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Empresas ainda ignoram diversidade racial quando falam em governança

Gestor aponta neste artigo assinado que há pouca informação tornada disponível publicamente pelas empresas sobre a raça e etnia dos empregados

Pintura "Black Lives Matter" em frente à Trump Tower, nos Estados Unidos (Mike Segar/Reuters)

Pintura "Black Lives Matter" em frente à Trump Tower, nos Estados Unidos (Mike Segar/Reuters)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 26 de novembro de 2020 às 13h59.

Última atualização em 26 de novembro de 2020 às 14h45.

Os gestores de empresas e fundos de investimentos começaram a falar cada vez mais em ESG (Enviromental, Social, and Governance, na sigla em inglês) como algo importante no mundo corporativo. Porém, o “G” do ESG ainda é pouco associado a métricas de diversidade (“D”) e de EEO (Equal Employment Opportunity, na sigla em inglês, ou “Iguais Oportunidades de Trabalho”).

EEO significa que todas as pessoas devem ter condições justas e equitativas de acesso a oportunidades de trabalho independentemente de nacionalidade, raça, religião, cor, sexo (incluindo gravidez e orientação sexual) ou desvantagens físicas.

Mas, quando pensamos em governança corporativa nas empresas e nas decisões de alocação de capital no mercado financeiro, raramente diversidade é algo assumido como determinante ou com o mesmo peso nas métricas de avalição da qualidade de governança (“G”) nas empresas.

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Nos últimos anos movimentos importantes ocorreram no caso da diversidade de gênero, especialmente para que mais mulheres fossem contratadas e que passassem também a atuar em cargos executivos e em conselhos de empresas. Essa tem sido uma evolução lenta quando avaliamos dados globais, porém extremamente importante. Apesar disso, a presença de mulheres em cargos executivos ou em comitês e conselhos diretores de empresas e de fundos de investimentos continua muito baixa.

Quando falamos, no entanto, em diversidade racial, o tema é infelizmente ainda pouco tratado no mundo corporativo. Para começar, há pouca informação tornada disponível publicamente pelas empresas sobre a raça e etnia dos empregados e nos cargos executivos e de direção.

Movimentos internacionais como o “Black Lives Matter” e outros de ação afirmativa parecem começar não apenas a denunciar a violência e a opressão do racismo, mas também a pressionar as lideranças no mundo corporativo a valorizarem a importância de ações destinadas à promoção de igualdade de oportunidades e da diversidade racial no mercado de trabalho como forma de enfrentamento do racismo.

Não basta as lideranças se declararem abertas ao tema, como algo, obviamente, politicamente correto. Isso não é suficiente. A força que o movimento de ESG vem tendo no mundo corporativo poderia ser usada para que tanto a diversidade de gênero como a diversidade racial fossem incorporadas como ação efetiva para a transformação da governança das empresas e na tomada de decisões de alocação de capitais no mercado.

Isso implica também tratar o ESG não apenas como filtro, mas essencialmente como ação. Como filtro, as métricas de ESG servem para criar selos de qualidade às empresas que adotam boas práticas dentro de determinados critérios e políticas de impacto socioambiental e de governança. Mas como ação, o ESG envolve a própria escolha e a ênfase na substância de cada critério e política.

Ou seja, aqueles que tomam as decisões de gestão e alocação de capitais nas empresas e no mercado precisam trabalhar para criar processos, padrões e métricas para geração de informações e definições de políticas corporativas destinadas a incorporar também a diversidade racial na agenda de governança das empresas.

Essa é uma ação extremamente necessária para que o “G” do ESG possa gerar transformações ainda mais profundas nas práticas corporativas que enfatize a diversidade racial junto com o processo já iniciado de ampliação da diversidade de gênero.

O título desse artigo — que em sua versão original era "ESG IF G = D AND EEO TRUE" — poderia ser mais uma fórmula de Excel para calcular o retorno dos investimentos de capital financeiro em empresas. Apesar de não ser tecnicamente, isso não significa que não seja uma fórmula que possa resultar em geração de valor.

Diversidade aliada à meritocracia é uma fórmula poderosa para tornar o capitalismo mais civilizado, mais poroso a diferentes visões e ideias e, assim, mais inovador e inclusivo dentro da governança das empresas e na tomada de decisões de alocação de capital.

*Paulo Mattos é presidente e fundador da gestora de recursos da IG4 Capital, controladora da Iguá Saneamento e da Opy Health, entre outras empresas.

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