Eletrobras: privatização adiada em nome de "condições de mercado" (Paulo Whitaker/Reuters)
Karina Souza
Publicado em 29 de novembro de 2022 às 10h11.
A Eletrobras adiou o projeto de migração para o Novo Mercado, segmento de mais alta governança da B3, como anunciado em fato relevante divulgado nesta terça-feira (29). A companhia afirma que a decisão veio “em razão do atual cenário macroeconômico e das condições de mercado” e que, no ano que vem, vai voltar a analisar o momento oportuno para realizar a migração. Ainda no mesmo comunicado, a ex-estatal afirma que o Conselho de Administração começou as discussões sobre outros dois pontos ligados à governança, como o resgate de ações preferenciais classe A e a incorporação de ações de algumas de suas controladas, como Chesf e Eletronorte — pontos que ainda serão analisados em mais detalhes pela administração e consequentemente deliberados em assembleia.
O adiamento da ida ao Novo Mercado pode jogar um leve balde de água fria nas expectativas de investidores. Na época do primeiro anúncio de estudos relacionados à migração para o segmento de mais alta governança na B3 — pouco antes do segundo turno das eleições presidenciais — a expectativa de fontes ouvidas pelo EXAME IN era de que o processo andasse rapidamente, com a empresa já listada no padrão mais alto de governança no primeiro trimestre de 2023. No mais tardar, no primeiro semestre.
Há cerca de um mês, quando anunciou o início dos estudos para ir ao Novo Mercado, a Eletrobras deu destaque para o fato de que mantinha no radar um caminho eficaz para converter as ações preferenciais classe A em ordinárias, levando em consideração a baixa liquidez desse grupo, bem como estudava um bônus de 10% para transformar as ações PNB em ON. Este último ponto dividiu opiniões na época, uma vez que seria um movimento inédito no mercado de capitais brasileiro.
Do lado de quem acreditava que a compensação extra valeria a pena, estavam argumentos como o fato de que essas ações têm direito a dividendos maiores do que os das ONs e que deveriam ser trazidos a valor presente, bem como o fato de que essa classe de ações representa pouco dentro do capital social da companhia (12%), o que ‘compensaria’ este esforço para fechar o acordo com preferencialistas no menor tempo possível.
Do lado de quem acreditava que a migração deve ser feita no formato 1:1, estava o fato de que a ação ON é muito mais líquida do que a PN, bem como o recurso de tag-along, hoje não previsto nas preferenciais — mesmo sem uma perspectiva a curto prazo de troca de comando da empresa, além do direito ao voto.
Olhando de fora para a companhia, o que fontes consultadas pelo EXAME IN em outubro afirmaram — aqui, sim, em unanimidade — é que resolver esse cabo de guerra será o resultado de encontrar um meio-termo eficaz. “Nem totalmente sem bônus para os preferencialistas, nem um bônus de 10%” foi uma afirmação recorrente.
Nesse processo, segundo as fontes, o principal foco da companhia seria o de encontrar uma foma de abordar o assunto que relembre a todo tempo o horizonte positivo que será conquistado no fim desse processo, com uma governança de mais alto nível para a companhia. Traduzindo: não transformar esse processo em uma disputa entre detentores de uma ação contra os de outra, travando o andamento dessa iniciativa.
As ações preferenciais da Eletrobras, como se sabe, são negociadas a um preço mais alto do que os das ordinárias. Nesta segunda-feira (29), os papéis PN fecharam o dia cotados a R$ 48,58, enquanto os ordinários fecharam a R$ 45,72.
São 280.088.314 papéis preferenciais, ante 2.021.139.464 ordinários, segundo os dados da B3. Ainda de acordo com as informações públicas, o maior acionista das ações PN é a 3G Radar, com 10,6% dos papéis. A gestora teve um papel fundamental nas articulações para o conselho da companhia após a capitalização e, hoje, tem um de seus sócios, Pedro Batista, no conselho da companhia. Outros acionistas das ações preferenciais são o BNDESPAR (com 6,67%) e o BNDES, com (6,52%).
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