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Eneva quer selo verde inédito para emissão de R$ 835 mi em debêntures

Emissão vai financiar dois projetos: um de energia limpa e outro a gás, mas com redução na emissão de carbono

Eneva: companhia já pediu selo verde à certificadora Sitawi (Eneva/Divulgação)

Eneva: companhia já pediu selo verde à certificadora Sitawi (Eneva/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 25 de agosto de 2020 às 20h37.

A companhia de energia termelétrica Eneva pode conseguir uma inovação no mundo ESG: um selo verde em uma debênture para financiar um projeto que vai reduzir a emissão de carbono. Onde está a novidade, então? No fato de ser um projeto a gás e não de energia renovável. Tradicionalmente, os selos verdes são apenas para emissões vinculadas à geração de energia totalmente limpa.

A Eneva começou a fase de apresentação a investidores para sua sexta emissão de debêntures, uma operação de 835 milhões de reais — mas que pode chegar a 1 bilhão de reais. Serão duas séries colocadas por meio de oferta pública, para financiar dois projetos diferentes. O líder coordenador da emissão é o Itaú BBA. O sindicato de bancos terá ainda Bradesco BBI, BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da Exame), Banco do Brasil e XP Investimentos. Os coordenadores deram garantia firma para a totalidade da operação e a demanda extra de mercado é que levaria ao aumento de cerca de 20% na captação.

A companhia já pediu o selo à Sitawi, a certificadora das emissões verdes, para as duas séries, conforme o EXAME IN apurou. As séries devem ter valor muito semelhante. Uma delas vai financiar um projeto que será executado apenas dentro de dois anos, para começar a gerar energia em 2026. Trata-se do Paranaíba 6. Basicamente trata-se de produzir energia com o vapor de água gerado no processo de outra usina — uma massa de ar expelida a 600 graus celsius. Esse calor tem condição de fazer funcionar outra turbina.

Com investimento de 500 milhões de reais, a usina de Parnaíba 3, com capacidade de 178 MW, pode ganhar capacidade extra de 90 MW (a vapor), que vem a ser o projeto Parnaíba 6 — vinculado a um leilão de energia que a empresa conquistou em outubro do ano passado. Trata-se de uma energia limpa produzida praticamente sem insumo e, portanto, sem resíduo. O selo verde para essa série seria trivial.

A outra série vai para o projeto Azulão-Jaguatirica II — uma usina com capacidade de 140 MW, que será construída para abastecer Roraima, conforme leilão emergencial realizado em maio do ano passado. É nessa série que está a ousadia da Eneva. O projeto pode ser classificado como ESG (a sigla para os fatores ambientais, sociais e de governança) pela melhoria que resulta, mas resta a dúvida se poderá ser considerado “verde” pelas regras da Sitawi — o que será um ineditismo, se alcançado. As respostas da certificadora devem chegar até o fim desta semana.

O investimento nesse projeto vai totalizar 1,9 bilhão de reais até agosto de 2021. Desse total, cerca de 500 milhões de reais podem ser financiados com essa debênture e o restante foi obtido com o Banco da Amazônia. O Fundo de Desenvolvimento da Amazônia também deve conceder crédito ao empreendimento.

A usina Jaguatirica II vai abastecer 40% da energia de Roraima, em substituição a termelétricas a óleo. O empreendimento será construído na capital Boa Vista e será abastecido com gás do campo de Azulão, na Amazônia. Para chegar à usina, o gás será transportado por caminhões por 1.100 quilômetros — trajeto bem mais curto do que o óleo importado dos Estados Unidos para as térmicas que hoje atendem a região. Por conta da troca de combustível envolvida, a emissão de carbono será reduzida em 35% e a de óxido de nitrogênio, em 99%. O estado antes era abastecido com energia da Venezuela. Mas, com a crise naquele país, vieram os apagões na região e o país assumiu o fornecimento de energia com o parque térmico da região Norte.

Taxas e prazos

A primeira série da emissão terá vencimento em 2030. A remuneração será a maior entre NTN-B 30 mais 1,05% ou IPCA + 3,90% ao ano. A segunda série tem prazo de 15 anos, e a remuneração será a maior entre NTN-B + 1,10% ou IPCA + 4,35% ao ano.

No Brasil, o selo verde para as emissões ainda é considerado “educativo” e não se traduz, por enquanto, em taxas menores para os emissores, segundo especialistas em crédito. No mercado internacional, os ‘green bonds’ já registram uma demanda superior que os demais papéis e já isso se reflete em um custo de capital mais baixo para as empresas.

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