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EDP vai investir R$ 6 bilhões no Brasil até 2025

Empresa quer aumentar presença em energia solar e diminuir em hidrelétricas e termelétricas

João Marques da Cruz, CEO da EDP: foco em energia solar para atender aos consumidores de agora e aos do futuro (EDP/Divulgação)

João Marques da Cruz, CEO da EDP: foco em energia solar para atender aos consumidores de agora e aos do futuro (EDP/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 8 de novembro de 2022 às 08h00.

A EDP Brasil acredita num futuro com mais energia solar dentro do próprio portfólio, além de mais investimentos em geração e transmissão, como já vem falando a investidores desde o ano passado. Agora, a empresa traz mais números para deixar clara sua estratégia: vai investir R$ 6 bilhões no país até 2025 para capturar todo o potencial que acredita existir no Brasil. Em geração, a empresa, que hoje ainda tem 85% de sua área de geração vindo da matriz hídrica, quer reduzir esse percentual à metade, com os outros 50% vindo a partir da energia gerada a partir da luz do sol. A meta, por enquanto, é ter 1 GW de capacidade instalada de solar até 2025 (hoje, esse número é irrisório, perto de 0,1 GW). Para referência, o Brasil inteiro tinha 9 GW de capacidade instalada de energia fotovoltaica em 2021. E, na parte de geração e transmissão, o foco será o de continuar com o bom trabalho e procurar por ativos ainda mais interessantes.

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Mas, uma coisa de cada vez. Em relação à solar, a “menina dos olhos” da companhia, João Marques da Cruz, CEO da EDP, mostra que tem um foco claro ao entrar nessa nova forma de geração para a companhia. “Não queremos estar em todas as verticais de negócio. Queremos estar em poucas e com peso nelas”, diz, em entrevista ao EXAME IN. As duas verticais elencadas pelo executivo são: o modelo de geração distribuída dedicada, em que uma pequena usina é criada sob demanda para atender um único cliente. Este já tem clientes relevantes dentro da companhia, dentro dos segmentos de telecomunicações e do setor financeiro, por exemplo.

O outro modelo é chamado pela companhia de usinas remotas compartilhadas. Dedicado a pequenos comércios (por exemplo: farmácias, restaurantes, lojas de rua), que não têm um consumo suficiente para terem uma usina inteira atendendo a elas, mas podem se beneficiar ao compartilharem uma mesma usina. Hoje, para cada MW de energia produzida, cerca de 100 clientes desse porte podem ser atendidos, segundo a empresa. Em média, cada usina visada pela EDP tem de 3 a 4 MW, o que dá um total de 300 clientes por planta.

Esse é só o começo. A EDP mira o desenvolvimento cada vez maior do setor de geração distribuída no país e, é claro, quer estar preparada para atendê-lo, conforme as normas forem se aperfeiçoando. Em 2022, um primeiro passo importante para o setor foi dado, com o Marco Legal da Geração Distribuída, um ponto que trouxe mais segurança jurídica e regulatória para o mercado, que até então contava apenas com normas da Aneel. 

Um ponto relevante é que o texto prevê que consumidores que instalarem até dia 7 de janeiro de 2023 um sistema de painéis fotovoltaicos conectados à rede estarão isentos do pagamento de custos de transmissão até 2045. Quem aderir a partir dessa data e até 7 de julho do ano que vem, vai haver um “desconto” de 4,1% na energia produzida para custear a infraestrutura, um percentual que sobe anualmente até chegar a 27% em 2030. Não à toa, a EDP está acelerando os investimentos em solar desde já. 

Além da observação de perto das questões regulatórias relacionadas à energia solar, a empresa também acompanha de perto a abertura gradual do mercado livre de energia — que ainda está bem longe de chegar ao consumidor final, é verdade. Para referência, no fim de setembro, o setor elétrico teve a portaria 50/202 do Ministério de Minas e Energia aprovada, que permite aos consumidores de alta tensão comprar energia elétrica no mercado livre a partir do início de 2024. Antes, esse mercado era restrito somente a consumidores com consumo superior a 500 kW e, com a nova resolução, ficou aprovado para quem consome a partir de 2,3 kV (se antes estava restrito a grandes indústrias, agora estabelecimentos comerciais de médio ou grande porte também podem usá-la). 

Para a baixa tensão (consumidores finais, em uma simplificação) ainda há projetos de lei tramitando, como o PL 414 e o PL 1917, que seguem em tramitação na Câmara e no Senado, respectivamente. Apesar de não haver ainda uma solução clara em relação a eles, Marques mostra que a companhia quer estar preparada a atender a todos — inclusive à baixa tensão quando chegar a hora. 

“Entendemos que o segmento de PMEs é o que vai crescer mais. Quando chegar a pessoa física, queremos ter produtos de energia solar para eles, para decidirem se vão querer ter um produto solar compartilhado, comprar energia no mercado livre… Há todas essas opções. Queremos estar ativos em todas elas”, diz o CEO. 

Da teoria para a prática, a empresa está buscando terrenos no Nordeste e no Sudeste para investir em geração distribuída. A procura começa pelas regiões em que a empresa já tem presença: São Paulo e Espírito Santo. 

Além da Energia Solar

Se o foco da empresa para investimentos está na energia fotovoltaica, há um caminho a ser trilhado em desinvestimentos pela empresa. A geração hídrica é um deles, principalmente pela alta exposição às chuvas no país. No terceiro trimestre, a empresa reportou a venda da usina Mascarenhas, já dentro dessa estratégia. A operação, avaliada em R$ 1,2 bilhão, deve ser concluída até o fim do ano, segundo o CEO. 

Importante destacar que, ao menos por enquanto, as outras duas usinas hídricas (Santo Antônio do Jari e Cachoeira Caldeirão) não estão à venda, por não terem chegado a um valor que agradasse a ambas as partes, como o executivo afirmou em teleconferência com analistas. 

Um outro ponto em que a EDP quer deixar de investir é na geração termelétrica. Hoje, a empresa tem uma usina em carvão em Porto Peçanha, na qual deve deixar de ser a principal acionista a partir de 2025. Ainda assim, deve continuar administrando o local até julho de 2027 como operadora técnica, de olho em honrar o contrato com a União estabelecido até esta data. 

Investimentos em Transmissão e Distribuição 

No cronograma de investimentos da companhia, além dos investimentos em GD, a EDP também vai investir em transmissão no país. O que quer dizer, de forma clara: a empresa irá aos leilões a serem realizados em breve. O Leilão nº 2 deste ano, a ser realizado no dia 16 de dezembro, será um deles. A disciplina financeira é um ponto ressaltado pelo CEO para entrar nessas disputas, de olho em ganhar os lotes e construir neles. 

Essa é uma área em que a companhia entrou recentemente, há apenas dois anos. No ano passado, venceu o lote para construção no Acre e a privatização da CELG-T, em Goiás. De olho no futuro, além do leição de dezembro, a empresa também já analisa uma eventual presença no próximo, a ser realizado em junho de 2023.

“No Brasil, leilões de transmissão são uma ótima ideia. Fazem com que o preço seja o mais baixo possível com dinheiro que vem de empresas internacionais, além de fomentar o investimento em infraestrutura no Brasil”, diz o CEO. 

No orçamento de R$ 6 bilhões previsto para os próximos cinco anos, a empresa também vai investir em distribuição, uma área que atualmente enche o executivo de orgulho. O motivo é um relatório que mostrou a glosa (investimento que o regulador não reconhece como útil) mais baixa da história da companhia no Espírito Santo. O percentual, nas distribuidoras do estado, foi de 0,18%, o que trouxe o maior percentual de investimento útil reconhecido no país na história da EDP no Brasil, onde chegou em 1995. Além da distribuidora no Espírito Santo, a companhia também tem outra em São Paulo (em Guarulhos, Vale do Paraíba e Litoral Norte). 

Os indicadores de eficiência recentes vêm em boa hora: corroboram o discurso da companhia de boa gestão em um período próximo ao vencimento da concessão. A primeira a acabar, em 2025, é justamente a do Espírito Santo (finalizando um contrato de 30 anos). Agora, a expectativa é de conversas capazes de renovar esse prazo em uma nova concessão de 30 anos. 

“Eu acredito que as empresas que tiverem boa qualidade de serviço, como a nossa, devem ter a concessão prorrogada. Estamos muito confiantes que o governo, qualquer que fosse, prorrogaria esse prazo sem nenhum problema. Deve ser um processo a andar principalmente no ano que vem, uma vez que, caso isso realmente aconteça, o contrato tem de estar assinado em janeiro de 2024”, diz Marques.

O efeito das mudanças

Com todos os investimentos realizados, a empresa projeta aumentar de 10% a 15% o próprio Ebitda anualmente até 2025. Isso em termos reais, além da inflação. O motivo está em substituir “um Ebitda ‘tradicional’ por um novo”, segundo o CEO.  O antigo, nessa equação, é o térmico e hídrico. E, o novo, por sua vez, é o de transmissão, de energia solar e de distribuição. O saldo líquido de um e outro é o que reflete o percentual mencionado por ele na entrevista.

Nos últimos dois anos, o Ebitda da EDP cresceu 88%. O motivo da velocidade de crescimento tão alta — e que não será replicada, segundo o executivo — tem a ver com ajustes que foram feitos de 2020 para cá e que já chegaram a um ponto ideal. O primeiro é o nível operacional, que estava abaixo da média. O segundo tem a ver com a entrada em negócios de transmissão, que inaugurou uma importante avenida de crescimento. E, por fim, o solar, que começou a ganhar tração há pouquíssimo tempo e que, portanto, também apresenta um crescimento percentual na comparação com dois anos atrás. Nos resultados do terceiro trimestre, o Ebitda da companhia foi de R$ 1,3 bilhão, alta de 16,9% na comparação anual. 

No fim de tudo, a EDP busca reformular a própria estrutura para se preparar para o crescimento ao longo dos próximos anos. A subsidiária da empresa portuguesa quer mostrar que é possível aproveitar tudo que o Brasil pode oferecer de melhor e que poderá, ao fim de todo esse processo, fincar os pés no país com uma presença nacional mais sustentável.

 

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