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Em assembleia de seis horas, credores aprovam plano de recuperação da Americanas

Com conversão de dívidas, bancos devem ficar com cerca de 48% da companhia

Americanas: Mais 3G e bancos na base acionária, com a aprovação do plano de RJ (Leandro Fonseca/Exame)

Americanas: Mais 3G e bancos na base acionária, com a aprovação do plano de RJ (Leandro Fonseca/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 20 de dezembro de 2023 às 09h46.

Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 21h45.

Depois de quase um ano sob a maior crise do varejo brasileiro, a Americanas começou hoje a traçar um novo caminho. Ontem à noite, a empresa conseguiu aprovação de seu plano de recuperação judicial por 97,19% dos créditos, numa assembleia de quórum e atenção altos, em que 97,36% dos credores financeiros e fornecedores participaram.

Foram seis horas e mais de 300 perguntas dos credores – especialmente dos fornecedores, dos maiores aos menores – à CFO, Camille Faria, e até mesmo a possibilidade de suspensão da assembleia – uma opção rejeitada depois de 40 minutos de votos pela plataforma digital com direito a indas e vindas pela dificuldade dos representantes de usarem a ferramenta. Entre alguns credores também pairava a cobrança da divulgação dos números dos três primeiros trimestres de 2023, prometidos pela CFO para até o fim de janeiro.

A aprovação era esperada depois de credores representantes de pelo menos 60% das dívidas sinalizarem positivamente ao plano em negociações prévias à assembleia. Excluindo créditos intercompany, a dívida da Americanas soma R$ 42,5 bilhões. O CEO da Americanas, Leonardo Coelho, destacou a versão final do plano de recuperação judicial como um “esforço conjunto” de colegiado de credores, assessores financeiros e assessores jurídicos. “O plano tem o melhor formato possível para equilibrar passivos e destravar o crescimento sustentável da empresa.”

O plano sofreu mudanças pontuais depois da reunião da companhia com os bancos no último dia 12. Os credores quirográficos, ou seja bancos, debenturistas e fornecedores, representam quase a totalidade da dívida da Americanas.

A proposta da companhia determina um aumento de capital de R$ 12 bilhões por parte do trio 3G – Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles – e uma capitalização de dívidas no mesmo montante por parte dos bancos. Depois disso, e considerando que acionistas atuais não exerçam direito de preferência, os sócios de referência passarão de 30,1% para 49,3%. Os outros devem ficar 48,2%. No valor de R$ 12 bilhões a ser colocado pelo trio, já está incluso o financiamento debtor-in-possession (DIP), dos quais R$ 1,5 bilhão já foram aplicados e outros R$ 3,5 bilhões devem ser antecipados para 15 dias após a homologação do plano.

A composição do preço tem como cálculo 1,33 vezes o preço médio ponderado por volume nos últimos 60 dias de negociação. Considerando o valor de fechamento da última sexta-feira, o valor da nova emissão seria de R$ 1,30 por ação. A oferta virá ainda com bônus de subscrição, na relação de três bônus de subscrição para cada ação.

Quem converter dívida em equity também terá um lock up (uma obrigação para a permanência na base acionária) de três anos. A liberação para negociar esses papéis virá parcialmente, mas os bancos podem já vender 50% de suas ações já no dia seguinte e 5% a cada semestre, considerando os bônus de subscrição, que devems er subscritos na totalidade, de acordo com fontes próximas ouvidas pelo EXAME IN.

A capitalização faz parte da opção II da reestruturação da dívida com as instituições financeiras – na opção I, as dívidas devem sofrer um haircut de cerca de 70%. Na opção II, além da conversão do crédito em equity, R$ 6,7 bilhões são destinados para recompra de parte da dívida. Haverá, ainda uma nova emissão de debêntures da companhia no valor de R$ 1,87 bilhão.

A emissão de debêntures será em duas séries, uma prioritária e uma simples, com tranches em dólar e em real. A série prioritária será para bancos e as séries simples para credores financeiros e do mercado de capitais. Se a dívida for em dólar, receberá a debênture em dólar. A relação de troca será R$ 1 de crédito por R$ 1 de debêntures.

Já as dívidas que não forem convertidas devem sofrer um haircut de cerca de 70%. Nesse caso, os créditos devem ser pagos ao longo de 15 anos e atualizados pela TR. Também haverá leilões reversos, com limite de R$ 2 bilhões.

Ainda entre os credores financeiros, credores com valores retidos ou compensados e que oferecerem linhas de crédito à companhia, no valor de até R$ 1,39 bilhão, terão prioridade no pagamento, incluindo os recursos a serem recebidos com a venda do Hortifruti Natural da Terra e da Uni.co, dona da Imaginarium e da Puket.

Por fim, quem não aderir a nenhuma das opções, terá desconto de 80% na dívida e pagamento em 20 anos e atualização também pela TR. Já para os fornecedores, quem for colaborador (aquele que manteve volume de fornecimento no último ano), são considerados para receber uma fatia de R$ 3,7 bilhões já separada pela companhia. Fornecedores de tecnologia que também seguiram trabalhando com a empresa receberão no pagamento da parcela única de R$ 100 milhões.

Dos fornecedores, a dívida de quem não se aplica às duas condições terá deságio de 50% e pagamento em 48 vezes. Foi entre os fornecedores que surgiram a maior parte das mais de 300 perguntas da assembleia.

Na assembleia, com 446 credores presentes, apenas os credores financeiros e fornecedores votaram. Credores trabalhistas e pequenas empresas, como não tiveram condições de pagamento alteradas, não tinham direito a voto.

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