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Dólar ameaça romper R$ 5, menor nível em um ano

Câmbio pode declinar a R$ 4,70 com discussão benigna sobre Orçamento e manutenção de estímulos pelo Fed, ou voltar a R$ 5,60 com maior risco fiscal

Discussão sobre “normalização parcial” da política monetária ganha fôlego com dólar menor (Adrienne Bresnahan/Getty Images)

Discussão sobre “normalização parcial” da política monetária ganha fôlego com dólar menor (Adrienne Bresnahan/Getty Images)

AB

Angela Bittencourt

Publicado em 7 de junho de 2021 às 18h14.

Grandes alegrias quase sempre dependem de pouco esforço. Brotam em coisas miúdas que, comemoradas, se agigantam e rompem barreiras. Basta um tropeção para que o dólar deslize abaixo de R$ 5 nesta semana. Algo a comemorar. A última vez que o dólar esteve abaixo de R$ 5, precisamente a R$ 4,88, foi há um ano – 10 de junho do ano passado. Não é certo que um patamar mais baixo de negociação vai durar. Mas não dá para apostar que não. Nesta segunda-feira, o dólar oscilou entre R$ 5,03 e R$ 5,04. O real mais fortalecido nos últimos dias não está impedindo que os investidores estrangeiros continuem apostando na bolsa brasileira. Em dois dias de negócios em junho, eles injetaram R$ 3,9 bilhões em ações negociadas na B3. No ano, o ingresso líquido supera R$ 35 bilhões.

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, que mantém previsão de taxa de câmbio a R$ 5,10 para o fim deste ano, considera a possibilidade de o dólar recuar a R$ 4,70 ou avançar a R$ 5,60 a depender de três variáveis: perspectiva de risco fiscal, risco hidrológico e da posição do Federal Reserve (Fed) sobre a redução dos estímulos monetários. “É um dilema projetar câmbio porque a distribuição de eventos que podem afetar a taxa está bimodal”, diz Honorato ao EXAME IN.

“De um lado, se a discussão no Congresso sobre o Orçamento de 2022 for ruim, em agosto e setembro com risco de ruptura do teto de gastos, e esse momento coincida com o Fed reduzindo os estímulos, além de riscos hidrológicos aqui, o câmbio pode facilmente pular para R$ 5,60. De outro lado, se o PIB avançar 5% este ano, sem risco fiscal e com o Fed mantendo os estímulos, o câmbio pode voltar a R$ 4,60 ou R$ 4,70. No cenário mais benigno, o câmbio não será os R$ 5,10 para dezembro que projetamos hoje. E a necessidade de o BC normalizar [plenamente] a política monetária tende a diminuir porque a inflação será impactada por esse câmbio mais baixo”, diz o economista.

No modelo de projeções utilizado pelo BC, explica Honorato, taxa de câmbio a R$ 4,70 vai sugerir Selic de 5,25% no fim desde ano, “com o BC entregando inflação na meta em 2022 e com Selic 1,25 ponto percentual abaixo da ‘normalização plena’ da política monetária”.

Para Fernando Honorato, a expressão “normalização parcial” da política monetária deve ser mantida pelo Copom que se reúne em 15 e 16 de junho. “Entendo que o Copom, quando trata de ‘normalização parcial’ está sendo apenas transparente com o mercado, mas o BC não tem o compromisso de ser parcial. Ele está dizendo que no seu melhor esforço de projeção, com Selic em 6,50% ao ano a inflação fica abaixo do centro da meta em 2023 (...). Creio que essa avaliação ainda será verdade na semana que vem, ainda que o BC considera expansão do PIB de 4,50% ou 4,70%.”

O Bradesco trabalha com Selic a 5,75% neste ano e a 6,50% ao final de 2022, vindo de projeções de 5,25% e 6,25%, respectivamente. “O ajuste ocorreu pela inflação mais persistente, mas a variável câmbio faz diferença”, diz o economista.

Única instituição que, em pesquisa da Bloomberg acertou em cheio a previsão de expansão do PIB de 1,2% no primeiro trimestre, na comparação com o período anterior, o Bradesco elevou de 3,9% para 4,8% sua projeção de crescimento para este ano. Para 2022, a perspectiva se mantém em 2% desde dezembro passado. “Não alteramos essa projeção porque estamos vendo uma retomada cíclica da atividade, muito concentrada neste ano pela abertura ligada ao avanço das vacinas contra a Covid-19 e a economia voltando à normalidade. Esse impulso não haverá em 2022”, diz.

Em sua avaliação, a grande surpresa do primeiro trimestre foi a resiliência da economia ao choque de Covid. Ele pondera que a pandemia teve pouco efeito econômico. “Empresas e famílias aprenderam a lidar com a pandemia. Na prática, a restrição à mobilidade foi pequena. Outra surpresa que tem a ver com a revisão para o crescimento global. O mundo passou por um processo semelhante ao nosso [uma visão mais pessimista e revisão para cima].”

O economista-chefe do Bradesco pondera que, embora o PIB possa avançar acima de 5% este ano, a instituição não está com essa projeção por não considerar a dinâmica da pandemia algo dominado e que ainda pode ter algum reflexo na economia. Ele alerta sobre o nível dos reservatórios, baixo o suficiente a ponto de as usinas térmicas operarem a plena capacidade quase o ano todo – o que retira pontos do PIB nos cálculos do IBGE. Honorato não acredita, porém, em racionamento de energia.

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