Dotz: 9 milhões de usuários ativos em 2020, com movimentação de R$ 23 bilhões (Dotz/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 26 de maio de 2021 às 08h52.
Última atualização em 28 de maio de 2021 às 09h11.
Tem sido suado, mas a Dotz, dos irmãos Chade, vai conseguir garantir sua estreia no pregão da B3. A operação vai sair como oferta restrita e pela metade das pretensões originais. O valor total deve ficar pouco acima de R$ 400 milhões. Além disso, nada de secundária. A captação será toda primária. Inicialmente, a companhia planejava um volume que poderia superar R$ 800 milhões.
Mas a vida não está simples para nenhuma empresa ligada à tecnologia, num momento em que o mundo só quer discutir inflação e commodities. No caso da Dotz, que nasceu como um negócio de fidelidade e bastante dependente da indústria de milhagem, o cenário é mais desafiador.
Ainda assim, a lista de âncoras estrelados permanece: Ant Financial, braço financeiro da gigante chinesa Alibaba, Softbank, Velt e Farallon. O que as quatro estão colocando deve representar entre 50% e 70% da captação total. Mas, de acordo com informações de pessoas próximas à transação, no tamanho atual, já está tudo vendido.
No caso da Dotz, uma questão dominou os debates com investidores. Algo nevrálgico: o futuro da operação. A companhia vinha perdendo receita, uma vez que seu negócio principal, milhagem, tinha custo crescente, atrelado ao dólar. A margem também estava cada vez mais espremida.
Então, os recursos da oferta são essenciais para a empresa, na verdade, colocar de pé a reforma da sua estratégia com duas frentes novas: um market-place de produtos e outro, de serviços financeiros. A grande questão é que são duas das atividades mais badaladas e, por isso mesmo, mais concorridas da atualidade. Todos os dias são diversas notícias de dinheito irrigando fintechs e de mais e mais negócios aproveitando sua própria estrutura de comércio eletrônico para inaugurar um market-place para chamar de seu.
Em 2020, a Dotz teve 9 milhões de clientes ativos que movimentaram um total de R$ 23 bilhões. A empresa quer usar essa base para alavancar as outras frentes.
Esse novo modelo de negócios contou apoio ativo da Farallon, que mantém sua aposta como uma das âncoras da oferta. A gestora de recursos, que tem Daniel Goldberg como maestro para as transações na América Latina, participa do conselho da empresa desde 2019. Para a casa, um bom negócio.
A gestora dedicada a oportunidades que o mercado chama de "special situation" foi fundamental para a Dotz. As companhias de tecnologia — mesmo quando não são startups de tenra idade — não têm os grandes bancos fazendo fila para fornecer crédito. Em especial, quando precisam de estruturas que sejam conversíveis ou multi-possibilidades, como normalmente é a vida no capital de risco.
Para isso, existe a Farallon e um número limitado de gestoras. A lista é menor ainda se considerar quem tem disposição para contribuir de verdade, com algum empenho, além de cifrões.
Em outubro de 2019, os irmãos Chade precisavam de dinheiro para iniciar os ajustes, mas não queriam ser diluídos no tanto necessário se tivessem que acessar um venture capital tradicional. Então, emitiram uma debênture conversível. A Farallon comprou e colocou R$ 82,5 milhões na empresa.
Com a oferta agora, a gestora leva para casa R$ 130 milhões e mais um tanto em participação na Dotz, ou seja, continua investida. Essa era a condição no prospecto original da operação. Não está claro se há algum tipo de ajuste no contrato após as alterações. Mas o fato de parte do dinheiro de um dos âncoras, de maneira "simplista", voltar para si próprio causou certo desânimo entre alguns investidores de mercado. Junto com isso, o uso de uma captação primária para quitar dívida, quando a expectativa do mercado é que dinheiro novo para startups seja essencialmente revertido para crescimento.
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