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Eleições: a boa vontade do mercado com Lula cresceu?

Casa de análise independente do Canadá, BCA Research, recomenda compra para ações brasileiras e títulos de dívida e o motivo é a política

Bolsa: alta em janeiro deixou todos intrigados sobre o que ela realmente significa (Ralph Orlowski/Reuters)

Bolsa: alta em janeiro deixou todos intrigados sobre o que ela realmente significa (Ralph Orlowski/Reuters)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 11 de fevereiro de 2022 às 07h54.

Faltando pouco mais de 230 dias para a eleição presidencial de 2022, começam as surgir os primeiros sinais de que o mercado financeiro, de ações e de dívida, pode estar construindo uma ponte com um eventual novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), que conduziu o país entre janeiro de 2003 e dezembro de 2010.

A boa vontade com essa perspectiva, seja ela puxada pelo desejo de que o mercado avance, seja pela desesperança atual, começa a surgir aqui e acolá.

Nesta quinta-feira, 10, circulou no mercado um relatório da casa canadense de análise independente BCA Research, com o seguinte título: É Lula o salvador do Brasil? Os analistas recomendam um aumento de exposição ao país, tanto na compra de ações brasileiras como de títulos de dívida. A indicação é suportada pela fé de que Lula pode vir a fazer, se vitorioso for, um governo pragmático. Na opinião deles, os ativos estão estruturalmente “baratos”.

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Por enquanto, um ato de fé. Lula, até o momento, pouco falou.  Seu silêncio tem atuado ao seu favor. Mas, conforme alguns começam a se sentir prontos a um potencial viés positivo, cresce a carência por um posicionamento mais claro e direto do Lula candidato.

As preocupações com as falas a respeito de controlar preços da Petrobras deixam sempre um gosto amargo, ainda que haja compreensão de que é necessário falar com o bolso da população. Sem contar que é mister haver clareza, na opinião do mercado financeiro, de que a ex-presidente Dilma Rousseff, sucessora de Lula até o impeachment em 2016, e o ex-ministro Guido Mantega não participariam de um possível novo governo.

O motivo de tanto se falar no tema e com tanta antecedência é porque o assunto tornou-se pauta recorrente desde o ano passado, com o aumento da inflação, a retomada do aumento na taxa de juros e as preocupações a respeito da saúde das contas públicas.

Nos comentários anônimos das conversas mais soltas com jornalistas, não faltam aqueles que começam a falar que “um governo Lula não seria uma notícia tão ruim”. Há uma frustração no ar, com o fato de o país até o momento não ter conseguido construir uma terceira via que já aparecesse forte nas pesquisas — o ex-presidente aparece com algo entre 40% e 45% das intenções e Bolsonaro oscila, em segundo lugar, com em torno de 25%.

Os comentários mais conformistas com um retorno do PT não surgem apenas entre gestores de investimento. Eles começam a aparecer entre empresários e presidentes de grandes companhias. “Se eu for pensar quando eu ganhei dinheiro, quando a economia andou..., a decisão não é muito difícil.” É uma frase recorrente do lado de quem está na produção.

Por enquanto, as falas são anônimas. Por aqui, ainda ninguém se arrisca a uma avaliação como a do BCA, lembrando que o Canadá é um investidor recorrente e otimista histórico com o Brasil desde os tempos da fundação da Light. Há bilhões e bilhões de fundos de pensão e privados canadenses aqui alocados.

Mas, nesses tempos recentes, até o acrônimo cunhado por Jim O’Neill em 2001 (há mais de 20 anos, portanto), BRICs (para o conjunto de países em desenvolvimento Brasil, Rússia, Índia e China), reapareceu em algumas rodas. “Quando você olha os BRICs, não adianta, o mais óbvio de investir continua sendo o Brasil”, diz um gestor.

Paralelamente, as críticas públicas à atual gestão estão pouco a pouco perdendo o pudor, uma vez que o tempo para execução de qualquer grande projeto liberal  — seja privatização, seja reforma — se esvai. Nessa semana, a gestora de recursos Verde, de Luis Stuhlberger, escreveu uma carta mensal forte na qual disse que os governos de Jair Bolsonaro e Dilma Rousseff são equivalentes do ponto de vista fiscal, das inseguranças criadas. Para completar o cenário, o Ministro da Economia Paulo Guedes concedeu uma entrevista ao Jornal Estado de S. Paulo na qual afirmou que faltou apoio para a agenda liberal.

A alta do Índice Bovespa este ano deixou todos intrigados se seria um começo de inflexão ou um otimismo com eleição ou uma correção do atraso do Brasil frente a outras bolsas — ou ainda, tudo junto e misturado. O fato é que o dinheiro comprador foi estrangeiro, não nacional. O investidor local “tirou o pé” das compras e diminuiu sua atuação, o que naturalmente torna o fluxo externo predominante. De tudo, sobram sempre as conclusões do maestro Tom Jobim, ao fim dessas conversas anônimas sobre política: “O Brasil não é para amadores”.

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