Sabesp: empresa fornece água para mais de 300 cidades paulistas (Sabesp/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 31 de agosto de 2023 às 19h13.
Última atualização em 18 de dezembro de 2023 às 17h12.
Na Sabesp, o que os investidores realmente querem saber é sobre a privatização. O ponto não fugiu às discussões no último Investor Day da companhia, é claro, mas o time montado por André Salcedo se esforçou para ir além da desestatização. Ações de olho em eficiência – num cenário com ou sem o Estado no controle – foram o centro da apresentação realizada nesta semana.
Da porta para dentro, o discurso é de integração e economia de custos. Faz parte dessa estratégia a construção de um novo centro de serviços integrado, que deve ficar pronto dentro de 12 meses. O racional é o de que a Sabesp opera como diferentes 'pequenas empresas' dentro de um mesmo CNPJ, algo que deve ficar para trás graças às ineficiências que esse modelo traz.
Além de a visão integrada proporcionar uma melhor compra de insumos, por exemplo, a nova área também está encarregada de diminuir perdas e automatizar o ciclo da água, o que inclui mais tecnologia no tratamento e o uso de hidrômetros com IoT (já são 223 instalados, e o objetivo é chegar a 100% nos próximos 10 anos).
Ainda de olho em custo, a companhia também anunciou que colocou em prática um plano de demissão voluntária e que busca renegociar contratos de fornecimento de energia, avaliando a entrada no mercado livre e em autogeração a partir de painéis fotovoltaicos. Serão 60 MW até 2025, somados a 100 MW via uma planta de autoprodução que deve entrar em operação no primeiro semestre de 2024. Isso, somado, cobre 12% do custo total de energia da empresa.
De olho em aumentar a arrecadação, a Sabesp colocou em prática desde julho uma campanha de renegociação de dívidas, na qual foram atendidos 170 mil clientes em atraso, com o objetivo de chegar a 250 mil até setembro. Mas, para além desse efeito, a Sabesp deu um pouco mais de detalhes a respeito do que está em jogo, hoje, em conversas com o regulador para conseguir aproveitar melhor os benefícios de uma empresa mais eficiente.
A companhia defende, por exemplo, a criação de uma nova metodologia de reconhecimento de receita que possa contemplar políticas comerciais dentro dos investimentos reconhecidos pela Arsesp (a autoridade que regula saneamento em São Paulo). Hoje, campanhas feitas pela Sabesp com grandes consumidores (descontos) não são contemplados e, a partir da mudança de visão acerca desse tema, a companhia espera recuperar R$ 420 milhões.
Para além das políticas comerciais, a Sabesp afirmou que está cada vez mais próxima do regulador, o que foi interpretado como uma tentativa de trazer uma norma mais uniforme ao longo do tempo. "Hoje, a regulação é totalmente discricionária. A Arsesp muda a cada ciclo. O que eles querem fazer é travar um pouco mais alguns pontos para trazer mais previsibilidade, de modo que o órgão esteja menos exposto aos ciclos políticos", diz um analista que acompanha o papel.
"A ideia hoje é destrinchar o regulatório e ver pontos onde a empresa não é remunerada. Há muitos buracos na tarifa, que hoje são entendidos como falhas nesse trabalho com a agência", diz um gestor comprado no papel.
Uma saída apontada como uma solução parcial para a empresa, caso a desestatização de fato aconteça -- de olho em alternativas mais rápidas do que a edição de um novo decreto -- pode estar nos novos contratos a serem firmados com os municípios. Há a possibilidade de a companhia estabelecer um benchmark de eficiência e aplicar ao longo do tempo um fator de redução, capturando uma parte dessa eficiência para si, mesmo com as regras atuais. A visão é de que isso segue o que os últimos leilões de saneamento estabeleceram e que, no fim, resultam em regras que terão de ser seguidas pela agência reguladora.
Durante o evento, o CEO ressaltou que há a expectativa de concluir a fase 1 do processo de privatização ainda em dezembro. Questionado a respeito da necessidade de aprovações da prefeitura, ele afirmou que o entendimento da empresa é de que isso não é obrigatório, seguindo o artigo 14 da Lei de Saneamento. Salcedo reforçou, ainda, que está preparado para prestar assistência aos municípios, caso tenham uma compreensão diferente.
Ao mesmo tempo que as discussões sobre privatização acontecem, o ponto de virada para companhia é, entretanto, o de mudança na regulação. Um gestor posicionado em Sabesp afirma que a companhia tem capacidade de, com as melhoras operacionais, gerar um Ebitda incremental de R$ 2 bilhões por ano dentro de dois a três anos. A valor presente, esse ganho seria de R$ 20 bilhões. Contudo, permanece a incerteza a respeito do quanto disso seráefetivamente aproveitado pela companhia em meio à política atual de reajustes tarifários.
"As melhorias têm o potencial de trazer um upside e tanto para o papel. Quanto mais eficiente, mais próxima de ser negociada a 1x EV/RAB a Sabesp pode ficar", diz. É a mesma visão de outro analista, que aponta o limite de 1x EV/RAB para a companhia na regulação atual.
Hoje, para referência, a Sabesp é negociada a cerca de 0,75 vez EV/RAB, um múltiplo que precifica o pior cenário para a companhia -- sem regulação e sem turnaround, como apontou recentemente a Miles em carta divulgada ao mercado. Nas contas da gestora, caso uma nova regra que incentive a eficiência seja colocada em prática, a companhia deveria ser negociada a um múltpli de 1,5 vez EV/RAB.