Embraer: após o fim do acordo com a Boeing, as conversas com BNDES são embrionárias e os montantes são ainda apenas parâmetros (Roosevelt Cassio/Reuters)
Beatriz Correia
Publicado em 4 de maio de 2020 às 20h06.
Última atualização em 4 de maio de 2020 às 20h56.
A Embraer, após o fim do acordo com a Boeing, entrou para a longa fila de companhias em busca de resgate nas operações que serão lideradas pelo BNDES. A companhia procura entre 1 bilhão de dólares e 1,5 bilhão de dólares, e deve ser atendida, mas não está na fila de situações críticas, conforme pessoas próximas às conversas. Há pacientes atingidos pela pandemia da covid-19 em situação mais grave que a fabricante de aviões, como varejistas, aéreas de empresas da cadeia automotiva. Tampouco é certo, nesse momento, que os valores almejados estarão disponíveis. As conversas são embrionárias e os montantes são ainda apenas parâmetros.
Apesar do desfecho trágico para um dos negócios mais aguardados do país, a Embraer tem uma posição financeira, neste momento, de fazer inveja a suas pares internacionais – em especial à própria Boeing. Ao fim de dezembro, a brasileira tinha 11,2 bilhões de reais em caixa para 13,7 bilhões em dívidas. Os vencimentos de curto prazo – ou seja, até dezembro deste ano – estavam abaixo de 890 milhões de reais. Amortizações mais relevantes serão encaradas pela companhia apenas a partir de 2022.
Para acessar os recursos, a fabricante terá antes um duro dever de casa: entregar ao BNDES um projeto para o negócio, uma identidade, agora sem a Boeing. Não bastará mostrar necessidade, será necessário ter plano para demonstrar que há possibilidade de retorno, segundo fontes ligadas às conversas. O banco entende que se trata de um dos projetos de mais longo prazo entre os necessitados, mas quer ver um plano estratégico, um norte. A velocidade para acessar os recursos estará diretamente atrelada à capacidade da empresa de reagir ao cenário, portanto.
O desafio da Embraer – como de todas as fabricantes de aeronaves do mundo – está nos próximos anos. A Boeing fará falta para o desenvolvimento estratégico de longo prazo. Mas, nesse momento, não há visibilidade para o setor de forma geral. Os problemas virão, no decorrer do tempo, com demora na retomada da venda de novas aeronaves. Por enquanto, a própria Embraer, já indicou que a paralisação das vendas permite uma economia de custos da ordem de 1 bilhão de dólares.
E, quando o tema são aviões, as companhias aéreas, que transportam carga e passageiros, estão em situação muito mais urgente, de acordo com fontes ligadas às discussões. Também devem ser atendidas com maior celeridade setores como varejo e infraestrutura, com destaque para transportes urbanos.
O que poderá ser feito pela Embraer é exatamente a mesma coisa que está sendo desenhada pelo BNDES para as companhias de aviação comercial – e que servirá de base para as operações de resgate ligadas à crise da covid-19.
O BNDES, junto com os grandes bancos comerciais do país e investidores institucionais, oferecerá acesso a recursos por meio de uma cesta composta por debêntures simples mais bônus de subscrição de ações. Quanto maior a parte da transação estiver em renda variável, menor será o custo da dívida.
Mas há o limite claro de que nem BNDES, nem demais bancos querem se transformar em donos de companhias ou entrar para o bloco de controle. O modelo atual pretendido é bastante diferente do perfil de hospital que o banco já usou no passado.
Idealmente, os bônus de subscrição de ações poderão ser negociados no mercado secundário separadamente das debêntures. Em tese, quanto mais rapidamente as empresas se recuperarem, mais interesse haverá pelos papéis e maior será a chance dos bancos nem precisarem se transformar em sócios de fato das empresas. Haverá ajustes de estrutura a cada caso. Mas a base é essa.