Painel de cotações da B3 (Germano Lüders/Exame)
Repórter de Invest
Publicado em 27 de novembro de 2024 às 15h34.
Última atualização em 27 de novembro de 2024 às 16h57.
Em meio à novela do fiscal, os bancos gringos estão jogando a toalha em relação ao Brasil – com perspectivas pouco promissoras, especialmente em comparação aos pares na América Latina.
Pouco mais de uma semana após o Morgan Stanley rebaixar as ações brasileiras para underweight, equivalente a uma recomendação de venda, desta vez foi a vez do JPMorgan. O banco americano divulgou relatório nesta terça-feira, 26, tirando o Brasil da recomendação de compra e colocando os papéis locais como neutros. Na região, a preferência é para o México – mesmo com as ameaças de Donald Trump de imposição de tarifas para produtos do vizinho.
O rebaixamento do Brasil vem mesmo após a derrocada da bolsa deixar os preços atrativos. “Os mercados latino-americanos pioraram este ano, sendo a região, de longe, a que tem o pior desempenho global, com Brasil e México lutando pelo último lugar, com quedas acumuladas de 22% e 28% respectivamente”, escreveram os analistas.
O consenso para o múltiplo preço/lucro de 12 meses para o Brasil está em 8,1x que, nos cálculos do JPMorgan, está entre os mais baixos em todos os mercados emergentes. Ainda assim, não é suficiente para apostar nas ações brasileiras. Os motivos são três: a tendência de alta nas taxas de juros, a incerteza fiscal e o cenário global, que está jogando contra o Brasil.
Nos juros, o país está na contramão de outros países como Estados Unidos e México, onde as taxas estão em tendência de queda. Por aqui, a Selic voltou a subir em setembro e está em 11,25% ao ano, com potencial de chegar a 12,25% ao ano em 2025, segundo as últimas projeções do Boletim Focus, e a 13% ao ano nas estimativas do JPMorgan.
“O aperto [nas taxas de juros] no Brasil provavelmente irá abranger o primeiro semestre do próximo ano. E as ações geralmente registraram resultados negativos durante ciclos de alta de juros, nos quais nenhum setor [da bolsa] tem desempenho positivo.”
O JPMorgan destaca que o mercado brasileiro vem rodando em círculos em torno do tema fiscal há dois anos. O ciclo funciona assim: o mercado tem dúvidas sobre a sustentabilidade das contas e o governo responde com um paliativo que acalma os ânimos no curto prazo – até que a preocupação volte a ser a pauta do dia.
“Embora possa haver um esforço para manter o controlo das despesas [por parte do governo], esta é hoje uma proposta muito difícil, tendo em conta a falta de apoio geral na administração para um ajuste do lado das despesas e a rigidez apresentada pelo próprio orçamento”, afirmam.
A avaliação do banco é de que seria muito “ambicioso” esperar mudanças estruturais para a estabilização da dívida do País. Tanto pelo governo quanto pela necessidade de aprovação no Congresso, muito difícil nesta época do ano, próxima ao recesso. “Sendo assim, a história de recuperação para o Brasil carece de gatilhos de curto prazo, na nossa opinião.”
E para além da questões locais, o Brasil tem ainda um desafio global. O crescimento mais lento da China pode impactar os preços das matérias-primas, machucando os grandes exportadores de commodities. O lado bom, segundo o JPMorgan, é que as restrições dos Estados Unidos à China podem desviar as compras do gigante asiático para o Brasil em produtos como soja, milho e carne bovina.
O México, por outro lado, tem um potencial mais interessante de retorno na avaliação do JPMorgan, que está dando o “benefício da dúvida” ao País elevando as ações para overweight, equivalente a uma recomendação de compra. Um dos pontos positivos é que, ao contrário do Brasil, o México está em uma tendência de corte de juros, que deve levar as taxas para 9% ao ano até maio de 2025.
“As taxas mexicanas têm um impacto muito menor nos mercados, considerando que o nível de crédito é pequeno, especialmente quando comparado ao Brasil, tanto do ponto de vista corporativo como do varejo.”
Existe ainda um importante fator macroeconômico. Enquanto a China está enfraquecida, os Estados Unidos seguem fortes e podem influenciar positivamente o México devido à alta correlação entre os dois países.
Os analistas do banco esperam um crescimento no consumo mexicano com o apoio de remessas de dinheiro daqueles que vivem nos EUA e enviam dinheiro às suas famílias no país de origem. Outro destaque é a produção industrial mexicana, que pode se beneficiar do momento do vizinho mais rico – grande importador de seus produtos.
Existe, no entanto, um risco com a eleição de Donald Trump, que assume a presidência dos EUA no próximo ano com um discurso altamente protecionista. “As políticas do Presidente Trump em matéria de imigração e tarifas poderiam prejudicar o México de forma mais directa do que estamos assumindo atualmente”, admitem os analistas. O cenário básico, no entanto, é que, apesar das ameaças do republicano, a imposição da tarifas mais amplas sobre as importações do país é pouco provável.
Para o JPMorgan, o portfólio de ações mexicano é mais barato e estável que o brasileiro. “É preciso considerar também que o índice mexicano é muito mais defensivo que o do Brasil, sendo o maior setor o de consumo básico (35% do total).”
Para o resto da América Latina, as recomendações não mudaram. O JPMorgan segue overweight para os papéis do Chile, que tem valuation atrativo e a maior taxa de crescimento da região.
Colômbia e Peru estão no polo oposto devido aos aos preços mais baixos do petróleo, no caso da Colômbia, e ao valuation apertado para o Peru, que é o único país da América Latina com ações negociadas acima da média histórica.
A exposição à Argentina fica concentrada principalmente no setor de energia, com uma ressalva: o banco está mais otimista com as perspectivas macroeconômicas do país, após dados recentes sobre inflação, crescimento e equilíbrio fiscal.