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Eneva acirra disputa com AES e eleva proposta pela Tietê a R$ 7,9 bi

Nova oferta também amplia pagamento em dinheiro de R$ 728 milhões para R$ 1,995 bilhão

Instalação da Eneva no Maranhão: nova oferta torna decisão do BNDES mais complexa (Eneva/Divulgação)

Instalação da Eneva no Maranhão: nova oferta torna decisão do BNDES mais complexa (Eneva/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 27 de julho de 2020 às 16h14.

Última atualização em 27 de julho de 2020 às 17h49.

Em uma grande reviravolta, a Eneva elevou sua oferta pela AES Tietê a 7,86 bilhões de reais — ante aos 7,5 bilhões de reais propostos na quinta-feira passada. Além disso, ampliou a fatia em dinheiro do pagamento de 728 milhões de reais para 1,995 bilhão de reais.

Essa oferta é para convencer o BNDES a apoiar o projeto de incorporar a AES Tietê e levar esse modelo à administração da empresa para que, então, seja colocado em votação em uma assembleia de acionistas, na qual a controladora AES Corp não tem maioria. Isso porque a Tietê é uma companhia listada no Nível 2 de governança corporativa da B3, onde as ações preferenciais também possuem direito a voto.

A Eneva, que tem a Cambuhy Investimentos e o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) como principais acionistas, quer incorporar a Tietê inteira. Não tem interesse em ficar apenas com a parcela do BNDES. O que a empresa busca é o apoio do banco na operação.

O novo valor equivale, pelo fechamento de sexta-feira, a 19,72 por unit da Tietê. A AES Corp. ofereceu 17,15 reais por ação do BNDES, mas apenas para o 67% da posição — o que colocaria cerca de 1,2 bilhão de reais no caixa do banco. A instituição de fomento tem 28,5% do capital total da Tietê —posição superior à da própria controladora.

A nova oferta dificulta a vida do BNDES, mas amplia a chance de rentabilizar seu investimento. Com essa nova oferta, a posição do BNDES seria avaliada a 2,24 bilhões de reais — quando considerada a troca de toda sua participação. Desse total, 567 milhões de reais em dinheiro, ante cerca de 200 milhões de reais do modelo apresentado na semana passada.

A AES Corp já deixou claro, na tentativa da Eneva do começo deste ano de ficar com a Tietê, que não aceitará o resultado de uma assembleia que aprove a operação, se não estiver de acordo com a transação. Entende que a opção por vender ou combinar a Tietê é apenas sua, como controladora (com 61,6% das ações ordinárias) e que o voto dos preferencialistas em assembleia seria apenas uma espécie de aval.

O assunto já foi levado à B3, que criou o regulamento do Nível 2. A bolsa confirmou o direito de voto e a AES Corp já deixou claro que diante da situação concreta levaria o negócio para ser avaliado na Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM), o que tem potencial de deixar o negócio suspenso durante um período que pode superar mais de um ano. Esse risco é o que mais traz dúvida

Em ambas as ofertas, o BNDES manteria uma participação remanescente. Na nova proposta da Eneva, ficaria com 7% da companhia combinada, além de receber cerca de 567 milhões em dinheiro. Pelo que a AES Corp ofereceu, o banco manteria uma fatia de quase 10% na Tietê. Cada um dos rivais ofereceu formas de mitigar essa questão, uma vez que o interesse da instituição é monetizar o investimento. A Eneva se comprometeu em auxiliar o banco a realizar uma oferta para vender a participação na bolsa. Já a AES Corp. deixou na mesa o compromisso de levar a Tietê ao Novo Mercado da B3, o que tornaria mais simples uma operação semelhante.

A primeira proposta pela Tietê feita pela Eneva, em 1º de março, avaliou a companhia em 6,6 bilhões de reais. Portanto, a nova oferta equivale a um aumento de quase 20%. Cambuhy e BTG Pactual teriam a participação atual na Eneva, de 23%, reduzida para 15,7% na empresa combinada, fruto da diluição gerada pela emissão de 114,75 milhões de novas ações ordinárias. A totalidade do capital da Tietê equivaleria a 25% da empresa combinada e a da Eneva, de 75%.

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