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EMS vê venda de canetas para obesidade 20% acima do esperado – e reforça interesse na Medley

Vice-presidente Marcus Sanchez fala sobre o primeiro mês de comercialização das canetas para diabetes e perda de peso e abre o jogo sobre os planos da empresa para M&As

Fábrica de medicamentos da EMS, em Hortolândia (SP): a planta foi modernizada para produzir a semaglutida (Leandro Fonseca/Exame)

Fábrica de medicamentos da EMS, em Hortolândia (SP): a planta foi modernizada para produzir a semaglutida (Leandro Fonseca/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do Exame INSIGHT

Publicado em 12 de setembro de 2025 às 15h23.

A EMS foi a primeira farmacêutica a colocar na rua uma versão brasileira dos análogos de GLP-1 – ou, em bom português, das canetinhas para tratamento de diabetes e obesidade que vem revolucionando o mercado. Pouco mais de um mês depois do lançamento oficial, o desempenho tem surpreendido, afirma o vice-presidente da companhia, Marcus Sanchez.

“As vendas estão cerca de 20% acima das nossas expectativas, com uma aceitação muito boa dos médicos e dos pacientes”, disse em conversa com o INSIGHT. “Nossa projeção é de um faturamento de R$ 100 milhões a R$ 120 milhões em 12 meses e é bem provável que esse número se supere.”

As cifras ainda são pequenas perto da receita líquida de R$ 8,27 bilhões da EMS no ano passado. Mas trata-se de uma avenida de crescimento importante para os próximos anos, especialmente a partir de 2026, quando se espera que a caia a patente do Ozempic, abrindo espaço para as vendas da semaglutida, de aplicação semanal e efeito mais pronunciado na perda de peso.

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A patente da liraglutida caiu em novembro do ano passado, mas a Novo Nordisk não vinha mais trabalhando o produto. Com isso, o foco da EMS foi resgatar a substância, por meio dos medicamentos batizados de Olire e Lirux, junto aos médicos. “Nossa expectativa é que o produto penetre de maneira ainda mais forte nos próximos meses, agora que a propaganda médica está sendo mais disseminada e que o produto já tem mais conhecimento entre o público geral”, diz Sanchez.

Ele também não acredita numa substituição do uso da liraglutida pela semaglutida, após a queda da patente, apesar das injeções da primeira substância precisarem ser diárias. “Quando um paciente está fazendo o tratamento e está estabilizado, não tem muito porque trocar”, diz.

Outra questão é o preço: a liraglutida é mais barata, mesmo já ajustando pela maior quantidade de aplicações. E a tendência é que fique ainda mais em conta, diz o VP.

“Por mais que o medicamento já saia com preços menores na largada, a maior queda de preço tende acontecer um ano depois. Hoje são poucos fabricantes de matéria-prima aptos a fabricar aquele produto, mas conforme o volume a concorrência aumentam, aumenta a produção e o custo diminui”, afirma.

M&As no radar

Além da inauguração da nova fábrica em Hortolândia (SP) para a fabricação das canetas, a EMS vem num ciclo intenso de investimentos nas suas unidades fabris em todo o país para dar conta do crescimento da produção tanto de genéricos, quanto sua linha de medicamentos de marca.

De acordo com Sanchez, isso vem garantindo um bom crescimento neste ano, com avanço no primeiro semestre e um desempenho ainda maior, com ganho de share, agora na segunda metade do ano.

Para os anos de 2026 e 2027 estão previstos mais R$ 1 bilhão de investimentos em expansão da capacidade fabril. “Esse próximo ciclo ainda comporta investimentos nas unidades em que já temos, mas depois pode ser que precisamos investir na construção de novas fábrica”, diz Sanchez.

Com um balanço sem dívidas, ao contrário de boas partes dos players do setor, a companhia também tem se posicionado uma consolidadora do mercado, de olho em aquisições.

Uma delas foi a compra da operação de medicamentos injetáveis da alemã Frenesius Kabi no Brasil, o que inclui uma unidade em Anápolis, em Goiás que produz remédios de uso hospitalar, como oncológicos, analgésicos e anestésicos. Anunciada em abril, a transação acaba de ser concluída, após aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

“Já tínhamos um pipeline de injetáveis e precisávamos construir fábrica. Com a aquisição, já temos a unidade. Agora, precisamos avaliar o quanto conseguimos crescer lá e o que precisa ampliar”, afirma o executivo.

A EMS também está de olho em oportunidades de aquisições no segmento de OTC, ou de medicamentos vendidos fora do balcão, onde, ao contrário dos genéricos tem um share menor no mercado, de pouco mais de 10%.

“Estamos apostando muito nas marcas que já temos, desenvolvendo novas marcas dentro de casa e também muito de olho nas oportunidades de aquisição que possam vir à mercado.” A última grande aquisição nesse sentido foi a linha de sabonetes íntimos Dermacyd, adquirida da francesa Sanofi por 66 milhões de euros no começo de 2023.

Sem Hypera, de olho na Medley

Sanchez não esconde também o interesse em outro ativo muito maior da Sanofi, a Medley, sua operação de genéricos no país. "Temos interesse em aquisição de empresas que complementem nosso portfólio ou que sejam estratégicas para nós. Então, sim, vamos nos posicionar como uma empresa interessada quando for aberto o processo de Medley”, afirma. “A partir daí, se vamos ter uma competitividade boa no processo ou se vão querer um valor astronômico, aí só o futuro vai dizer”.

O processo ainda não está oficialmente na rua, em grande parte porque o carve-out da operação de genéricos está demorando um pouco mais que o esperado. A expectativa é que ele seja aberto entre janeiro e fevereiro de 2026. A Medley fatura cerca de R$ 1,5 bilhão e foi comprada pela Sanofi em 2009 por um valor equivalente.

Sanchez não fala em valores, mas, segundo apuração dos colegas do NeoFeed publicada em agosto, a Sanofi estaria buscando algo próximo de US$ 1 bi, enquanto a EMS estaria mais disposta a oferecer algo próximo de US$ 500 milhões.

A Hypera, por outro lado, é página virada por ora, diz Sanchez. No ano passado, a EMS chegou a fazer uma investida pela dona da Neoquímica, que não foi aceita pelo conselho e nem pelo grupo de controle, que se consolidou com a chegada da Votorantim.

“Entendemos que eles estão bem resolvidos com o controle, com a entrada da Votorantim e cabem a eles as decisões. É óbvio que se eles entenderem que já algum tipo de sinergia e que tem interesse de sentar para conversar, nós também estamos à disposição”, diz.

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