Dólar estruturalmente mais fraco já é consenso no mercado, mas oportunidades na Europa e na China seguem subavaliadas, aponta a consultoria (PM Images/Getty Images)
Editora do EXAME IN
Publicado em 14 de julho de 2025 às 17h06.
Última atualização em 14 de julho de 2025 às 17h06.
As bolsas americanas estão dando de ombros às novas ameaças tarifárias de Donald Trump e renovam suas máximas – mas a Gavekal segue apostando que a próxima grande tendência dos mercados estará, pela primeira vez na década, fora dos Estados Unidos.
“O grande tema em 2025 parece ser o fato de que a atual administração americana agora está muito mais predatória em relação a amigos e inimigos do que qualquer um dos seus antecessores”, escreveu Louis-Vincent Gave em relatório publicado hoje.
Para desenhar o que são as grandes tendências de mercado, ele recorre a uma metáfora keynesiana: as apostas em concursos de beleza. Para vencer, não se trata de quem o apostador ou um juiz em específico acha a mais bonita, mas de entender aquela que a maior parte dos juízes vai achar.
Aplicando-se a metáfora ao mercado, os vencedores do concurso são os macrotemas que normalmente carregam consigo os investidores.
Foi o caso das ações da Netflix, do Zoom e da Peloton no começo da pandemia; as biotechs quando começaram a sair as vacinas de Covid; e as empresas de medicamentos para emagrecimento baseadas em GLP-1, como Novo Nordisk em 2023.
É também o caso da tendência de inteligência artificial que começou em meados daquele ano e acabou culminando da tese de ‘excepcionalismo americano’ que sugou de vez a liquidez do mundo no ano passado.
No começo de 2025, tudo indicava que o macrotema seria de novo a IA, aponta Gave – mas, ainda que o avanço e a aplicação das novas tecnologias siga no radar dos investidores, o lançamento dos novos modelos do DeepSeek na China esfriou essa narrativa ainda no começo do ano.
O cavalo de pau na política comercial e diplomática de Donald Trump, contudo, está provocando mudanças tectônicas nas tendências de mercado.
A mais óbvia, aponta Gave, é o dólar estruturalmente mais fraco, que virou a tese mais consensual do mercado.
A adoção de estímulos fiscais na Europa é outra consequência desse movimento, mas o analista vê oportunidades além do que os investidores estão colocando no preço.
“Por enquanto, o mercado parece assumir que o excesso de gastos do governo vai para tanques e mísseis. Não vai. Os gastos com defesa vão principalmente para segurança e para o setor aeroespacial (para reduzir a dependência dos Estados Unidos, agora muito mais predador) e o resto do dinheiro vai para modernizar o sistema elétrico e as redes de transporte público”, aponta.
Outro efeito de Trump 2.0 deve ser o realinhamento de relações diplomáticas em toda a Ásia, diz Gave. “A Coreia do Sul e a China podem melhorar suas relações bilaterais, enquanto os atritos contínuos [de Trump] com o Japão podem acabar resultando em melhor também nas relações sino-japonesas”, pontua.
Isso sem falar no incentivo a mais estímulos fiscais da China para contrapor a ofensiva americana. O avanço colossal no mercado acionário americano entre 2022 a 2025 – quando a capitalização passou de US$ 40 trilhões para US$ 60 trilhões – veio num momento em que a China, o segundo maior mercado de ações do mundo, era considerado ‘ininvestível’, lembra o analista.
Nos Estados Unidos, a desregulamentação de alguns setores prometida por Trump, bem como cortes de impostos são temas interessantes e que, em tese, podem trazer ganhos. Mas a tese não ganha o ‘concurso de beleza’ do mercado, por conta da confusão trazida pelo presidente americano.
“Para um crescente número de investidores, a queda no dólar americano combinada com a crescente incerteza envolvendo a política americana é um obstáculo intransponível – como uma verruga no nariz de uma competidora que é simplesmente muito grande para não se ver”, conclui Gave.