Hyperplane: startup que nasceu no Vale do Silício com DNA brasileiro quer conquistar mercado norte-americano (Hyperplane/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 4 de abril de 2024 às 09h45.
A fintech Hyperplane, de inteligência artificial para bancos, nasceu em San Francisco a partir da iniciativa de três brasileiros e um indiano. Muito antes do debate sobre IA tomar força, Felipe Lamounier (ex-StartSe), Daniel Silva (ex-Google), Felipe Meneses (ex-Zippi) e Rohan Ramanath (ex-LinkedIn) se uniram em 2021 para fundar a startup.
Depois de consolidar a presença no Brasil, com 12 instituições financeiras como clientes, o próximo passo da empresa é partir rumo aos Estados Unidos. Em dezembro, a Hyperplane anunciou um aporte de R$ 30 milhões, coordenado por Lachy Groom, investidor que tem como sócio Sam Altman, co-fundador da OpenAI.
A oferta principal segue a mesma: a Hyperplane tem como missão ajudar instituições financeiras a extraírem o máximo potencial de informações já disponíveis na base de dados deles com LLMs (os large language models, tipo de linguagem de IA usada no ChatGPT, por exemplo).
O diferencial é conseguir trazer tecnologia de ponta para essas companhias — que já têm um tradicional investimento alto em tecnologia.
Talvez o melhor paralelo para entender o funcionamento da companhia venha de uma analogia com o Google Brain, a parte de inteligência artificial do Google. Dentro da big tech, a área é capaz de cruzar informações que vão desde os dados de navegação do Chrome, Android, dados do Waze e do Maps para gerar uma representação computacional do comportamento de usuários. A partir disso, são feitas todas as estratégias de recomendação e personalização.
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“Um grande banco hoje é multiproduto, muitos têm mais de 100 conversas com clientes, além de produtos financeiros em diferentes canais. Entender em que momento você está, qual é a melhor oferta, é essencial para conseguir melhorar engajamento e o share of wallet de instituições financeiras, além de melhorar a experiência”, diz Lamounier.
Já dá para medir o impacto desse tipo de ação. A Hyperplane já conseguiu ajudar um neobanco (a companhia não pode dizer o nome) brasileiro a aumentar o volume de transações processadas no cartão (TPV, no jargão) em 46%.
"Ajudamos o banco a entender melhor a renda dos clientes, usamos mais dados para compor o modelo de crédito e trazer um limite mais adequado. Isso se traduziu em uma frequência de uso maior por parte dos clientes”, diz Lamounier.
Em outro caso, para uma cooperativa de crédito, a Hyperplane aumentou a conversão de vendas de produtos financeiros em três vezes. De novo, motores bem alimentados com dados foram ficando mais assertivos e melhoraram a oferta de produtos para cada grupo de clientes.
A Hyperplane trabalha com um modelo de LLM modular, que se adapta às necessidades de cada banco. Não há compartilhamento de informações entre as instituições financeiras: trata-se de uma infraestrutura de 'base' que é adaptada de acordo com a quantidade e o tipo de dados de cada banco, por exemplo.
Com o modelo já consolidado no mercado brasileiro, a startup parte rumo a um desafio maior no mercado norte-americano. “Começamos pelo Brasil porque no país 100% dos nossos clientes já estão na nuvem, por exemplo, um processo que ainda não começou nos Estados Unidos”, diz Lamounier.
Agora, a Hyperplane vai ter que adaptar a própria solução para permitir que rode nos servidores dos bancos — em vez de trabalhar com as ‘pontes’ já construídas para trabalhar com os provedores de serviços em nuvem, como a AWS — a fim de acessar os dados das instituições financeiras. “Só vale a pena porque é um mercado enorme”, diz o CEO.