Oncoclínicas: CEO Bruno Ferrari vê mercado mais saudável, com menos pressão por parte dos planos de saúde (Oncoclínicas/Reprodução)
Editora do EXAME IN
Publicado em 6 de agosto de 2024 às 17h27.
Última atualização em 6 de agosto de 2024 às 17h32.
Menos de um mês depois de um aumento de capital que lançou o Banco Master à posição de principal acionista e deu fôlego ao balanço apertado, a Oncoclínicas acaba de anunciar seu primeiro movimento de internacionalização.
A companhia fará sua estreia na Árabia Saudita – um mercado endereçável de US$ 3 bilhões para tratamentos oncológicos e que hoje conta com poucas operações para tratamento do câncer.
“Hoje, a maior parte dos sauditas vai para fora do país quando precisa fazer um tratamento, é um mercado com muitas possibilidades”, afirma o CEO e fundador Bruno Ferrari.
A incursão será feita na forma de uma joint venture com o grupo saudita Al Faisaliah, conglomerado de capital privado atua em setores como o de laticínios, eletrônicos e serviços alimentares e já tem experiência em saúde, como representante de equipamentos médicos da Philips e na indústria de medicamentos genéricos.
“Vamos entrar com a expertise da Oncoclínicas em padronização do atendimento e acesso às melhores terapias e pesquisas de ponta, e eles entram com o conhecimento do mercado local”, afirma Ferrari. O atendimento será feito por médicos oncologistas do Reino, treinados pela equipe da Oncoclínicas.
A parceria vai começar com uma unidade ambulatorial em Riad de 9 mil metros quadrados, voltada diagnósticos e tratamento[/grifar] – seja via infusões ou radioterapia –, que vai demandar da Oncoclínicas entre US$ 15 milhões e US$ 20 milhões em investimentos entre construção e maturação nos próximos três anos.[/grifar]
O investimento total será dividido entre os sócios na proporção de sua participação. A Oncoclínicas terá 51% da JV e o Al Faisaliah os 49% restantes.
A sociedade é apenas o começo da expansão do grupo na Arábia Saudita, um país com 32 milhões de habitantes e cujo PIB tem crescido cerca de 4% ao ano.
“Queremos usar a geração de caixa desse projeto para crescer no país”, disse o CFO Cristiano Camargo. A meta é chegar a US$ 550 milhões em receitas na região em cinco anos. O país pode ser base para atender todo o Oriente Médio, com uma população de 300 milhões de habitantes que pode acessar Riad por meio de voos de menos de três horas.
Não é pouca coisa: para efeito de comparação, a Oncoclínicas faturou R$ 6 bilhões no Brasil no ano passado.
A rentabilidade da operação em Riad também tende a ser maior. De acordo com a empresa, a meta para cinco anos é de um EBITDA de US$ 150 milhões – praticamente equivalente ao que registrou no ano passado por aqui, de R$ 900 milhões.
A concorrência menos acirrada e o funcionamento do sistema de saúde saudita explicam a expectativa. Por lá, 20% da população tem planos de saúde e os 80% restantes são atendidos pelo governo – que tem bolsos fundos para pagar os tratamentos e não raro envia seus cidadãos para tratamento fora do país.
“É uma prioridade do plano Visão 2030 do Reino dar acesso à saúde de mais qualidade dentro do próprio país”, diz Ferrari.
No Brasil, a companhia tem sofrido com a queima de caixa oriunda principalmente do cenário mais estressado para as operadoras de saúde, que vem se financiando via aumento de prazos e de glosas com os prestadores de serviços.
O namoro com os sauditas começou há pouco mais de um ano, quando a Oncoclínicas participou de uma missão de brasileiros para conhecer as oportunidades de investimento em Riad.
A companhia, no entanto, não pretende fazer novos movimentos de internacionalização. “Entendemos que havia uma prioridade e uma visão de Estado para o investimento, com um apoio muito grande. Era uma oportunidade única”, afirma Ferrari.