Fábrica da Unipar em Cubatão: Unidade está recebendo investimento de US$ 200 milhões para modernização (Divulgação/Divulgação)
Editora do EXAME IN
Publicado em 9 de maio de 2025 às 10h26.
A petroquímica Unipar enfrentou uma tempestade perfeita no começo do ano. Num negócio essencialmente cíclico, a persistente maré de baixa para o PVC se somou a uma queda de 10% no preço internacional da soda no mercado internacional.
Além disso, uma enchente sem precedentes no começo de março afetou a operação argentina. A planta de Bahía Blanca não foi afetada, mas a cadeia de suprimentos sim, com interrupção do fornecimento de etileno, sua principal matéria-prima.
A unidade ficou parada por duas semanas, retomando a produção gradualmente em abril. Só nesta semana, a operação foi inteiramente recobrada.
“Houve pouco impacto para nossos clientes no mercado, porque conseguimos fazer gestão de estoques e atender a demanda com eles”, afirma o CEO da companhia, Rodrigo Cannaval, em entrevista à EXAME, numa serenidade clássica de quem está acostumado a lidar com ciclos.
Da porta para dentro, contudo, a Unipar conseguiu entregar, com uma gestão de custos que vem ajudando a passar pelo ciclo de baixa. “Tirando esse efeito argentino, eu diria que tivemos uma excelente performance operacional”, ressalta o executivo.
Apesar dos contratempos, a margem EBITDA do primeiro trimestre ficou em 26%, dois pontos percentuais acima do desempenho dos últimos três meses do ano.Naquele período, o indicador ficou em 24% – excluindo fatores extraordinários que tinham puxado o resultado operacional para cima, como uma reversão de provisão relativa à atividade de energia e compensações operacionais de investidas.
Na comparação anual, o avanço é mais expressivo: 6 pontos percentuais acima dos 20% do primeiro trimestre de 2024.
A Unipar encerrou os três primeiros meses do ano com receita de R$ 1,35 bilhão, queda de 14% em relação ao trimestre anterior. O EBITDA, sem considerar os ajustes, recuou 23%. O lucro líquido, por sua vez, caiu 49%, para R$ 150 milhões.
Olhando no ano contra ano, o desempenho foi mais expressivo: avanço de 18% na receita, de 79% no EBITDA e um lucro três vezes superior.
O resultado dá partida num ano transformacional para a Unipar. A companhia, controlada pelo empresário Frank Geyer Abubakir, inaugurou seu primeiro projeto greenfield, uma planta de cloro e soda em Camaçari, na Bahia.
O objetivo é atender a demanda por indústrias locais e pelo setor de saneamento, cuja demanda deve crescer em meio aos investimentos previstos com privatizações e o novo marco do saneamento.
“Quando olhamos o primeiro trimestre, a demanda de saneamento está praticamente estável, onde estava no fim do ano. Mas a tendência é muito positiva: basta olhar o quanto somente a Sabesp pretende investir nos próximos anos para universalizar o atendimento”, diz Cannaval.
A Unipar também está fazendo o maior investimento da sua história, de US$ 200 milhões, na modernização da unidade de Cubatão (SP).
A expectativa é que ela seja concluída em no quarto trimestre de 2025, diz Cannaval, numa iniciativa que será decisiva para reduzir custos. A Unipar substituirá as tecnologias de mercúrio e diafragma – muito intensivas em energia – por uso exclusivo de membrana na produção de cloro e soda.
No fim do ano passado, a companhia assegurou uma linha verde de R$ 673 milhões do BNDES com juros mais baixos dentro do Fundo Clima para o projeto, o que reduziu os custos de captação. Meses antes, a Unipar já tinha alongado prazo e reduzido custos com a emissão de uma debênture de R$ 750 milhões.
Segunda maior produtora de PVC da América Latina, a Unipar não vê uma melhora tão cedo para os preços da resina.
“As incertezas da guerra tarifária não corroboram com a recuperação do ciclo petroquímico. Alguns teóricos tem dito que nem há mais ciclo petroquímico, que esse é o ‘novo normal’. Não sei se eles estão certos, mas as incertezas tarifárias certamente alongam esse ciclo de baixa”, afirma.
Na Argentina, o cenário também é bastante incerto, ele aponta.
“Ainda temos uma inflação persistente em dólar, o que põe pressão no custo fixo das empresas”, diz.
Além disso, dentro da agenda liberalizante de Milei, as obras de infraestrutura – demandantes de PVC – e que eram puxadas pelo setor público estão paradas. “Ele quer fazer parceiras público-privadas, trazer o setor privado, mas por enquanto o que vemos é hiato.”
No Brasil, uma agenda cara à Unipar é a enxurrada de PVC vindo de outros países, especialmente os Estados Unidos e o Egito.
“Tem muito produto americano chegando, é quase o equivalente a uma Unipar no Brasil, basicamente. Precisamos mover nossa agenda de defesa comercial junto com as associações e o governo federal”, diz.