GetNinjas: Empresa queria distribuir 70% dos recursos captados no IPO de volta aos acionistas (GetNinjas/Divulgação)
Editora do EXAME IN
Publicado em 23 de outubro de 2023 às 14h19.
Última atualização em 23 de outubro de 2023 às 14h59.
Na batalha pelo futuro da GetNinjas, a gestora REAG saiu vitoriosa. Uma assembleia de acionistas realizada na manhã de hoje barrou a proposta de redução de capital proposta pela administração da companhia, com um total de 54,5% do capital. Apenas 37% do capital se posicionaram a favor, num quórum total de 90,5%.
A decisão é uma derrota para o fundador Eduardo L’Hottelier, que tinha proposto no fim de setembro devolver R$ 223 milhões que estavam parados em caixa para os acionistas, num total de R$ 4,40 por ação. O valor é equivalente a 70% dos recursos captados no IPO da companhia, em 2021.
Nas últimas semanas, L’Hotellier, que também é CEO da companhia, fez um movimento intenso de compra de ações no mercado, passando de 18% para pouco menos de 25% da empresa, numa tentativa de barrar o avanço da REAG.
Com uma base de acionistas bastante pulverizada, o fundador fez também uma ampla campanha para atrair o voto de pessoas físicas – o que se refletiu no quórum elevado da assembleia, ainda que com resultado desfavorável a ele.
A REAG começou a aumentar a participação na companhia pouco antes do anúncio de redução de capital. Por meio de diversas compras, chegou a 30% dos papéis há pouco mais de uma semana, disparando a cláusula de poison pill que determina que quem atingir 25% do capital precisa fazer uma oferta pública de aquisição (OPA) para todos os acionistas da empresa.
A OPA deve ser feita a R$ 4,52 por ação – referente à média ponderada dos últimos 30 pregões antes do anúncio do atingimento da participação de 25%, conforme manda o estatuto. Hoje, os papéis da GetNinjas estão cotados a R$ 4,29. A REAG já convocou uma nova assembleia, para o dia 21 de novembro, para destituir o atual conselho de administração e eleger seu próprio, comandado pelo CEO da gestora, João Mansur.
O plano da REAG é o de construir um “ecossistema” em torno da startup de prestação de serviços domésticos – como de reparos, manutenção e faxina –, usando parte dos recursos em caixa para adquirir empresas de serviços correlatos, como de serviços para condomínios e adquirência de cartão. As startups CondoCash e Bom para Crédito, respectivamente, que atuam nesses segmentos, estão no portfólio da gestora.
No que virou se transformou numa guerra de narrativas e versões, a atual administração da GetNinjas já questionou publicamente a REAG sobre um potencial conflito de interesses ao utilizar os recursos da companhia para comprar empresas do portfólio. A REAG nega.
A gestora Arc Capital também entrou com uma grande força compradora nas últimas semanas, atingindo uma participação de pouco mais de 17%, e votou pelo bloqueio da redução de capital, segundo fontes que participaram da assembleia.
Na votação de hoje, os acionistas aprovaram a instalação de um conselho fiscal para a GetNinjas, a pedido da REAG. Todos os membros serão indicados pela gestora.
A assembleia é o capítulo mais recente de uma história de que se tornou emblemática das distorções trazidas por uma leva de IPOs de 2021, que acabou levando a mercado empresas com baixa maturidade em meio à euforia de juros baixos e liquidez abundante.
Com a virada de mão dos juros, os investidores passaram a privilegiar rentabilidade em vez de crescimento — e a estratégia de aquisições e queima de caixa para atrair clientes de diversas startups acabou sendo abortada.
Por um lado, fundadores e fundos de venture capital conseguiram vender parte de suas participações em secundárias a valuations que hoje se mostraram esticados.
Mas ao falhar em implementar a estratégia do IPO, a GetNinjas acabou sentada numa pilha de caixa, dando baixo retorno aos acionistas que apostaram na empresa na oferta e tornando a empresa alvo fácil para investidores com perfil mais tático, de olho nos recursos parados no balanço.