rede de ensino superior teve de se adaptar rapidamente ao isolamento social. Foi evoluindo na medida em que a empresa de tecnologia fez adaptações à versão do Teams utilizada pela universidade — que tem acesso a mais ferramentas do que a versão comumente utilizada para fazer reuniões no mundo corporativo, vale frisar – passando a se tornar cada vez mais completa e mais leve para ser acessada por estudantes.
Lá em 2020, quando as conversas começaram (e a versão anterior da ferramenta era utilizada), a Estácio notou uma discrepância significativa entre os acessos de alunos no Sudeste e no Sul ante os da região Norte. Indo a fundo na questão, identificaram as principais restrições de acesso e trabalharam para resolvê-las. O que quer dizer, na prática, parcerias com operadoras de telefonia para garantir acesso à internet de qualidade para os alunos.
“Esses dois fatores, de parcerias, fizeram com que a gente conseguisse vencer as barreiras do início da pandemia. Hoje, não temos mais uma discrepância de acesso às aulas online em qualquer região”, diz Pistore.
Resolvida a questão da tecnologia, a Estácio se dedicou muito mais a entender os alunos que estavam no ambiente digital. E percebeu que o conceito da aula ao vivo, on-line, e de estar em uma turma tinha muito apelo. Mas, era necessário fazer alterações pedagógicas para que o conteúdo de fato funcionasse no ambiente digital.
Não pode ser uma aula só expositiva, de um professor apenas falando. Entram na jogada recursos de tecnologia, como um que permite a um professor de programação mostrar a evolução de um código dentro da plataforma e conseguir fazer com que alunos possam alterá-lo, tudo de uma vez só.
Ainda no aspecto tecnológico da coisa, a Estácio criou uma sala específica para esse tipo de aula em cada um dos campus espalhados pelo Brasil. A ideia é oferecer os melhores recursos — é possível escrever à mão na lousa e transmitir aos alunos com qualidade, por exemplo — de forma descentralizada. Ou seja, permitindo que as turmas tenham aulas com professores de todo o Brasil.
Mas, para Pistore, apesar dos avanços do lado dos bits e bytes, o modelo novo tem seu trunfo no aspecto humano. “O mais bacana, ainda, é reunir alunos do Brasil todo. Isso é networking na veia, porque são pessoas reunidas de segunda a sexta, sempre num mesmo horário, que vão atuar na mesma área. Podem abrir, futuramente, oportunidades de emprego uma para a outra. Outro ponto importante é diversidade, algo que conseguimos ampliar muito nesse formato em relação a uma aula presencial”, diz Pistore.
Para garantir o máximo aproveitamento, a universidade também trabalha com aulas menores dentro desse modelo, de até duas horas. É o período ideal para manter os alunos concentrados, segundo o VP da Yduqs.
Hoje, o modelo Ao Vivo está disponível para seis cursos: Administração, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Gestão Comercial, Gestão de Recursos Humanos, Gestão Financeira e Sistemas de Informações. A escolha foi por disciplinas que poderiam ser facilmente adaptadas ao digital síncrono, garantindo o mesmo aproveitamento das aulas presenciais. Ao menos por enquanto, não há previsão de estender a oferta a outros cursos oferecidos pela universidade. “A gente tem um leque de cursos que gostaria de incluir, é claro, mas há uma série de funções de tecnologia que precisamos criar para colocar essa ideia em prática”, diz Pistore.
Em relação ao preço, quem optar por esse tipo de ferramenta deve pagar um fee intermediário entre o EAD assíncrono (hoje em torno de R$ 200) e o ensino presencial (em torno de R$ 580). É necessário fazer um contrato exclusivo para o ensino Ao Vivo, não sendo este um recurso adicional de nenhuma das duas modalidades já existentes no quadro da Estácio.
A companhia ainda não divulga uma projeção específica de alunos que estima entrarem na nova grade, mas Pistore apenas afirma se tratarem de “milhares” ao longo do tempo. “Ainda deve levar algum tempo para se adaptarem a esse formato, porque ele traz certo rigor de estudo. Tem de ir pra sala de aula e interagir com o professor em horários pré-estabelecidos. A gente espera que, com o passar do tempo, esse produto tenha muita atratividade”, diz.
Por enquanto, nas turmas piloto criadas pela empresa, a percepção é de sucesso. Há, até mesmo, alunos brasileiros morando fora que queriam cursar uma graduação em português e interagir com colegas nativos e cuja aceitação está acima do que a companhia esperava.
A nova oferta pode trazer ainda mais impulso para o ganho de alunos por parte da Yduqs. Hoje, o ensino digital (EAD tradicional) tem 984,1 mil alunos, mais de 75% do total de matriculados que a companhia tem, considerando os dados do segundo trimestre deste ano. O número de estudantes online quase dobrou em relação ao mesmo período do ano passado, em que eles somavam 511,4 milhões.
Olhando especificamente para a base de graduação on-line, houve crescimento de 15,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionado pela expansão dos polos, segundo a empresa. Grande parte deles está em cidades pequenas, com até 25 mil habitantes.
Enquanto isso, a graduação presencial se manteve estável no segundo trimestre, considerando a comparação anual – um sutil aumento de 1%. São 302 mil alunos na base, hoje.
Interessante notar que a empresa já tinha um “híbrido” entre os dois mundos, com o semipresencial (que, como o próprio nome já diz, tem algumas disciplinas do ensino presencial ministradas de forma digital, mas via EAD), cujo tíquete médio já ficava no meio do caminho entre um e outro, totalizando R$ 366 por mês. Agora, o “Ao Vivo” vem para disputar esse mesmo mercado.
Em tempos de consumidores com renda restrita e ávidos para se comunicarem depois de dois anos de pandemia, a Estácio quer testar, na prática, o quanto os alunos estão dispostos a se comprometerem em um modelo 100% online. O mundo mudou, o mercado de trabalho também, agora, falta ver o quanto o ensino presencial consegue manter o que tem de melhor dentro das novas regras de um mundo cada vez mais digital.
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