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É o fiscal, estúpido! UBS vê câmbio a R$ 4,30 em cenário de confiança retomada

Estudo do banco mostra que questões internas impedem o real de ganhar força, num momento de enfraquecimento global do dólar

Solange Srour, do UBS: "Sinalização clara de compromisso com o ajuste fiscalpode abrir espaço para que o real atravesse um período especialmente favorável" (UBS/Divulgação)

Solange Srour, do UBS: "Sinalização clara de compromisso com o ajuste fiscalpode abrir espaço para que o real atravesse um período especialmente favorável" (UBS/Divulgação)

Publicado em 18 de julho de 2025 às 16h18.

Última atualização em 18 de julho de 2025 às 16h27.

“Deus inventou o câmbio para humilhar os economistas”, já disse Edmar Bacha, numa frase que virou praticamente um ditado entre economistas por mostrar como é difícil prever a direção das moedas.

Mas o UBS não se intimidou e fez um interessante estudo para separar o que é efeito do cenário externo e o que é efeito do cenário doméstico no câmbio brasileiro.

A conclusão: se consideradas apenas as variáveis externas – que incluem uma tendência global de enfraquecimento do dólar –, o real poderia ir a R$ 4,30, quase 30% abaixo do valor em que é negociado hoje.

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Não se trata de uma tentativa de cravar os números, mas de apontar as tendências.  “Isso mostra que grande parte da depreciação recente está relacionada a fatores domésticos e ao prêmio de risco específico do Brasil”, escreveu a economista-chefe do banco, Solange Srur, ferrenha defensora da importância da âncora fiscal.

A economista começa com uma análise mais qualitativa, mostrando como episódios de melhora fiscal no Brasil (entre 2003 e 2005) e Colômbia (de 2003 a 2010) foram acompanhados rapidamente por um re-rating da moeda.

"Outro momento relevante de apreciação ocorreu no final do governo Dilma, quando o mercado passou a antecipar uma possível melhora do ambiente fiscal diante da perspectiva de troca de governo", relembra Srour. No pós-pandemia, com uma melhora na relação entre dívida e PIB, o real também se valorizou.

Nas contas do banco, o real efetivo – que leva em conta diferencial de inflação além da evolução da taxa de câmbio – ainda está 20% abaixo da média histórica dos últimos 30 anos, uma mostra de como a moeda brasileira está desvalorizada.  Entre emergentes, apenas as moedas de Argentina e Turquia tem um desempenho pior do que esse no período.

Partindo para as contas, um modelo econométrico mostrou que, combinando fatores internos e externos, o preço-justo para o dólar seria de R$ 5,28 ao fim de junho, abaixo do valor que a moeda fechou efetivamente o mês R$ 5,43 – o que mostra um “prêmio idiossincrático elevado”. Isolando apenas os fatores externos, a equipe chegou ao valor justo de R$ 4,30.

Srour conclui: “Atualmente vivemos um contexto de dólar mais fraco e, se esse cenário persistir, uma sinalização clara de compromisso com o ajuste fiscal por parte da próxima administração federal pode abrir espaço para que o real atravesse um período especialmente favorável.”

Em outras palavras (menos polidas): é o fiscal, estúpido!

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