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Enjoei compra 25% da Cresci e Perdi e inicia ofensiva no varejo físico

Transação de R$ 30 milhões dá acesso a rede de 550 franquias de brechós voltadas para o público infantil; é só o começo, diz o CEO Tiê Lima

Da esquerda para a direita: Lucas Baptistella, Elaine Alves, Saulo Alves, Ana Lu McLaren e Tiê Lima (Cláudio Belli)

Da esquerda para a direita: Lucas Baptistella, Elaine Alves, Saulo Alves, Ana Lu McLaren e Tiê Lima (Cláudio Belli)

Publicado em 19 de dezembro de 2023 às 21h37.

Última atualização em 10 de janeiro de 2024 às 12h16.

Pioneira na tendência de brechós no Brasil, com um ecommerce que opera há quase uma década, o Enjoei está entrando numa nova fase, com uma ofensiva em direção ao varejo físico. A ambição é formar um ecossistema que parte do second hand para outras categorias e envolve tanto o canal online quanto o offline.

A estratégia tem como ponto de partida a compra de uma participação de 25% da rede de brechós infantis Cresci e Perdi, que acaba de ser anunciada. A empresa já tem cerca de 550 franquias, com valor total de mercadorias vendidas (GMV, na sigla em inglês) de R$ 700 milhões e EBITDA de R$ 45 milhões neste ano. (A título de comparação, o Enjoei gerou um GMV de R$ 1,14 bilhão nos nove primeiros meses do ano, mas ainda está com EBITDA negativo em R$ 16,6 milhões.)

A rede fundada pelo casal Ana Luiza Mclaren e Tiê Lima está pagando R$ 30 milhões pela fatia no Cresci e Perdi, mais um valor não informado atrelado a performance do negócio a ser paga após 2027. Do valor inicial, R$ 25 milhões vão ser pagos no ato e restante em até um ano. Os recursos virão do caixa da companhia. O acordo inclui tanto uma opção de compra de toda todo o negócio após 2028 quanto uma opção de venda para os atuais sócios da Cresci e Perdi.

O movimento é o primeiro passo de um plano ambicioso de crescimento no mercado de brechós, que teve um boom pós-pandemia e hoje é formado por 120 mil lojas pulverizadas e espalhadas por todo o país.

“Queremos ser o catalisador do movimento de moda circular no Brasil. Estamos falando de um mercado de R$ 25 bilhões no país”, afirma Lima, CEO da Enjoei. “Desse volume, a maior parcela está no mundo físico, com um crescimento projetado de 29,6% no último ano. O varejo físico em moda circular cresceu mais rápido que o online depois da pandemia.”

Além do Cresci e Perdi, o Enjoei planeja lançar cinco lojas físicas da própria marca no primeiro semestre de 2024, focado em moda adulta, a princípio em São Paulo e região metropolitana.

O plano é levar a experiência e o estilo Enjoei – conhecido pelo tom de voz e estilos da marca na sua plataforma – também para o offline. Inicialmente, o plano é tocar as lojas e testar o modelo e depois repassá-lo para franqueados, num modelo asset light.

O benchmark da Enjoei é a americana Winmark Corporation, avaliada em US$ 1,5 bi na Nasdaq. “Ela tem mais de 2500 lojas nos Estados Unidos. Pretendemos fazer o mesmo aqui”, aponta Lima.

Uma das empresas que chegou ao mercado na safra do fim de 2020, marcada por juros baixos, liquidez abundante e euforia com histórias de tecnologia e crescimento, o Enjoei viu seu valor de mercado cair mais de 80% desde o IPO.

Nos últimos dois anos, vem recalibrando a operação, com foco mais na rentabilidade do que no crescimento acelerado, mas segue no vermelho – e deve enfrentar algum ceticismo dos investidores quanto a sua capacidade de entregar retornos no mundo físico, num momento de varejo desafiado.

Nesse sentido, Lima aponta que o modelo de franquias de second hand tem uma dinâmica própria: ao contrário de outros franqueadores, na moda circular, não há o chamado ‘sell-out’, que são as mercadorias vendidas pelo franqueador aos donos da loja. Há apenas o ‘sell-in’, que é a venda ao consumidor final.

Com isso, as margens são mais elevadas. No caso da Winmark, a margem EBITDA chega a 70%, diz o empresário. “Pode haver um ceticismo a princípio porque os investidores não conhecem o modelo de franquia de moda circular. Mas ele vai embora com o tempo e os resultados”, aponta.

A compra da Cresci e Perdi também reforça a aposta do Enjoei no canal infantil, considerado uma das principais avenidas de crescimento na moda circular. A estratégia vai ao encontro do modelo de negócios do Elo7, plataforma de vendas de itens de artesanato, adquirido este ano da americana Etsy, e tem que forte atuação no segmento de festas e eventos infantis.

O Enjoei vai criar um canal online exclusivo para a Cresci e Perdi. Ao mesmo tempo, as mais de 550 franquias servirão de ponto entrega e coleta de mercadorias vendidas tanto por Enjoei, Cresci e Perdi e Elo7, gerando sinergias logísticas.

"Ao ampliarmos nosso modelo de negócio para novos canais, estamos pavimentando a omnicanalidade. Acreditamos ser esta a forma mais eficiente para consolidar um mercado fragmentado e com alto potencial de crescimento”, diz Lima.

Os planos de expansão são superlativos, ainda que o Enjoei não tenha um prazo estabelecido para alcançá-los. “São 120 mil brechós no Brasil. Algo entre 1,5% e 5% do mercado é algo que a gente pode ter como objetivo”, afirma, sinalizando um potencial em torno de 1,8 mil a 2,4 mil lojas.

“E a gente não vai parar só em loja de modo adulto também. Quando você vê a Winmark, tem marca de criança, adulto, uma marca só de vintage, uma de luxo, outra de esportes, cada um com um número específico e tamanho de loja.”

No Cresci e Perdi, os fundadores Elaine e Saulo Alves continuarão à frente da gestão, como CEO e diretor de operações e expansão, respectivamente. Mclaren e Lima serão membros do conselho de administração.

Desde 2017, quando implantou o modelo de franquias, até 2020, a Cresci e Perdi manteve uma média de 40 novas lojas inauguradas anualmente. A partir de 2021, a expansão acelerou significativamente, com a abertura de 130 novas unidades a cada ano – de quatro a seis lojas por semana.

Dos 550 contratos de franquia assinados, 434 já estão em operação e o restante deve ser inaugurado no próximo ano. Cerca de 60% da operação está concentrada nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

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