Eneva: novo grupo se obriga a não ter fatia maior que BTG Pactual e Cambuhy (Eneva/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 25 de agosto de 2020 às 21h41.
Última atualização em 26 de agosto de 2020 às 00h30.
Em uma iniciativa inédita no mercado brasileiro Dynamo, Atmos e Velt, três gestoras de recursos fundamentalistas, se uniram em um acordo de acionistas minoritário na companhia de energia Eneva, conforme apurou o EXAME IN. Juntas, as três casas têm perto de 18% do capital total da empresa e, nesse primeiro momento, vincularam 16% do negócio.
O acordo deixa expresso que o grupo nunca terá participação maior do que BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da Exame) e Cambuhy, a gestora de recursos da família Moreira Salles. Cada um desses dois sócios tem perto de 23% da empresa. O objetivo da iniciativa, portanto, não é assumir o controle da Eneva. É, conforme o pessoas próximas ao tema, criar um grupo coeso, comprometido com o longo prazo do negócio e que venha a dar suporte para decisões estratégicas no futuro.
A medida chega logo após a Eneva ver sua tentativa de adquirir a AES Tietê frustrada pela controladora da geradora hidrelétrica, o grupo americano AES. Foram dois lances públicos pelo ativo.
A Eneva, hoje um negócio avaliado em 15,5 bilhões de reais na bolsa, é produto do processo de recuperação judicial da antiga MPX, empresa criada por Eike Batista, no auge do Grupo X. É o caso mais bem sucedido de uma recuperação judicial realizada no Brasil. A companhia passou por uma grande transformação desde então e deu um salto no mercado no ano passado. Hoje, está próxima de sua máxima histórica na B3. Inicialmente, era uma simples termelétrica. Mas expandiu sua atuação para o mercado de gás, enquanto seguiu na reorganização das finanças, ganhou três leilões consecutivos de energia e consolidou sua posição como geradora de energia. Em 2017, fez um Re-IPO e se relançou na bolsa em 2017. No total, já levantou quase 2 bilhões de reais com duas ofertas públicas. A ação da empresa saiu de 11,69 reais ao fim de 2016 para os atuais 50 reais.
Como se trata de algo que nunca foi feito por aqui, o acordo tem validade de três anos. Mas, segundo fontes envolvidas com o tema, pode ser estendido se estiver se mostrando importante para o negócio. "Tudo isso só foi possível porque as três casas tem uma filosofia de gestão muito semelhante", afirma uma fonte.
A chegada de um bloco forte no capital da Eneva vai trazer como contribuição uma divisão do poder de decisão sobre o negócio, hoje concentrado em BTG Pactual e Cambuhy. O acordo foi encaminhado há pouco à administração da empresa e deve ser divulgado em breve. Conforme o documento, se as gestoras ampliarem a participação, o total de ações vinculado ao acordo vai aumentar — mas sempre limitado à fatia dos dois maiores sócios.
É possível que o grupo indique um ou dois membros para participar do conselho de administração. Mas não há emergência para a iniciativa e ainda é preciso buscar um nome que faça sentido para o trio de gestoras e para a companhia. Tampouco existe intenção de modificar a estratégia e o direcionamento do negócio. O objetivo é, muito mais, garantir estabilidade à gestão no longo prazo, uma vez que a Eneva é uma companhia de capital pulverizado.
A iniciativa pode ser um experimento importante para outras semelhantes, uma vez que é crescente a quantidade de empresas no Brasil que não possuem um sócio majoritário. A forte atividade do mercado de capitais tem claramente gerado uma modificação no modelo de propriedade do país.