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Diversificação e celulose fluff: o que está por trás da oferta da Suzano pela International Paper

Timing e valor da oferta, de US$ 15 bilhões, pegaram o mercado de surpresa; ações despencaram 12,5%

Suzano: companhia confirmou interesse na International Paper em maio (Germano Lüders/Exame)

Suzano: companhia confirmou interesse na International Paper em maio (Germano Lüders/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 7 de maio de 2024 às 17h34.

Última atualização em 7 de maio de 2024 às 21h43.

A Suzano fez uma oferta de US$ 15 bilhões pela International Paper, segundo noticiado hoje pela manhã com exclusividade pela Reuters. A notícia pegou o mercado de surpresa e o papel fechou em queda de 12,5%, nas mínimas do dia. Procurada, a companhia disse que “não comenta rumores de mercado”.

Uma fonte ouvida pelo INSIGHT confirmou as conversas entre as companhias.

Entre os investidores, a principal questão é o tamanho da transação: a proposta é praticamente equivalente ao valor de mercado da Suzano, o que marcaria uma junção de iguais, a ser feita, ainda de acordo com a Reuters, integralmente em cash. A empresa brasileira já está em conversa com bancos para uma linha de financiamento para a transação.

O grande ponto para os investidores é que a transação muda completamente a narrativa de desalavancagem da companhia.

A Suzano está na fase final de conclusão do Projeto Cerrado, uma nova fábrica em Ribas de Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul, que deve expandir uma capacidade de produção de celulose em cerca de 25% e consumiu R$ 22 bilhões em investimentos.

A expectativa era de que a companhia, que tem uma dívida líquida de US$ 11,5 bilhões no fim de 2023, equivalente a 3,1 vezes seu Ebitda, finalmente tivesse algum alívio financeiro.

O que é uma questão para o mercado, na verdade, é o que dá mais conforto para a Suzano fazer a oferta, aponta uma fonte próxima à companhia. “O fim do ciclo de investimento no Projeto Cerrado vai aumentar bastante a geração de caixa e abre espaço para outras frentes de geração de valor”.

Nas contas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), a alavancagem da empresa combinada iria para um pouco mais de 4 vezes Ebitda. É um valor alto, mas “gerenciável”, diz o banco.

A Suzano sempre sinalizou a intenção de internacionalizar suas operações. No mercado, a expectativa era de movimentos mais graduais, por meio de aquisições menores.

Mas a International Paper é um ativo único, com capacidade de dar presença global à Suzano – uma “fazedora de impérios”, como colocou um gestor, que saiu de uma pequena fábrica de papel no bairro do Ipiranga, em São Paulo, há 100 anos, para um gigante global de celulose, que ganhou ainda mais musculatura com a fusão com a Fibria, em 2018.

A International Paper marcaria a entrada da Suzano no segmento de papelão ondulado e a oferta acontece num momento de reacomodação do mercado de papel e celulose, após o boom do e-commerce na pandemia.

No ano passado, por exemplo, a irlandesa Smurfit Kappa se uniu com a americana WestRock numa transação de mais de US$ 20 bilhões que deve ser concluída neste semestre.

No mês passado, a própria International Paper anunciou a compra da britânica DS Smith por US$ 7,2 bilhões. A oferta da Suzano vem com a exigência de que essa fusão seja cancelada.

A International Paper é líder no mercado americano de embalagens, com mais de 30% de participação. Tem 28 fábricas de celulose, papel e embalagens, além de 200 unidades de conversão de caixas de papelão e 18 unidades de reciclagem, em dez países fora dos Estados Unidos.

Nos últimos anos, a companhia vem reduzindo sua participação no segmento de papel para imprimir e escrever, com a cisão dos ativos dessa área, incluindo as fábricas brasileiras – vendidas para a Klabin – em uma nova companhia, batizada de Sylvamo.

Além da presença global em embalagens, a IP é forte na celulose fluff, uma das prioridades estratégicas da Suzano nos últimos anos. Esse tipo de celulose, usado em itens absorventes como fraldas e absorventes, vem crescendo a taxas mais elevadas que o restante do mercado e opera com prêmio em relação à celulose usada para papel.

Entre os pontos questionados pelo mercado, estão os enormes riscos de execução, num momento de troca de comando.

Walter Schalka, que estava há mais de dez anos no comando, está deixando o posto e será substituído em 1º de julho por João Alberto Fernandez de Abreu, executivo que até o começo do ano comandava a Rumo, de ferrovias.

O mercado tenta digerir ainda o preço que foi oferecido. Ainda nos cálculos do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), nos preços reportados, a Suzano pagaria um múltiplo de sete a oito vezes o Ebitda estimado para a International Paper em 2025.

É um número acima do que a empresa brasileira negocia em bolsa, na casa de cinco vezes.

Segundo a Reuters, como é de praxe, a International Paper já sinalizou que não deve aceitar a oferta a esses preços – sinalizando que, para fechar negócio, a Suzano pode ter de desembolsar mais.

A proposta de US$ 15 bilhões representa um valor de US$ 42 por ação, um prêmio de 15% em relação à cotação de fechamento de ontem da empresa na Nasdaq.

A ver o apetite da brasileira, especialmente após a reação do mercado. Só hoje, a Suzano perdeu quase R$ 10 bilhões em valor de mercado e está avaliada em US$ 13 bilhões.

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