Fábrica da Embraer em São José dos Campos: a brasileira diz que vai tomar as medidas cabíveis contra a Boeing pelos danos sofridos com o rompimento (Germano Lüders/Exame)
Denyse Godoy
Publicado em 25 de abril de 2020 às 13h11.
Última atualização em 25 de abril de 2020 às 19h35.
A fabricante brasileira de aeronaves Embraer disse neste sábado, em comunicado à imprensa, que "acredita firmemente que a Boeing rescindiu indevidamente" o acordo pelo qual a americana compraria a unidade de jatos regionais da brasileira por 4,2 bilhões de dólares.
O encerramento da fusão foi anunciado na manhã de sábado pela Boeing, que alegou que a Embraer não teria cumprido todas as condições previstas no contrato para a concretização da transação.
"A empresa acredita que a Boeing tenha adotado um padrão sistemático de atraso e violações repetidas ao acordo devido à falta de vontade em concluir a transação, à sua condição financeira, aos problemas com o 737 MAX e a outros problemas comerciais e de reputação", diz a Embraer no comunicado.
"A Embraer acredita que está em total conformidade com suas obrigações previstas no acordo e que cumpriu todas as condições necessárias previstas até 24 de abril de 2020. A empresa buscará todas as medidas cabíveis contra a Boeing pelos danos sofridos como resultado do cancelamento indevido e da violação do acordo."
A Boeing anunciou a decisão de desistir do acordo com a Embraer na manhã do sábado 25. O prazo para que o acordo fosse selado definitivamente terminou ontem.
Na prática, o que estava acordado há quase dois anos era a compra da unidade de aviação comercial da Embraer pela Boeing, na proporção de 80%. A companhia brasileira manteria 20% de participação minoritária como sócia da gigante americana. Sem o negócio, a Embraer “volta” a ser uma fabricante brasileira de aviões.
Pelo acordo, a Boeing pagaria 4,2 bilhões à Embraer no fechamento. O desembolso teria de ocorrer agora, após a assinatura final – ou seja, no meio da crise de liquidez do setor devido à pandemia do coronavírus. Outra parte da transação é que haveria a formação de uma joint-venture para a produção do avião de uso militar KC-390.
“A Boeing trabalhou diligentemente por mais de dois anos para a finalizar a transação com a Embraer. Durante os últimos meses, nós tivemos produtivas mas frustradas negociações sobre condições materiais precedentes não concluídas. Nós todos desejávamos concluir isso até a data final, mas não aconteceu”, afirma Marc Allen, presidente da Embraer Partnership & Group Operations. “Estamos profundamente desapontados.”